ABC | Volume 110, Nº5, Maio 2018

Artigo Original Salmazo et al Frequência de aterosclerose subclínica em brasileiros infectados pelo HIV Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):402-410 Discussão Segundo os dados do Ministério da Saúde do Brasil, a prevalência de sobrepeso na população geral é de cerca de 50%, enquanto a de obesidade varia de 12% a 17%. 33 Na população infectada pelo HIV, alguns estudos relataram uma prevalência de alteração da distribuição de gordura de cerca de 50%, comdados altamente variados sobre lipodistrofia (20-80%) e obesidade em 4-14%. 34,35 Neste estudo, o IMC foi menor no grupo infectado pelo HIV do que no controle (25,5 ± 4,5 vs. 27,4 ± 5,4 kg/m²). A frequência de sobrepeso e obesidade foi 51,1%, similar à da literatura e menor do que a do grupo controle (63,1%). A literatura mostra maior frequência de tabagismo, quando comparada com a da população geral, entre infectados pelo HIV, chegando a 50%. 36,37 Confirmamos isso na nossa série, encontrando tabagismo ativo em 43,6% dos pacientes e 16,1% do grupo controle (p < 0,001). O tabagismo teve efeito na EMIC apenas no grupo controle. Esse resultado poderia sugerir que os pacientes infectados pelo HIV tenham outros fatores aterogênicos que neutralizariamos efeitos do tabagismo na EMIC, com tendência a aumentá-la, independentemente do tabagismo. O LDL-c mostrou-se associado com idade (R = 0,252, p < 0,001) e tempo desde o diagnóstico de infecção pelo HIV (R = 0,293; p = 0,041), em direta associação com níveis séricos elevados. Tais resultados sugerem que a aterosclerose na população infectada pelo HIV seja influenciada por outros fatores de risco relacionados à infecção, além de apresentar características similares às do processo classicamente descrito em outras populações. 4-6,8,10,11 As PL foram observadas em 37% dos indivíduos infectados pelo HIV, um pouco menor do que os 55% relatados em algumas publicações. 18,19,37 Este estudo descobriu que a presença do HIV produziu um aumento de quase cinco vezes no risco de PL carotídea no modelo ajustado por idade, sobrepeso/obesidade e tabagismo. Podemos, portanto, supor que a presença de infecção pelo HIV seja fator que contribua para o desenvolvimento de aterosclerose, além dos tradicionais fatores de risco, o que está em concordância com outros estudos. 10,11,15,18,38 Não houve associação entre a presença de PL carotídea e o tempo desde o diagnóstico ou duração do tratamento, circunferência abdominal, IMC, HDL-c e contagem de células CD4 + ou CD8 + . Outros estudos relataram resultados semelhantes, sugerindo que o maior risco de aterosclerose na presença de infecção pelo HIV não se acha diretamente associado ao tempo desde o diagnóstico, mas às condições envolvidas com a infecção pelo HIV. 10,38,39 Os pacientes com PL eram 11 anos mais velhos do que aqueles sem PL, além de serem predominantemente do sexo masculino. Glicemia de jejum, CT, LDL-c e TGL foram significativamente mais altos nos pacientes com diagnóstico de PL. Pacientes com PL em comparação àqueles sem PL, apresentaram elevação de PAS e de PAD de 10 e 6 mmHg, respectivamente. Tais resultados estão de acordo com os de outros estudos e reforçam o conceito de que a aterogênese em pacientes infectados pelo HIV segue os clássicos fatores de risco descritos em outras populações. 4,20,37,38 Nossos resultados indicam que indivíduos mais idosos têm maior EMIC, independentemente da presença de infecção pelo HIV; entretanto, observou-se uma interação entre idade e presença de infecção pelo HIV para aumentar a EMIC (p < 0,001). Ainda que o tempo desde o diagnóstico não afete a frequência de PL, parece que a infecção pelo HIV incrementa o efeito da idade sobre a EMIC. Nesse caso, indivíduos mais jovens com infecção pelo HIV poderiam apresentar alterações vasculares compatíveis com as de pacientes mais idosos. É importante compreender esse comportamento ao fazer a triagem de aterosclerose em pacientes infectados pelo HIV, pois o efeito protetor da idade mais jovem teria menor relevância. No grupo infectado pelo HIV, a EMIC associou-se com idade (p < 0,001), IMC (p = 0,053), LDL-c (p = 0,005) e Figura 4 – Frequência de placas em pacientes HIV positivos de acordo com a estratificação de risco de Framingham. 100 80 60 40 20 0 Porcentagem de placa carotídea (%) Intermediário/alto Baixo Estratificação de risco de Framingham 62,8% 18,2% Sem placa Com placa p < 0,001 407

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