ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Artigo de Revisão Ultrassom Pulmonar em Pacientes com Insuficiência Cardíaca - Revisão Sistemática Pulmonary Ultrasound in Patients with Heart Failure - Systematic Review Rafael Tostes Muniz, 1,2 Evandro Tinoco Mesquita, 1 Celso Vale Souza Junior, 2 Wolney de Andrade Martins 1,2 Programa de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal Fluminense (UFF), 1 Niterói, RJ - Brasil Complexo Hospitalar de Niterói, 2 Niterói, RJ – Brasil Palavras-chave Insuficiência Cardíaca; Congestão Pulmonar; Água Extravascular Pulmonar; Pulmão / diagnóstico por imagem; Ultrassonografia; Pulmão / radiografia. Correspondência: Rafael Tostes Muniz • Hospital Universitário Antônio Pedro - Rua Marques de Paraná, 330, 4º andar - prédio anexo. CEP 24240-670, Niterói, RJ - Brasil E-mail: dr.rtmuniz@gmail.com Artigo recebido em 14/11/2017, revisado em 13/03/2018, aceito em 21/03/2018 DOI: 10.5935/abc.20180097 Resumo A congestão pulmonar é um achado clínico importante em paciente com insuficiência cardíaca (IC). Exame físico e radiografia do tórax têm acurácia limitada na detecção da congestão. A ultrassonografia pulmonar (UP) vem sendo incorporada à prática clínica na avaliação da congestão pulmonar. Este artigo teve como objetivo realizar revisão sistemática sobre a utilização da UP em pacientes com IC, nos diferentes cenários. Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados MEDLINE e LILACS no mês de fevereiro de 2017 envolvendo artigos publicados entre 2006 e 2016. Foram encontrados 26 artigos na presente revisão, 11 deles no cenário da emergência e 7 em cenário ambulatorial, com valor diagnóstico e prognóstico definido e valor terapêutico pouco estudado. A UP aumentou a acurácia em 90% em relação ao exame físico e à radiografia do tórax para o diagnóstico da congestão, sendo mais sensível e precoce. A qualificação do executor da UP não interferiu na acurácia diagnóstica. O achado de linhas B ≥ 15 teve correlação com BNP elevado (≥ 500) e relação E/e’ ≥ 15, com impacto prognóstico em pacientes com IC ambulatoriais e na alta hospitalar. Conclui-se que, na avaliação da congestão pulmonar na IC, a UP tem valor incremental na abordagem diagnóstica e prognóstica em todos os cenários encontrados. Introdução A insuficiência cardíaca (IC) é uma das principais causas de hospitalização em adultos no Brasil. O registro BREATHE é o primeiro a incluir uma ampla amostra de pacientes hospitalizados com IC descompensada de diferentes regiões do Brasil, 1 sendo a primeira causa de hospitalização em pacientes acima de 65 anos, 2 um quarto dos quais é re‑hospitalizado em 30 dias. 3 Na Europa, 44% dos pacientes com IC são re-hospitalizados pelo menos uma vez em 12 meses. 4 A dispneia aguda ou progressiva devido a congestão pulmonar é o principal fator para os pacientes procurarem atendimento nas emergências. 5 A congestão subclínica está associada a um pior desfecho clínico. 3,4 O exame físico e a radiografia do tórax são amplamente utilizados pelos emergencistas; mostram-se, entretanto, de baixa acurácia para o diagnóstico da congestão pulmonar. Ademais, a radiografia do tórax frequentemente depende da avaliação do radiologista, o que atrasa a tomada de decisão. 6 A ultrassonografia pulmonar (UP) foi anteriormente tida como de baixa utilidade clínica em livros textos clássicos de cardiologia. 5 Entretanto, há cerca de 20 anos, com o trabalho de Daniel Lichtenstein em 1997, 6 a UP passou a ser amplamente estudada na avaliação da síndrome intersticial alveolar, a qual engloba a congestão pulmonar de origem cardíaca, 6 nos cenários de terapia intensiva e sala de emergência, assim como em pacientes internados, na pré-alta hospitalar e nos pacientes ambulatoriais com IC. A principal aplicação da UP para o cardiologista é a avaliação das linhas B. 7-9 A análise da linha B - sinal do cometa - permitiu a detecção de síndrome alveolar intersticial e o acesso à água pulmonar extravascular. 6,7 As linhas B são descritas com um artefato de reverberação hiperecoica semelhante ao feixe de laser vertical, que se origina da linha pleural, estende-se para a parte inferior da tela sem desvanecimento e move-se de forma sincrônica com o deslizamento do pulmão. 10 Várias linhas B estão presentes na congestão pulmonar e podem auxiliar na detecção, semiquantificação e monitorização da água pulmonar extravascular, no diagnóstico diferencial de dispneia e na estratificação prognóstica de IC crônica e aguda. 6,11 É considerado como zona ou campo positivo quando se identificam três ou mais linhas B. 7,10,12 Metodologias diferentes têm sido aplicadas à UP para a análise das linhas B, desde o cenário pré-hospitalar, onde se avaliam 2 campos pulmonares apenas 13,14 até avaliações mais detalhadas com 28 campos, conforme descrito por Jambrik 12,15 (Figura 1). No entanto, a maioria dos trabalhos usou a metodologia de 8 campos conforme a Figura 2. A UP tem se mostrado de melhor acurácia que o exame físico e a radiografia pulmonar para o diagnóstico de congestão pulmonar, mesmo quando realizada por médicos poucos experientes no método ou por médicos não radiologistas. 16,17 Esse método agrega valor aos neuropeptídeos [peptídeo natriurético tipo B (BNP) e NTpró-BNP] no diagnóstico, 18 prognóstico e tratamento dos pacientes com IC descompensada. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática acerca da utilização da UP em pacientes com IC 577

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