ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Ponto de Vista Atualização do Impacto do Consumo de Ovos de Galinha Inteiros no Perfil Lipídico: Até que Ponto são Impactantes? Update of the Impact of Consumption of Whole Chicken Eggs on the Lipid Profile: to What Extent are They Impacting? Heitor Oliveira Santos Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, MG - Brasil Correspondência: Heitor Oliveira Santos • Av. Pará, 1720. CEP 38400-902, Uberlândia, MG – Brasil E-mail: heitoroliveirasantos@gmail.com Artigo recebido em 10/07/2017, revisado em 02/09/2017, aceito em 28/09/2017 Palavras-chave Colesterol / química, Ovos / utilização, Proteínas do Ovo, Proteínas Dietéticas do Ovo, Antioxidantes. DOI: 10.5935/abc.20180092 Introdução A literatura mais antiga (meados de 1980-1990) mostra que o aumento da ingestão de colesterol dietético pode aumentar o colesterol total sérico e a LDL. 1,2 Já, alguns posicionamentos mais atuais questionam a recomendação da ingestão diária de colesterol, assim como o impacto do ovo de galinha inteiro, indagando se é um alimento de classificação maléfica ou benéfica nesse âmbito. 3,4 No meio de temas controversos, é primordial analisar variáveis, como o consumo alimentar no geral e o quanto a ingestão do colesterol dietético é impactante nos parâmetros do perfil lipídico, assim obtendo uma informação mais fidedigna, principalmente quando o foco é a conduta clínica. Um dos alimentos mais conhecidos por conter colesterol é o ovo, e é na gema que o colesterol se concentra. O ovo de galinha é omais consumidomundialmente, sendo um alimento de preço acessível, sobretudo, de cocção prática e bom perfil nutricional. 3 Dentre os tipos de cocções, destaca-se o ovo frito, mexido, cozido, pochê, assado, na forma de omelete e suflês, além de ser um ingrediente de diversas preparações. Os aspectos nutritivos do ovo de galinha são amplos. É uma fonte rica em proteínas de alto valor biológico, gorduras insaturadas, vitaminas lipossolúveis (principalmente vitamina A e E), vitamina B12 e componentes antioxidantes. 3 Surgiram estudos de grande caráter amostral, exibindo ajustes interessantes através da ingestão de ovos de galinha. Dados provenientes de metodologia observacional e intervenção em humanos respaldam as novas pesquisas. 5,6 Dessa forma, procurou-se analisar qual é o impacto da ingestão de ovos de galinha inteiros no perfil lipídico a partir de estudos mais antigos e recentes. Estudos pré-estabelecidos: discussão de pesquisas em meados dos anos 2000 Em 2000, baseado em um levantamento de 167 estudos que abrangeu a ingestão do colesterol em mais de 4000 indivíduos, McNamara 7 mostrou que a cada 100 mg da ingestão do colesterol dietético o colesterol total no plasma variou em apenas 2,2 mg/dL. Uma unidade de ovo de galinha inteiro (~50 g) contém um teor de colesterol equivalente à quantidade analisada no estudo de McNamara, 7 apresentando aproximadamente 100-150mg de colesterol, 8 portanto, podendo ser um dos principais alimentos que proporcionou o aumento da ingestão de colesterol dietético. 7,8 No tocante a lipoproteínas LDL e HDL, a adição de 100mg de colesterol por dia provindo da dieta na população geral de McNamara 7 aumentou os níveis da LDL em 1,9 mg/dL e HDL em 0,4 mg/dL. Não obstante, a média da alteração da proporção de LDL:HDL por 100 mg de colesterol dietético diário nos pacientes foi de 2,60 para 2,61, ou seja, ambos valores, literalmente, ínfimos para desfecho de problemas cardiovasculares, como placa de ateroma e acidente vascular cerebral. 7 McNamara 7 também mostra a relação da resposta ao colesterol dietético perante a heterogeneidade, cuja as pessoas são divididas emhiper-responsivas e hipo-responsivas. Segundo o autor, 15% a 25% da população é sensível para o colesterol da dieta, na qual ocorre aumento genético da produção de apolipoproteína E4 e apolipoproteína B. Todavia, o impacto da ingestão de colesterol dietético diário a cada 100 mg aumentou apenas 1,4 mg/dL dos níveis de colesterol total nos indivíduos hipo‑responsivos e 3,9 mg/dL nos hiper-responsivos. 7 No entanto, McNamara 7 não enfatiza se o principal alimento responsável pelo colesterol dietético foi o ovo de galinha. Um tema a analisar é a resposta do perfil lipídico de pacientes com dislipidemia à ingestão de ovos. Em 1997, Knopp et al., 9 já tinham dados para essa questão. Knopp et al., 9 realizaram um estudo muito bem controlado envolvendo um total de 130 pacientes comhipercolesterolemia e hiperlipidemia combinada. Por seis semanas empregou-se uma dieta baseada nas recomendações tradicionais como um todo, e a partir desse período randomizaram os pacientes a receberem dois ovos de galinha inteiros diariamente por semana ou no máximo um ovo de galinha inteiro por semana, tendo duração de 12 semanas. Analisaram o perfil lipídico antes e após a intervenção e observaram que os pacientes com hipercolesterolemia que consumiram dois ovos diários aumentaram a média dos níveis da HDL de 48 para 52 ng/dL (p = 0,003), ao passo que não alterou outros marcadores, tais como, LDL, colesterol total, VLDL e apolipoproteína B. Por outro lado, os pacientes com hiperlipidemia combinada que consumiram dois ovos por dia aumentaram em média o colesterol total de 238 para 250 ng/dL 585

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