ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Ramires et al Prevalência da síndrome metabólica no Brasil Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):455-466 A diferenciação considerável na prevalência e combinações de anormalidades da SM entre os sexos sugere uma fisiopatologia distinta entre homens e mulheres, 19 possivelmente explicada pelos diferentes níveis de hormônios sexuais que influenciam os mecanismos regulatórios do metabolismo. 20 A maior atividade andrógena encontrada entre os homens, assim como a redução dos níveis de estrogênios ocorrido após a menopausa entre as mulheres são condições que favorecem um aumento na gordura abdominal visceral e na concentração de lipídeos na corrente sanguínea, o que está correlacionado com resistência à insulina, hipertensão e aumento do risco cardiovascular. 20 Entre os componentes da SM, destaca-se na população estudada os resultados de CC elevada (65,2%, IC99%64,4‑65,9). A obesidade abdominal desempenha papel importante na SM, 21,22 pois está associada a uma desordemmetabólica capaz de influenciar, de forma prejudicial, a parede da artéria, acarretando em desregulação da vasoconstricção, ativação de cascatas inflamatórias e elevação dos efeitos das adipocinas, considerados fatores indutores de DCV. 22 Estudo de coorte conduzido por Lee et al., 22 mostrou que o aumento adicional de 500cm 3 no volume de gordura subcutânea e visceral está associado com a incidência de SMe agravamento dos fatores de risco para DCV. 22 Uma coorte de indivíduos obesos conduzida na Itália mostrou que a obesidade abdominal contribuiu para prevalência de SM em mulheres obesas, mas não em homens. 19 Em nosso trabalho, uma possível explicação para a alta prevalência de CC elevada pode decorrer dos menores pontos de corte estabelecidos pela padronização por etnia para a obesidade abdominal (≥ 90 cm para homens e ≥ 80 cm para mulheres), 4 se comparada com os valores limítrofes instituídos pelo NCEP-ATPIII (102 cm para homens e 88 cm para mulheres). 23 Conquanto, esta prevalência elevada e preocupante de obesidade abdominal na população brasileira se reflete na elevação do risco de desenvolver algum agravo cardiovascular 22 e os consequentes riscos de aumento da morbimortalidade e impacto sobre o sistema de saúde. 2 A relação positiva entre a prevalência da SM e o aumento da idade, aqui encontrada, tem sido amplamente divulgada, especialmente pelas diferenças atribuídas ao sexo, 17 não somente pelo efeito cumulativo, reflexo do tempo de exposição aos fatores de risco relacionados aos comportamentos alimentares inadequados e estilos de vida não saudáveis, como também pela contribuição dos fatores biológicos em ambos os sexos, devido a relação direta com o equilíbrio nos níveis de testosterona/estrogênio, especificamente, entre as mulheres. 20 A SM tem sido ligeiramente mais diagnosticada entre os homens com menos de cinquenta anos de idade, fato que se inverte após cinquenta anos, ao afetar com maior magnitude a população feminina. 17 Do ponto de vista sociodemográfico, este estudo mostrou que viver nas regiões SE/S/CO se apresentou como fator associado a SM, o que pode ser explicado, em parte, por estas regiões concentrarem os principais centros urbanos do país, contribuindo na promoção de estilos de vida caracterizados por hábitos alimentares não saudáveis e baixa frequência de exercícios físicos, que tem por consequência o aumento do risco de obesidade, DM tipo 2, hipertensão arterial, DCV e SM. 5 Em uma revisão sistemática realizada entre países da América do Sul essa hipótese foi confirmada ao mostrar que um padrão de hábitos alimentares e estilo de vida ocidentais foram encontrados em maior proporção nas grandes áreas urbanas, onde doenças crônicas não transmissíveis foram relacionadas a estes comportamentos. 24 Além disso, por meio de pesquisa conduzida no Brasil, foi evidenciado que houve consumo elevado de calorias nas capitais situadas nas Tabela 2 – Prevalência (%) das comorbidades e carga de doenças (fatores de risco para SM), por sexo, dos adultos e idosos. Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), Brasil, 2013 Doença, carga e SM Sexo Total N = 59.402 Masculino N = 25.920 Feminino N = 33.482 %* IC99% %* IC99% %* IC99% Diabetes 7,1 6,6 - 7,6 6,3 5,6 - 7,2 7,8 7,1 - 8,5 PA elevada 40,7 39,6 - 41,7 46,9 45,5 - 48,3 34,9 33,7 - 36,3 Hipercolesterolemia 14,7 14,0 - 15,5 11,9 10,9 - 13,1 16,9 16,0 - 17,9 CC elevada 65,2 64,4 - 65,9 55,6 54,0 - 57,1 73,9 72,7 - 75,0 Carga de doença 0 23,8 22,9 - 24,7 28,0 26,7 - 29,4 19,9 18,8 - 21,1 1 38,1 37,2 - 39,0 34,8 33,5 - 36,2 41,0 39,8 - 42,3 2 29,2 28,3 - 30,1 29,7 28,4 - 31,0 28,7 27,6 - 29,9 3 7,5 7,1 - 8,1 6,5 5,8 - 7,3 8,5 7,8 - 9,3 4 1,4 0,9 - 1,2 1,0 0,7 - 1,3 1,8 1,5 - 2,2 Condição de SM† 8,9 8,4 - 9,5 7,5 6,7 - 8,3 10,3 9,6 - 11,2 SM: síndrome metabólica; N: número de indivíduos no banco de dados; IC 99%: intervalo de 99% de confiança; PA: pressão arterial; CC: circunferência da cintura; (*) Gerada considerando o peso amostral; (†) Condição de SM, somatório da carga de doença ≥ 3 fatores. 460

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=