ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Salmazo et al Frequência de aterosclerose subclínica em brasileiros infectados pelo HIV Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):402-410 creatinina sérica (p = 0,004), o que também foi relatado em outros estudos. 17-19,37,40 Não houve associação com gênero, tabagismo, diabetes, hipertensão, terapia com estatina, HDL-c e TGL. É importante ressaltar que mesmo que os vasos tenham PL, a EMIC pode ser normal, significando que o aumento da espessura médio-intimal e as PL não são necessariamente processos diretamente associados. Entretanto, ambos refletem a presença de disfunção endotelial e considera-se que favoreçam eventos cardiovasculares. 17-23 O tratamento com PI mostrou significativa interação com idade e tempo desde o diagnóstico de infecção pelo HIV para aumentar TGL. Além disso, a exposição aos PI não se associou com maior frequência de PL, estando de acordo com estudos recentes. 3,5,6,8,10,15,37-39 No nosso estudo, a HAART correlacionou-se com um perfil lipídico desfavorável, mas sem interferir na frequência de PL ou rigidez arterial. A VOP associou-se diretamente com idade, EMIC e PAS. Tais resultados são consistentes com os de recentes estudos que descrevem a associação de índices de rigidez arterial com idade, hipertensão e doença vascular. 29-31 Alémdisso, o AIx apresentou associação direta com idade, EMIC e PAS, não havendo interação entre idade e tabagismo para aumentar o AIx. A elevação da VOP e do AIx em pacientes com PL sugere que a aterosclerose esteja associada com alterações funcionais nos vasos; vasos mais rígidos têm maior risco de desenvolver PL. Além disso, pacientes com PL apresentaram maior EMIC do que aqueles sem lesões, reforçando a hipótese de que EMIC e aterosclerose estejam associadas, mesmo quando se exclui a natureza evolutiva de uma alteração sobre a outra. Este estudo incluiu 207 pacientes classificados através do ERF como de baixo risco (82,1%), 31 como de risco intermediário (12,3%) e 14 como de alto risco (5,56%). A literatura mostra que quanto maior o ERF, maior a EMIC. 23 Quanto à idade, os pacientes mais jovens apresentaram ERF mais baixos. Isso está de acordo com o conceito de que o ERF, quando aplicado a jovens, pode resultar em baixo risco sem implicar que tais indivíduos não tenham risco de eventos cardiovasculares futuros. É importante notar que quase 20% dos pacientes de baixo risco têm PL carotídea. O subgrupo de risco intermediário/alto, ao ser comparado àquele classificado como de baixo risco pelo ERF, apresentou perfil lipídico desfavorável com baixos níveis de HDL-c e elevados de CT e LDL-c, como descrito na literatura, mas sem diferença quanto à PCR-us. 12,15,25,26 Além disso, os indivíduos classificados como de risco intermediário/alto apresentaram maior espessura médio-intimal e VOP (p < 0,001), consistente com a hipótese de maior chance de doença vascular no grupo. Placas foram detectadas em 16% dos pacientes não tratados com PI e que apresentavam LDL-c inferior a 130 mg/dl. Tal resultado, associado à presença de PL em quase 20% dos pacientes de baixo risco segundo o ERF, indicaria que eles teriam risco de desenvolver aterosclerose. Logo, o grupo com tais características estaria sujeito a eventos cardiovasculares maiores, como infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico, mesmo sem sintomas. A IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Prevenção de Aterosclerose recomenda que a avaliação de risco cardiovascular de pacientes infectados pelo HIV deve ser realizada com a avaliação do perfil lipídico e ERF. 12 Pacientes classificados como de baixo risco têm níveis lipídicos normais e não usamHAART, devendo ser submetidos a reavaliação cardiovascular em 2 anos. Para aqueles em uso de HAART, recomendam-se reavaliações um mês após o início da terapia e, então, a cada três meses. Percebe-se que os critérios estabelecidos pela diretriz não consideram os riscos desta população particular de infectados pelo HIV, e que tais pacientes não têm sido adequadamente e especificamente avaliados para a detecção precoce de DCV. Limitações Este estudo apresenta algumas limitações. Os dados são apenas observacionais. Há uma lacuna entre a população deste estudo e a do Framingham na descrição original do escore de risco. Os determinantes fisiopatológicos das condições multifatoriais envolvidas na associação entre infecção pelo HIV ou uso de HAART e aterosclerose não foram analisados nesse estudo. Obteve-se a informação sobre DCV prévia e outras causas de imunossupressão a partir apenas da revisão dos prontuários médicos, sem avaliação específica para cada condição. Conclusões Os dados sugerem que pacientes infectados pelo HIV apresentam maior risco de aterosclerose em associação aos clássicos fatores de risco cardiovascular. Além disso, a HAART interage com o tempo desde o diagnóstico de infecção pelo HIV e a idade do paciente para modificar os níveis lipídicos, mas não se associa com maior frequência de PL e não promove alterações funcionais nas artérias. O tabagismo, mais prevalente na população infectada pelo HIV, influencia o efeito da idade nas propriedades mecânicas das artérias, podendo desempenhar efeito aterogênico adicional nesses pacientes. O ERF pode ser inapropriado para essa população. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Salmazo PS; Obtenção de dados: Salmazo PS, Shiraishi FG; Análise e interpretação dos dados: Salmazo PS, Bazan SGZ, Shiraishi FG, Bazan R, Okoshi K, Hueb JC; Análise estatística: Bazan SGZ, Bazan R; Redação do manuscrito: Salmazo PS, Bazan SGZ, Shiraishi FG, Bazan R; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Okoshi K, Hueb JC. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de tese de Doutorado de Péricles Sidnei Salmazo pela Faculdade de Medicina de Botucatu. 408

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