ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Comunicação Breve Influência do Treinamento Aeróbico na Mecânica de Contração Ventricular após Infarto Agudo do Miocárdio: Estudo Piloto Influence of Aerobic Training on The Mechanics of Ventricular Contraction After Acute Myocardial Infarction: A Pilot Study Giovani Luiz De Santi, Henrique Turin Moreira, Eduardo Elias Vieira de Carvalho, Júlio César Crescêncio, André Schmidt, José Antônio Marin-Neto, Lourenço Gallo-Júnior Divisão de Cardiologia - Departamento de Clínica Médica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil Palavras-chave Exercício; Reabilitação; Infarto do Miocárdio; Contração Miocárdica; VolumeSistólico; Imagempor RessonânciaMagnética. Correspondência: Giovani Luiz De Santi • Av. Bandeirantes, 3900. CEP 14048-900, Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP – Brasil. E-mail: giovanidesanti@cardiol.br, giovanidesanti@usp.br Artigo recebido em 26/05/2017, revisado em 01/09/2017, aceito em 19/10/2017 DOI: 10.5935/abc.20180049 Resumo O estudo da contratilidade miocárdica, baseado nos novos conceitos anatômicos que regem a mecânica cardíaca, representa uma estratégia promissora de análise das adaptações do miocárdio relacionadas ao treinamento físico no contexto do pós-infarto. Nós investigamos a influência do treinamento aeróbico na capacidade física e nos parâmetros de avaliação da mecânica de contração do ventrículo esquerdo em pacientes com infarto do miocárdio. Foram prospectivamente investigados 30 pacientes, 55,1 ± 8,9 anos, acometidos por infarto do miocárdio de parede anterior, aleatorizados em três grupos: grupo treinamento intervalado (GTI) (n = 10), grupo treinamento moderado (GTM) (n=10) e grupo controle (GC) (n = 10). Antes e após as 12 semanas de seguimento clínico, os pacientes realizaram teste cardiopulmonar de exercício e ressonância magnética cardíaca. Os grupos treinados realizaram treinamento aeróbico supervisionado, em esteira ergométrica, aplicando-se duas intensidades distintas. Observou-se aumento estatisticamente significante do consumo de oxigênio (VO 2 ) pico no GTI (19,2 ± 5,1 para 21,9 ± 5,6 ml/kg/min, p < 0,01) e no GTM (18,8 ± 3,7 para 21,6±4,5ml/kg/min, p<0,01).OGCnão apresentoumudança estatisticamente significante no VO 2 pico. Houve aumento estatisticamente significante do strain radial (STRAD) somente no GC: STRAD basal (57,4 ± 16,6 para 84,1 ± 30,9%, p < 0,05), STRAD medial (57,8 ± 27,9 para 74,3 ± 36,1%, p < 0,05) e STRAD apical (38,2 ± 26,0 para 52,4 ± 29,8%, p < 0,01). Os grupos treinados não apresentaram mudança estatisticamente significante do strain radial. Os achados do presente estudo apontampara uma potencial aplicação clínica dos parâmetros de análise da mecânica de contração ventricular, notadamente do strain radial, em discriminar adaptações domiocárdio pós‑infarto entre pacientes submetidos ou não a programas de treinamento aeróbico. Introdução A conformação helicoidal das fibras miocárdicas, ancoradas nos anéis pulmonar e aórtico, determina um movimento de rotação do coração ao redor do seu eixo longitudinal e confere uma eficiência mecânica máxima ao músculo cardíaco. A magnitude e as características do presente fenômeno são sensíveis às alterações contráteis segmentar e global do ventrículo esquerdo. 1,2 Os parâmetros de análise da deformação miocárdica e da rotação ventricular representam uma estratégia promissora de estudo da contratilidade cardíaca, por permitir uma análise fidedigna da dinâmica de contração do ventrículo esquerdo, baseada nos novos conceitos anatômicos que regem a mecânica cardíaca. 1,2 O treinamento físico aeróbico (TFA) após o infarto do miocárdio (IM) melhora o desempenho cardíaco, o consumo de oxigênio (VO 2 ) pico, a função autonômica e o metabolismo periférico. Os programas de exercícios, baseados em variáveis obtidas por meio dos testes de esforços, são considerados benéficos e seguros para pacientes no contexto do pós-IM. 3 Entretanto, os trabalhos científicos que investigaram os efeitos do TFA sobre o processo de remodelamento ventricular pós-IM, particularmente através da medida de volumes cavitários, bem como por meio da estimativa de função cardíaca pela fração de ejeção do ventrículo esquerdo, nas condições de repouso, mostraram resultados heterogêneos e inconsistentes. 4-7 A ressonância magnética cardíaca permite uma análise integrada da função miocárdica com a patologia subjacente. As curvas de deformação miocárdica, obtidas por meio das imagens de ressonância magnética cardíaca, representam ferramentas capazes de identificar alterações iniciais ou subclínicas tanto na função segmentar quanto na função global do ventrículo esquerdo. 8 A utilização dessas novas metodologias incorporadas à ressonância magnética cardíaca pode ter uma potencial aplicação na identificação de alterações contráteis incipientes no miocárdio pós-infarto relacionadas ao treinamento físico. Nesse sentido, não encontramos na literatura científica, artigos que tenham procurado documentar, por meio da análise dos parâmetros de deformação miocárdica e de rotação ventricular, os efeitos do TFA em pacientes no contexto do pós-IM. 383

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