ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Minieditorial Prevalência da Síndrome Metabólica e Escore de Risco de Framingham em Homens Vegetarianos e Onívoros Aparentemente Saudáveis Prevalence of Metabolic Syndrome and Framingham Risk Score in Vegetarian and Omnivorous Apparently Healthy Men Francisco Antonio Helfenstein Fonseca e Maria Cristina de Oliveira Izar Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo Prevalência de Síndrome Metabólica e Escore de Risco de Framingham em Homens Vegetarianos e Onívoros Aparentemente Saudáveis Correspondência: Francisco Antonio Helfenstein Fonseca • Setor de Lípides, Aterosclerose, Biologia Vascular e Hipertensão Arterial. Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Rua Loefgren, 1350. CEP 04040-001, Vila Clementino, São Paulo, SP – Brasil E-mail: fahfonseca@terra.com.br Palavras-chave Síndrome Metabólica; Dieta Vegetariana; Estilo de Vida Saudável; Prevenção e Controle. DOI: 10.5935/abc.20180083 The Life Style Heart Trial 1 foi um marco no conhecimento. Publicado em 1990, o estudo mostrou que estilo de vida saudável associado à dieta vegetariana pode regredir lesões coronarianas, mesmo em pacientes que não façam uso de fármacos hipolipemiantes. Vivemos hoje grande epidemia de doenças cardiovasculares, sendo sedentarismo, obesidade, diabetes e dislipidemias, condições frequentes que deflagram mecanismos de doenças cardiovasculares, como alterações da microbiota intestinal, aumento de biomarcadores inflamatórios, redução da resposta imune fisiológica e maiores concentrações de fatores pró‑trombóticos. Habitualmente, nossas diretrizes identificam pacientes de alto risco e estabelecem metas de tratamento em estágio avançado da doença cardiovascular, momento em que a simples mudança no estilo de vida parece insuficiente para uma efetiva e precoce redução do risco de eventos cardiovasculares. Em 1988, Gerald Reaven realizou histórica Banting Lecture, 2 mostrando elo entre resistência à insulina, obesidade, hiperglicemia, hipertensão arterial e dislipidemia (notadamente hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL-C). Reaven foi, de fato, pioneiro na descrição da Síndrome Metabólica, inicialmente descrita como Síndrome X e que constituiria situação de risco para a doença coronariana, mostrando que níveis elevados de colesterol não são o único mecanismo para esta enfermidade e que componentes da síndrome poderiam ser profundamente modificados por mudanças no estilo de vida. 3-5 Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 6 os autores mostram como a dieta vegetariana se associa de maneira marcante à menor prevalência da Síndrome Metabólica e menor risco cardiovascular pelo escore de Framingham em comparação à dieta de onívoros, definida por indivíduos que consumissem pelo menos quatro porções de carnes por semana. O estudo incluiu amostra relativamente restrita, mas muito homogênea de adultos aparentemente saudáveis. Além disso, o total de homens estudados foi superior ao clássico estudo de Ornish (The Lifestyle Heart Trial). O estudo foi transversal, o que limita seus achados ao estabelecimento de hipóteses a serem confirmadas em estudos prospectivos. Entretanto, os critérios rigorosos de inclusão ao estudo (mínimodequatro anos sob a dieta vegetariana ou onívora) e a qualidade dos dados obtidos destas populações bastante comparáveis, mostramquão importante é a nutrição e como são diferentes os aspectos metabólicos, clínicos e laboratoriais entre as duas populações estudadas. 6 Recentemente, durante o congresso do American College of Cardiology (ACC18) em Orlando, o professor Valentin Fuster sugeriu para a prevenção primordial (primeiros 25 anos), primária (25-50 anos) ou secundária (após os 50 anos), diferentes estratégias para a redução da incidência e complicações da doença cardiovascular adequadas a cada nível de prevenção. Os resultados do presente estudo sobre a dieta vegetariana nos mostram diferenças não apenas em marcadores individuais de risco cardiovascular, mas substanciais mudanças no escore global de risco e componentes da Síndrome Metabólica, em particular. 6 Vivenciamos um período de transição epidemiológica, onde os maiores desafios não são reduções expressivas do colesterol, controle glicêmico ou pressórico, mas reduzirmos primordialmente a obesidade e os defeitos metabólicos progressivamente associados à hiperglicemia. Damos especial atenção ao paciente com desfechos coronarianos, cerebrovasculares, renais ou com doença vascular periférica avançada, mas são com medidas mais simples sobre estilo de vida, na prevenção primordial e primária, que atingiríamos maior parcela da população e obteríamos maior impacto em sua saúde. 438

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