ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Navarro et al Síndrome metabólica em homens vegetarianos e onívoros Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):430-437 Os participantes informaram os níveis de atividade física usando a versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), 25 que mede a atividade física no período de lazer, nas tarefas domésticas, no trabalho e como meio de transporte. Quatro domínios foram avaliados: sedentarismo, caminhada, atividade física de intensidade moderada e atividade física de intensidade vigorosa nos sete dias precedentes. Foram consideradas as seguintes categorias para análise: fisicamente ativo (≥ 20 minutos/sessão de atividade vigorosa ≥ 3 dias/semana; e/ou ≥ 30 minutos/sessão de atividade moderada ou caminhada ≥ 5 dias/semana; e/ou ≥ 150 minutos/semana de qualquer atividade - vigorosa ou moderada ou caminhada), e irregularmente ativo (< 150 minutos/semana de qualquer atividade - vigorosa ou moderada ou caminhada). 26 Síndrome metabólica (SM) foi definida conforme os critérios da Federação Internacional de Diabetes (IDF), que considera que um indivíduo com SM tem que ter obesidade central (definida pela CA com valores específicos para etnia) mais dois dos quatro fatores: TG ≥ 150 mg/dl (1,7 mmol/l) ou tratamento específico para essa anormalidade lipídica; HDL-c < 40 mg/dl (1,03 mmol/l) em homens ou tratamento específico para essa anormalidade lipídica; PAS ≥ 130 mmHg ou PAD ≥ 85 mmHg ou tratamento de hipertensão diagnosticada previamente; e GJ ≥ 100 mg/dl (5,6 mmol/l) ou diabetes tipo 2 diagnosticada previamente. 16,17 Para os nativos da América do Sul ou Central, a IDF recomenda o uso dos valores da CA do sul da Ásia até que dados mais específicos estejam disponíveis. Logo, este estudo considerou o valor da CA aumentado quando ≥ 90 cm. 18 Classificou-se o IMC conforme os valores sugeridos pela Organização Mundial da Saúde. 27 O Framingham Heart Study fornece um algoritmo para avaliar o risco de DAC em curto prazo (≤ 10 anos). O EF classifica o risco individual de DAC com base em pontos atribuídos para idade, CT, HDL-c, status de fumante, PAS e uso de medicação para tratar elevação da pressão arterial. O escopo do EF varia de 1% a 30% de risco para DAC em 10 anos. 7 Análise estatística As variáveis contínuas foram avaliadas com o teste de Kolmogorov-Smirnov, tendo apresentado distribuição Gaussiana, sendo expressas como média ± desvio-padrão (DP). O teste t de Student não pareado foi usado para avaliar as diferenças entre as variáveis numéricas. O teste qui-quadrado foi usado para comparar as variáveis categóricas entre os grupos. Adotou-se o nível de significância de p < 0,05. Para avaliar a associação entre o tipo de dieta (ONI ou VEG) e SM e seus componentes, usou-se regressão logística múltipla. A magnitude do efeito foi medida usando-se OR ( odds ratio ) e respectivo intervalo de confiança a 95% (IC95%). Análise univariada e as variáveis com p < 0,20 foram incluídas na regressão múltipla, realizando-se ajuste para ingestão calórica, idade, nível de atividade física e consumo de álcool. Todas as análises foram realizadas usando-se o programa Stata 10.0. Resultados Não houve diferença de idade entre os grupos VEG e ONI. O grupo VEG apresentou valores significativamente mais baixos para IMC, CA, PAS, PAD, CT, LDL-c, Apo b, TG, relação CT/HDL-c, GJ e HbA1c. A maioria dos indivíduos teve menos de 10 pontos no EF, sendo que apenas três no grupo VEG e oito no grupo ONI pontuaram entre 10 e 20 no EF. Não houve diferença estatística quando essa distribuição foi comparada por categorias, mas o risco de DAC avaliado pelo EF foi maior no grupo ONI com base em uma comparação do escore médio entre os dois grupos (Tabela 1). Embora não tenha havido significativa diferença quanto à ingestão calórica entre os dois grupos, o grupo VEG consumiu significativamente mais carboidratos (63,2 vs. 51,9% de energia, p > 0,001), fibras dietéticas (28,2 vs 17,9 g, p < 0,001) e gordura poli-insaturada (4,0 vs. 2,7% de energia, p = 0,004) do que o grupo ONI. Por outro lado, o grupo ONI ingeriu quantidades significativamente maiores de proteína (19,5 vs. 17,1% de energia, p = 0,04), gordura total (29,1 vs. 24,8% de energia, p = 0,006), gordura saturada (6,9 vs. 4,4% de energia, p < 0,001) e gordura monoinsaturada (6,8 vs. 4,5% de energia, p < 0,001) (Tabela 2). A maioria dos indivíduos tinha escolaridade ≥ 8 anos (83,2%), mas, no grupo ONI, mais indivíduos (30,8%) tinham escolaridade inferior a 8 anos quando comparado ao grupo VEG (4,6%) (p = 0,001). Quanto à atividade física avaliada pelo IPAQ, um número significativamente maior de indivíduos VEG foi classificado como fisicamente ativo (n = 36, 81,8%) em comparação ao grupo ONI (n = 25, 56,8%; p = 0,011). Quanto ao consumo de álcool, 43,2% do grupo VEG (n = 19) e 59,1% (n = 26) do grupo ONI relataram fazer uso da bebida, mas sem diferença estatisticamente significativa (p = 0,14). Considerando a definição de SM proposta pela IDF, houve mais indivíduos com SM no grupo ONI (52,3%) do que no VEG (15,9%; p < 0,001). O grupo ONI apresentou ocorrência significativamente maior de valores anormais para a maioria dos componentes da SM: CA, TG, GJ, PAS e PAD (Tabela 3). Ser ONI aumentou a chance de ter SM (OR: 5,79; IC95%: 2,13-15,76) e apresentar alteração nos diferentes componentes da SM: CA (OR: 6,80; IC95%: 2,62-17,70), PAS (OR: 2,83; IC95%: 1,13-7,12), PAD (OR: 4,38; IC95%: 1,53‑12,53), TG (OR: 2,5; IC95%: 1,01-6,18) e GJ (OR: 4,67; IC95%: 1,89-11,52). A despeito do maior risco de um indivíduo ONI desenvolver DAC de acordo com a GJ, tal diferença não foi mostrada no modelo de regressão logística (OR: 3,04; IC95%: 0,75-12,32). A dieta ONI foi associada com prevalência de SM (OR: 6,28; IC95%: 2,11-18,71) e alterações na maioria dos componentes da SM [CA (OR: 7,54; IC95%: 2,55‑22,29), PAS (OR: 3,06; IC95%: 1,06-8,82), PAD (OR: 4,08; IC95%: 1,27‑13,07) e GJ (OR: 5,38; IC95%: 1,95-14,88)] na regressão múltipla, independentemente de ingestão calórica, idade, nível de atividade física e consumo de álcool (Tabela 4). Discussão Este estudo apresenta evidência científica de que em homens aparentemente saudáveis, uma dieta VEG, em 432

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