ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Gabriel et al Diagnóstico da doença arterial coronária Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):420-427 As características clínicas que se associaram à ocorrência de tais placas foram o etilismo e a ausência de obesidade. Por outro lado, o mesmo não ocorreu com fatores de risco frequentemente associados à DAC, tais como: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. 8 Os dados da literatura demonstram frequências variadas em relação à presença de placa aterosclerótica com EC zero. Em um estudo realizado em Isfahan – (Irã), foram analisados 385 pacientes com escore zero e 16 (4,1%) apresentaram placas à ATCC. 5 Em outro estudo com pacientes sintomáticos e assintomáticos demonstrou que apenas os pacientes sintomáticos com EC zero apresentaram placa aterosclerótica (8,4%). 9 Segundo estudo CONFIRM, entre os pacientes com EC zero, 13% apresentaram lesões ateroscleróticas não obstrutivas e 3,5% apresentaram lesão obstrutiva (≥ 50%). 4 Em uma coorte multicêntrica com participação do Brasil (subestudo do CORE64), confirmou-se que o EC zero não exclui a presença de placa nas artérias coronárias. Além disso, demonstrou que um EC zero não exclui a necessidade de revascularização. Com uma amostra constituída por 291 pacientes, sendo 72 com EC igual a zero, 19% apresentaram uma estenose ≥50% e desses, 13% necessitavam de revascularização. 10 Vale ressaltar ainda que há estudos realizados em pacientes com dor torácica na sala de urgência que demonstram frequências de placas ateroscleróticas com EC igual a zero Tabela 3 – Distribuição das lesões ateroscleróticas à angiotomografia computadorizada de coronárias em pacientes com escore de cálcio zero Variável Um vaso envolvido Envolvimento de dois vasos Envolvimento de mais de dois vasos Total n = 34 Lesão obstrutiva > 50% 12 (75%) 3 (18,7%) 1 (6,3%) 16 (47,0%) Lesão não obstrutiva 15 (83,3%) 3 (16,6%) 0 18 (53%) Figura 2 – Presença de calcificação em escore de cálcio zero. Paciente do sexo feminino, 67 anos; Seta preta - Placa parcialmente calcificada em óstio de descendente anterior (DA), não detectada pelo escore de cálcio, seguida placas não calcificadas em terços proximal e médio (setas brancas). de até 39%. 11-13 No entanto, trata-se de uma amostra distinta da população ambulatorial de rotina. Por outro lado, é relevante salientar que a amostra da presente investigação foi composta por pacientes cuja indicação para a realização da ATCC deveu-se aos seus médicos assistentes. E como já observado em estudos internacionais, constatamos, também, que nesses pacientes com EC zero, não exclui a presença de placa aterosclerótica. Em relação às variáveis mais associadas ao risco maior de presença de placas, nosso estudo encontrou apenas etilismo e a ausência de obesidade. No entanto, os fatores de risco clássicos para DAC (diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia) não se correlacionaram com a presença de placa no presente estudo. Chama atenção o fato de os pacientes com IMC mais elevados terem apresentado associação com a ausência de lesão aterosclerótica. Alguns trabalhos já indicaram a obesidade como um fator protetor para a DAC, o que foi denominado como o “paradoxo da obesidade”. 14 No entanto, tal associação não se refere à adiposidade abdominal, que é associada à DAC e considerada mais patológica do que o acúmulo de gordura subcutâneo. 14-16 Neste estudo, não foi medida a circunferência abdominal dos indivíduos estudados, o que não permite resultados mais consistentes. Além disso, muitos trabalhos que apontam a obesidade como fator protetor apresentam pacientes mais jovens na amostra dos obesos o que pode ocasionar vieses. 17 424

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