ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Artigo Original Nascimento et al Doenças Cardiovasculares em Países de Língua Portuguesa Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):500-511 desenvolvidos pelo estudo GBD para aumentar a validade das estimativas. Para essa redistribuição em causas de morte específicas, foram consideradas evidências de várias fontes, tais como literatura médica, opinião de especialistas e técnicas estatísticas. 4,8,12 Após o tratamento de qualidade dos dados, o estudo GBD 2016 utilizou uma variedade de modelos estatísticos para determinar o número de mortes por cada causa, principalmente através do algoritmo CODEm ( Cause of Death Ensemble Model, ou Modelagem Agrupada de Causas de Morte). Para garantir que o número de mortes por causa não exceda o número total de mortes estimadas, uma técnica de correção (CoCorrect) foi realizada. O ajuste por essa técnica garante que a soma das estimativas do número de mortes por cada causa não ultrapasse 100% dos óbitos estimados em um determinado ano. 13 A prevalência de doença foi estimada em um nível mais detalhado de sequelas específicas da doença, utilizando como dados de entrada revisões sistemáticas da literatura científica publicadas, dados não publicados de registros e de bancos de dados administrativos do sistema de saúde. Equações de regressão foram usadas para ajustar os dados no sentido da definição de caso padrão. Os dados apresentados foram analisados para o período de 1990 a 2016, e todas as análises apresentadas foram estratificadas por sexo e apresentadas na forma de estimativas absolutas e padronizadas por idade, para os diferentes PLP. Métricas de carga de doença Os anos saudáveis de vida perdidos ( Disability-Adjusted Life Years : DALYs) combinam informações sobre morte prematura (anos de vida perdidos [ Years of Life Lost : YLLs]) e deficiência causada pela condição (anos vividos com incapacidade [ Years Lived with Disability : YLDs]) para fornecer uma medida sumária dos anos saudáveis de vida perdidos devido a essa condição. As YLLs foramcalculadas multiplicando as mortes observadas em cada idade específica em um ano de interesse pela expectativa de vida de referência específica à idade estimada pelo uso de métodos de tabela de vida. Os YLDs foram calculados multiplicando a prevalência da doença (em número de casos/ ano) por um peso de incapacidade específica do estado de saúde, representando um grau de capacidade funcional perdida. O processo de estimativa do peso da incapacidade foi previamente descrito em detalhes. 6 Em resumo, os pesos de incapacidade foram desenvolvidos por meio de entrevistas domiciliares em vários países, com solicitação aos participantes da pesquisa que fizessem escolhas entre descrições leigas de diferentes estados de saúde. 14,15 Foi realizado ajuste por comorbidade, simulando 40 mil indivíduos em cada estrato de idade-sexo-país-ano exposto à probabilidade independente de adquirir cada condição, com base na prevalência da doença, com intervalos de incerteza de 95% (95% UI) relatados para cada estimativa. A padronização da idade foi por meio do método direto, aplicando uma estrutura etária global. Índice sociodemográfico O SDI está sendo usado como estimativa do nível socioeconômico de cada país para avaliação de sua associação com a carga de DCV, como uma função da transição epidemiológica global. 4,8 À semelhança do método utilizado para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o SDI foi calculado para cada país ou território de 1990 a 2016. O SDI é a média geométrica ponderada da renda per capita, nível de escolaridade e taxa de fecundidade total, e permite comparar o desempenho de cada país em relação a países com nível sócio econômico semelhante. Foi utilizado o software SPSS versão 22.0 para Mac OSX ( SPSS Inc., Chicago, Illinois ) para realização de correlação (método de Spearman) entre a variação das taxas de mortalidade por DCV padronizadas por idade entre 1990 e 2016 e o SDI do país. Um valor p < 0.05 foi considerado estatisticamente significativo. Considerações éticas O estudo foi realizado em banco de dados secundários de domínio público, sem identificação nominal, em conformidade com o Decreto nº 7.724, 16 de maio de 2012 e a Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. O estudo GBD Brasil 2015 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Projeto CAAE 62803316.7.0000.5149). Resultados Causas de mortalidade por DCV A importância das DCV como causa de morte vem crescendo nos PLP. Em 1990, as DCV eram a principal causa de morte apenas no Brasil e em Portugal, enquanto nos demais países estavam atrás de doenças infecciosas, como diarreia e infecções respiratórias. Já em 2016, as DCV também se tornaram a primeira causa de morte emCabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, além de terem subido ou mantido posições nos demais países (Figura 2A). Entre as causas de DCV, houve um aumento da mortalidade proporcional por cardiopatia isquêmica que, em 2016, foi a primeira causa de morte na maioria dos países estudados, exceto em Moçambique e São Tomé e Príncipe. De forma geral, nota‑se também uma redução da mortalidade proporcional por cardiopatia reumática (Figura 2B). Tendências nas taxas de mortalidade por DCV entre 1990 e 2016 A Figura 3 mostra que em Portugal houve uma importante redução na mortalidade proporcional por DCV e na taxa de mortalidade por DCV padronizada por idade, revelando que a queda na mortalidade aconteceu em todas as faixas etárias. No Brasil e na Guiné-Equatorial, a proporção de mortes por DCV manteve-se praticamente estável, enquanto houve redução consistente ao longo dos últimos 15 anos da taxa de mortalidade padronizada por idade, sugerindo que houve, principalmente, redução da mortalidade prematura por DCV. Nos demais países, a proporção de mortes por DCV aumentou e a redução da taxa de mortalidade cardiovascular padronizada por idade caiu de forma menos expressiva, sugerindo crescente impacto das DCV nesses países. 503

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