ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Navarro et al Síndrome metabólica em homens vegetarianos e onívoros Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):430-437 e metabólicos que aumentam diretamente o risco de doença aterosclerótica cardiovascular, diabetes mellitus tipo 2 e mortalidade por todas as causas. Estilo de vida é um dos principais fatores predisponentes à SM. 31 No nosso estudo, os modelos de regressão multivariada mostram que a dieta VEG foi independentemente o melhor indicador de SM, estando associada com seus componentes CA, PAS, PAD e GJ, sugerindo que a prevalência de SM possa dever-se a influências em seus componentes. Levantamos a hipótese de que o mecanismo responsável por essas diferenças exista na composição da dieta. Indivíduos VEG consomem menores quantidades de gordura total, gordura saturada e colesterol, e maiores quantidades de gordura insaturada e fibra do que indivíduos ONI. 10,14 A não ingestão de carne vermelha e processada poderia desempenhar um papel adicional. 14 No nosso estudo, indivíduos VEG e ONI não diferiram significativamente quanto à ingestão calórica. Os indivíduos VEG consumiam significativamente mais carboidratos, fibras dietéticas e gordura poli-insaturada. Além disso, indivíduos ONI ingeriam significativamente maiores quantidades de proteína, gordura total, gordura saturada e monoinsaturada. Além disso, padrões dietéticos como VEG e dieta Mediterrânea têm uma benéfica combinação sinergística de antioxidantes, fibras, potássio, magnésio e fitoquímicos, 31 que podem ser responsáveis por benefícios à saúde demonstrados em muitos estudos científicos. Este estudo apresenta algumas limitações. Seu relativamente pequeno tamanho amostral e o desenho transversal não permitiram que tirássemos conclusões em termos de relação causal. Pesquisas futuras devem ser conduzidas, em especial estudos de coorte prospectivos em diferentes populações para provar o impacto da dieta VEG nos desfechos avaliados neste estudo. A força do nosso estudo é sua amostra altamente homogênea, em que todos eram não fumantes, sem diagnóstico prévio de diabetes, dislipidemia, DCV ou doenças cerebrovasculares, hipertensão ou uso de anti-hipertensivos, e não diferiam quanto à frequência de ingestão de álcool. Os grupos diferiram apenas quanto à variável independente ‘dieta’ e à atividade física, que, ainda que demonstrada, não foi responsável pelas diferenças encontradas. Além disso, descobrimos na mesma amostra um melhor perfil de doença vascular subclínica avaliada por rigidez arterial, determinada pela velocidade da onda de pulso carótida-femoral e pela espessura médio-intimal da carótida, e por distensibilidade, no grupo VEG em comparação ao ONI. 20 A importância do nosso estudo está no fato de incluir apenas homens aparentemente saudáveis, que correspondem a uma grande parte da sociedade, sendo, portanto, de grande interesse na prevenção primária de DCV. Os achados deste estudo, portanto, terão grande impacto positivo na economia de saúde pública e qualidade de vida. Conclusão Este estudo fornece evidência de que, em homens aparentemente saudáveis, uma dieta VEG associa-se com níveis mais baixos de alguns FRCV, assim como menores EF e porcentagem de indivíduos com SM, sugerindo que uma dieta VEG possa ser considerada um fator protetor contra o desenvolvimento de DCV. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Navarro JCA; Obtenção de dados: Navarro JCA, Antoniazzi L, Oki AM, Bonfim MC, Hong V, Acosta-Cardenas P; Análise e interpretação dos dados:Navarro JCA, Antoniazzi L, Oki AM, Bonfim MC, Hong V, Bortolotto LA; Análise estatística: Navarro JCA, Antoniazzi L, Hong V; Redação do manuscrito: Acosta‑Cardenas P; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Navarro JCA, Antoniazzi L, Oki AM, Hong V, Sandrim V, Miname MH, Santos Filho RD. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de tese de Pós-doutorado de Julio Cesar Acosta Navarro pelo Instituto do Coração (InCor) - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo sob o número de protocolo CAAE: 03540812.2.0000.0068; arquivo: 35704. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 1. Acosta-Navarro JC, Prado SMC, Sanchez DE, Ayala CC, Cabezas JT, Mejia ZP, et al . Pressão sanguínea, perfil lipídico e outros parâmetros bioquímicos entre peruanos vegetarianos, semi-vegetarianos e onívoros. OEstudo Lima. Na Paul Med Cir.1998;125:87-101. 2. Acosta-Navarro JC, Caramelli B. Vegetarians from Latin America. Am J Cardiol 2010;105(6):902. 3. Amini M, Esmaillzadeh A, Shafaeizadeh S, Behrooz J, Zare M. Relationship betweenmajor dietary patterns andmetabolic syndrome among individuals with impaired glucose tolerance. Nutrition. 2010;26(10):986-92. 4. Yokohama Y, Nishimura K, BarnardN, Takegami M, WatanabeM, Sekikawa A, et al. Vegetarian diets and blood pressure. A meta-analysis. JAMA Inter Med. 2014;174(4):577-87. Referências 436

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