ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Odozynski et al Gênero e ablação de FA Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):449-454 Tabela 1 – Características clínicas de pacientes submetidos à ablação de FA, categorização por gênero Variáveis Homens (n = 161) Mulheres (n = 64) Valor de p Idade (anos) 57 ± 11 62 ± 9 0,001* IMC 27 ± 3,7 27 ± 5 0,64 Fração de Ejeção (%) 63 ± 10 66 ± 6 0,02* Diâmetro do AE (mm) 38 ± 5 38 ± 5 0,93 CHADS2 0,9 ± 0,8 1,2 ± 1 0,04* ICC 12 (7%) 4 (6%) 0,73 HAS 85 (52%) 43 (67%) 0,06 Diabetes Mellitus 17 (10%) 11 (17%) 0,18 Doença Art. Coronária 25 (15%) 12 (19%) 0,44 AVC/AIT prévio 6 (4% ) 5 (8%) 0,06 CCS SAF escore 1,8 ± 0,8 2,3 ± 0,8 0,02* Uso Estatina 44 (27%) 26 (40%) 0,03 Inib ECA/ARA-2 66 (41%) 30 (46%) 0,25 Uso prévio/atual de AA 134 (83%) 58 (90%) 0,21 Tempo diagnóstico (meses) 11 ± 12 14 ± 10 0,87 Tempo de seguimento (meses) 34 ± 17 (12 – 66) 33 ± 14 (13 – 64) 0,87 Valores com ± indicam a média e desvio padrão; CCS SAF: Canadian Cardiovascular Society Severity of Atrial Fibrillation scale; ECA: enzima conversora de angiotensina; ARA-2: antagonista do receptor de angiotensina 2; Teste t de Student e χ 2 para amostras independentes. * p-valor indica diferença estatisticamente significativa ao nível de 5% grupos em relação ao índice de massa corporal (IMC) e o diâmetro anteroposterior do átrio esquerdo, apesar de uma menor fração de ejeção do VE, possivelmente sem relevância clínica, ter sido observada entre os homens (63 ± 10% H x 66 ± 6% M p < 0,5). Também não houve diferença entre os gêneros no tocante as comorbidades como hipertensão arterial, diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, doença coronariana e história pregressa de AVC/AIT. No entanto, mulheres apresentarammaior escore CHADS2 (0,9 ± 0,8 H x 1,2 ± 1 M; p = 0,04) e foram mais sintomáticas do que os homens segundo o escore CCS-SAF (1,8 ± 0,8 H x 2,3 ± 0,8 M p = 0,02). Entre os gêneros, não houve diferença na proporção do uso de Inibidores ECA/ARA‑2 e drogas antiarrítmicas, porém, mulheres mostraram maior utilização de estatinas em comparação aos homens (27% H x 40% M p = 0,03 - Tabela 1). Eficácia e segurança dos procedimentos As taxas de recorrência após único procedimento de ablação foram semelhantes entre os grupos (21% H x 20% M p = 0,52). A tabela 2 resume os resultados dos procedimentos assim como as complicações por gênero. Houve 3 pseudoaneurismas inguinais, 1 hematoma inguinal e 1 trauma uretral durante sondagem vesical no grupo dos homens; entre as mulheres observou-se 1 hematoma inguinal e 1 hematoma retroperitoneal (5 (3%) H x 2 (3%) M p = 0,98). Apesar de terem prolongado o tempo de hospitalização, nenhuma das complicações necessitou de intervenção cirúrgica para ser controlada. Ao longo do estudo, não foram relatadas fístulas átrio-esofágicas, derrames pericárdicos, AIT/AVC pós-ablação ou óbito. A curva de Kaplan-Meier (Figura 1) mostra, ao longo do estudo, equidade entre os gêneros em relação as taxas de recorrência, que ocorreram com maior frequência nos 12 primeiros meses de seguimento, independentemente do gênero do paciente. Não houve diferença no tempo de internação (dias) dos pacientes categorizados por gênero (2,5 ± 0,7 H x 2,1 ± 0,8 M p = 0,76). Discussão Diferenças específicas associadas ao gênero podem influenciar as condutas clínicas e terapêuticas na assistência de mulheres portadoras de FA. Emestudo canadense, Singh et al., 16 caracterizaram a equivalência e homogeneidade da segurança e eficácia do procedimento ablativo entre homens e mulheres com FA Persistente ( post-hoc MAGIC-AF Trial), 16 garantindo a segurança do mesmo. No presente estudo, em uma coorte atual de pacientes com FA paroxística submetidos ao primeiro procedimento de ablação por cateter, sugere-se que as taxas de recorrência e complicações independem do gênero do paciente. Tais achados indicam que eventuais considerações clínicas acerca da segurança e eficácia do procedimento ablativo em mulheres com FA possam ser a principal causa da subutilização da ablação em pacientes do sexo feminino. Diferenças relacionadas ao gênero no controle farmacológico do ritmo cardíaco são bem descritas na literatura. As mulheres mostram-se mais sintomáticas pelo escore CCS-SAF e referem uma menor melhora na qualidade de vida quando submetidas a tratamento medicamentoso, comparado aos homens. 17 Além disso, pacientes do sexo feminino apresentam uma maior taxa de toxicidade e 451

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