ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Artigo Original Nascimento et al Doenças Cardiovasculares em Países de Língua Portuguesa Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):500-511 por similaridades geográficas e etnolinguísticas. 28 Também foi observado que, nas populações europeias, similaridades linguísticas se mostraram melhores preditores das diferenças genômicas, quando comparadas às diferenças geográficas. 29 As complexas interações genéticas com os fatores ambientais e sociodemográficos poderão nos ajudar no entendimento da ocorrência heterogênea das DCV. 30 Ainda que a qualidade da completude dos dados coletados e estimados tenha variado entre os diferentes PLP, houve melhora evolutiva nos anos mais recentes da série temporal, 4 apontando para a importância de investimento nos sistemas nacionais de registros vitais e de autopsia verbal para o entendimento da carga das DCV nesses países. Limitações e forças As limitações dos modelos analíticos do estudo GBD foram detalhadamente discutidas previamente. 4-6,8 Apesar da melhora progressiva na completude dos dados de prevalência e morbidade em alguns PLP, as estimativas do estudo GBD 2016 indicam que a integridade e a qualidade desses dados têm ampla heterogeneidade. Como exemplo, a cobertura dos dados sobre óbitos é superior a 95% em países como Brasil e Portugal, contrastando com índices muito baixos ou dados inexistentes de PLP da ASS. 4,8 É possível ter ocorrido uma inadequação dos modelos do estudo GBD para os diferentes países em alguns grupos dedoenças, sobretudoaquelas nãonotificáveis e sobmenor atenção epidemiológica como, por exemplo, o enquadramento da América Latina como região não endêmica para cardiopatia reumática, que contrasta comdados primários de prevalência. 31,32 Além disso, as diferenças e particularidades socioculturais, demográficas, econômicas e étnicas entre os PLP dificultam sua captura pelos modelos do GBD. Tais diferenças são frequentemente associadas a hábitos de vida, comportamentos de saúde e fatores de risco que afetam a carga global de DCV. Ademais, apesar da colonização em comum e das similaridades culturais, os fatores históricos e o padrão de desenvolvimento das sociedades diferem significativamente entre os PLP. 2 Apesar dessas limitações, o GBD constitui-se na iniciativa mais robusta e abrangente do ponto de vista epidemiológico para as estimativas da carga de DCV, sendo especialmente útil por possibilitar comparações padronizadas entre os países, inclusive com os PLP nos quais dados primários são ainda escassos. As limitações relatadas em geral não invalidam a importância deste estudo para a avaliação epidemiológica das DCV nos PLP, visando à elaboração de estratégias educativas, preventivas e terapêuticas mais adequadas à realidade de cada país, conhecidas suas diferenças sociodemográficas, econômicas e culturais. A principal força desta análise é demonstrar consistentemente que a importância das DCV como causa de morte vem crescendo nos PLP. Apesar de a mortalidade ter reduzido ou se mantido estável em países com melhores SDI – com redução significativa das taxas padronizadas por idade – o mesmo padrão não foi observado naqueles com piores SDI, indicando um importante impacto das DCV e sua associação com fatores socioeconômicos. As estimativas do GBD têm grande relevância para a contínua reavaliação de políticas preventivas e de promoção de saúde e também para a formulação, planejamento e adequação de novas estratégias a serem implantadas. Tendências regionais de morbidade e mortalidade precoce por alguns grupos de DCV, especialmente nos países com menores SDI e sistemas de saúde menos estruturados, devem ser levadas em conta, buscando-se a individualização dos modelos de ação para países com origem cultural semelhante, mas realidades de saúde tão diversas. Conclusão Os dados apresentados mostram que existem grandes diferenças na importância relativa da carga de DCV nos PLP e indicam que essas diferenças estão relacionadas às condições socioeconômicas de determinado país. Entre as DCV, a DIC é a principal causa de morte em todos os PLP, com exceção de Moçambique e São Tomé e Príncipe, onde as DCbV são a principal causa. Os fatores de risco atribuíveis mais relevantes para as DCV são comuns entre os PLP, sendo eles a hipertensão arterial e os fatores dietéticos. Possivelmente os fatores genéticos, implícitos na identidade cultural, os fatores inerentes ao hospedeiro, bem como as enormes desigualdades sociais tenham contribuído para a explicação das mortalidades observadas. A colaboração entre os PLP poderá permitir que experiências exitosas no combate às DCV sejam compartilhadas entre esses países. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Oliveira GMM, Malachias, MVB, Ribeiro AL; Obtenção de dados: Reis GMA, Ribeiro AL, Brant LCC, Souza MFM, Malta DC, Teixeira RA; Roth GA, Análise e interpretação dos dados: Brant LCC, Reis GMA, Ribeiro AL, Nascimento BR; Análise estatística: Teixeira RA, Brant LCC, Ribeiro, AL, Roth GA; Obtenção de financiamento: Souza MFM, França E; Redação do manuscrito: Nascimento, BR, Brant, LCC, Oliveira GMM; Roth GA; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Todos os autores. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O Ministério da Saúde é responsável pelo financiamento do estudo GBD Brasil (Fundo Nacional de Saúde, projeto numero 17217.9850001 /17-018).Ribeiro é apoiado em parte pelo CNPq (Bolsa de produtividade em pesquisa, 310679/2016-8 e IATS, 465518/2014-1) e pela FAPEMIG (Programa Pesquisador Mineiro, PPM-00428-17). Vinculação acadêmica Nãohávinculaçãodesteestudoaprogramasdepós‑graduação. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal deMinas Gerais sob o número de protocolo 62803316.7.0000.5149. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 509

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