ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Artigo Original Soares et al Risco cardiovascular em uma população indígena Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):542-550 Tabela 1 – Médias e desvios padrão dos indicadores de risco cardiovascular, segundo sexo, na população adulta Xavante das Reservas Indígenas de São Marcos e Sangradouro – MT, 2008-2012 Variáveis Média ± DP Valor de p* Total Feminino Masculino Idade (anos) 42,8 ± 19,2 42,5 ± 19,4 43,2 ± 19,0 0,586 Colesterol total (mg/dl) 146,4 ± 43,1 146,8 ± 43,2 146,0 ± 43,0 0,757 HDL-colesterol (mg/dl) 38,9 ± 8,0 40,6 ± 8,2 37,1 ± 7,5 < 0,001 LDL-colesterol (mg/dl) 70,4 ± 24,6 70,0 ± 23,3 70,8 ± 26,0 0,621 Triglicérides (mg/dl) 199,1 ± 171,2 196,4 ± 180,0 202,1 ± 161,7 0,615 Índice de Castelli I (CT/HDL-c) 3,9 ± 1,3 3,7 ± 1,3 4,0 ± 1,3 < 0,001 Índice de Castelli II (LDL-c/HDL-c) 1,8 ± 0,7 1,8 ± 0,6 2,0 ± 0,8 < 0,001 Razão TG/HDL-C 5,4 ± 5,1 5,2 ± 5,3 5,7 ± 4,8 0,107 Escore de Risco de Framingham 5,7 ± 6,5 5,1 ± 6,8 6,3 ± 6,1 0,006 Apo B (mg/dl) 72,9 ± 18,9 73,2 ± 17,8 72,5 ± 17,9 0,577 Apo A1 (mg/dl) 106,8 ± 4,7 110,1 ± 14,4 103,4 ± 14,1 < 0,001 Relação ApoB/ApoA1 0,69 ± 0,18 0,67 ± 0,16 0,71 ± 0,18 0,001 Proteína C reativa 6,1 ± 11,6 6,3 ± 12,7 5,8 ± 10,3 0,543 Circunferência da cintura (cm) 97,3 ± 10,9 98,6 ± 11,1 95,9 ± 10,4 < 0,001 IMC (kg/m 2 ) 30,3 ± 5,1 30,7 ± 5,6 29,9 ± 4,6 0,011 Glicemia inicial (mg/dL) 152,5 ± 104,9 163,7 ± 112,4 140,8 ± 95,3 0,001 Glicemia 2ª hora (mg/dL) 148,9 ± 51,8 158,6 ± 49,0 140,2 ± 52,8 < 0,001 Pressão arterial diastólica (mm/Hg) 72,7 ± 10,8 71,5 ± 10,6 74,0 ± 10,9 < 0,001 Pressão arterial sistólica (mm/Hg) 122,3 ± 17,4 119,7 ± 18,4 125,1 ± 15,8 < 0,001 * Teste t de Student; TG: triglicerídeos; CT: colesterol total; HDL: lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; IMC: índice de massa corporal. direta da aterosclerose ou se são apenas marcadores de outras condições de risco. 18 Apenas um pequeno percentual dos Xavante apresentou níveis elevados de CT e LDL-c. Por outro lado, níveis elevados de TG e níveis baixos de HDL-c foram bastante frequentes entre os Xavante, assim como em outras populações indígenas. 19,20 O índice de Castelli I (CT/HDL-c), o índice de Castelli II (LDL-c/HDL-c) e a razão TG/HDL-c tê m sido utilizados para avaliar a influência combinada de fatores de risco cardiovascular. 8,9 Não foram verificados percentuais elevados de risco cardiovascular aumentado entre os Xavante, segundo os índices de Castelli I e II. Por outro lado, 49,1% das mulheres e 60,0% dos homens apresentaram razão TG/HDL-c indicativa de risco, o que reforça a existência de altos níveis de TG e baixos de HDL-c entre os Xavante. Atualmente, os níveis plasmáticos das apolipoproteínas A1 e B e o índice apo B/apo A1 tê m sido descritos como melhores preditores de risco cardiovascular do que as concentrações de lipídios e lipoproteínas e os índices de Castelli I e II. 21,22 As apolipoproteínas são componentes estruturais e funcionais das lipoproteínas. A apo A1 faz parte da fração lipídica não aterogênica (HDL-c) e a apo B das frações lipídicas aterogênicas (Quilomicrons, LDL, IDL e VLDL). Assim, o índice apo B/apo A1 representa o balanço entre lipoproteínas aterogênicas e antiaterogênicas. 21,22 Níveis elevados de apo B, níveis reduzidos de apo A1 e aumento do índice apo B/apo A1 têm sido consistentemente associados ao risco de DCVs. 22 Entre os Xavantes, 12,2% das mulheres e 9,3% dos homens apresentaram valores de índice apo B/apo A1 condizente com risco cardiovascular. Não foramencontrados estudos comoutras populações indígenas que avaliaram esse indicador. Um outro indicador avaliado foi a PCR, uma proteína de fase aguda que aparece na circulação em resposta às citocinas inflamatórias, e serve como um biomarcador de inflamação sistêmica. Estudos mostram associação entre níveis elevados de PCR e doença coronariana e acidente vascular cerebral, mesmo na ausência de dislipidemias. 14 A proximadamente metade dos Xavante apresentou valores de PCR condizentes com alto risco cardiovascular. No entanto, é preciso cautela na interpretação desses dados, porque outras doenças inflamatórias podem também aumentar a PCR. Em populações indígenas, dentre elas os Xavante, doenças infecciosas e parasitárias são bastante comuns, o que pode influenciar os resultados. O escore de Framingham é um dos algoritmos existentes para a identificação do risco de desenvolvimento de DCV. 11 No presente estudo, 15,2% dos homens e 5,7% das mulheres apresentaram alto risco de desenvolver DCVs nos próximos 10 anos, segundo esse escore. E mbora o escore tenha sido desenvolvido para indivíduos com idade igual ou superior a 30 anos, no presente estudo optou-se por não excluir os indígenas de 20 a 29 anos, que representavam 28,0% 545

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