ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Odozynski et al Gênero e ablação de FA Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):449-454 Tabela 2 – Resultado dos procedimentos: Eficácia e segurança Variáveis Homens (n = 161) Mulheres (n = 64) Valor de p Nº de procedimentos 195 77 - Complicações* 5 (3%) 2 (3%) 0,98 Tempo de internação 2,5 ± 0,7 dias 2,1 ± 0,8 dias 0,76 Recorrência 34/161 (21%) 13/64 (20%) 0,89 Valores com ± indicam a média e desvio padrão; *Homens: 3 pseudoaneurismas inguinais, 1 hematoma inguinal e 1 trauma uretral (sondagem vesical), Mulheres: 1 hematoma inguinal e 1 hematoma retroperitoneal; Não houve óbitos. Teste t de Student e χ 2 . p-valor indica diferença estatisticamente significativa ao nível de 5% intolerabilidade a drogas antiarrítmicas maior que os homens, estando mais propensas a Torsade de Pointes e necessidade de implantes de marcapasso por bradicardia induzida por drogas. 17,18 Portanto, a ablação por cateter pode ser cogitada como uma alternativa precoce para o tratamento de mulheres com FA: trata-se de ummétodo terapêutico superior à terapia medicamentosa na manutenção do ritmo sinusal 19 com baixas taxas de complicações, na mesma proporção que os homens. Especula-se que haja diferenças biológicas no mecanismo da FA entre homens e mulheres que, em tese, poderiam justificar resultados distintos quando estes são submetidos à ablação, porém tal hipótese parece improvável. Em estudos prévios, Walters et al., 20 demonstraram similaridade quanto características eletrofisiológicas do átrio esquerdo e veias pulmonares de homens e mulheres. 20 Da mesma forma, Pfannmuller et al., 21 constataram não haver diferenças específicas entre os gêneros decorrente do remodelamento atrial na FA por meio da expressão de proteínas amiloides, colágenas ou vinculadas as junções intercelulares (gap junctions). 21 Em nosso estudo, a hipótese de que mulheres com FA em idades avançadas apresentam maior remodelamento elétrico e estrutural do átrio e, consequentemente, pior desfecho pós-ablação, não foi validada. O grupo das mulheres foi mais velho do que o dos homens e, no entanto, o tempo de Figura 1 – Curvas de Kaplan-Meier para recorrência clínica pós-ablação por cateter categorizada por gênero; Teste de Log-Rank para comparação das curvas de recorrência entre os grupos (HxM). p-valor = 0,89 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0 12 24 36 Tempo (meses) % Livre de recorrência Curva Kaplan-Meier recorrência pós-ablação de FA Homens Mulheres diagnóstico da arritmia é semelhante em ambos os gêneros. Somado a isso, o diâmetro do átrio esquerdo, marcador para recorrência clínica pós-ablação, acidente vascular encefálico e morte, 22,23 foi semelhante em ambos os grupos. O fato dos mesmos desfechos clínicos terem sido observados a longo prazo entre os grupos também sugere que, em nosso estudo, não haja diferenças biológicas significativas entre homens e mulheres submetidos a ablação FA. 24 Limitações Além de retrospectivo, o tamanho da amostra pode não ter sido suficiente para evidenciar diferenças entre os grupos (H x M). A existência de viés de seleção em nossa coorte também deve ser considerado, já que somente mulheres candidatas e submetidas ao procedimento de ablação foram incluídas na análise. Por último, não foi realizada uma análise detalhada na avaliação dos sintomas decorrentes da FA; em vez disso, utilizou-se o escore CCS-SAF de maneira abrangente. Conclusão Em conclusão, nesta população, mulheres submetidas ao primeiro procedimento de ablação por cateter de FA apresentam resultados clínicos relativos à segurança e eficácia do procedimento semelhantes aos homens. 452

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