ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Winter et al Treinamento físico de alta intensidade pós IAM Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):373-380 Introdução As doenças cardiovasculares (DCVs) são consideradas a principal causa de morte no Brasil e no mundo em pessoas com mais de 30 anos. Dentre essas, o infarto agudo do miocárdio (IAM) é responsável por aproximadamente 10% desses óbitos. 1 O tratamento pós-IAM deve ser farmacológico, associado à mudança de hábitos de vida e prática de exercícios. Sendo assim, o treinamento físico exerce papel fundamental no tratamento da doença. 2 Atualmente, existem recomendações de como deve ser prescrito o treinamento físico de acordo com a estratificação de risco do indivíduo para a prática, sendo a combinação de exercícios aeróbios e resistidos de moderada intensidade o mais indicado. 3 Com a evolução dos modelos de prescrição de treinamento físico, alguns autores passaram a prescrever o treinamento de alta intensidade para pacientes pós-IAM, diferentemente do recomendado por diretrizes. 4 No entanto, quando avaliados os resultados apresentados por trabalhos experimentais envolvendo IAM e treinamento de alta intensidade, percebe‑se controvérsia quanto aos benefícios deste tipo de exercício para esta população. 5,6 Zhang et al., 5 estudaram as repercussões do treinamento de corrida de alta intensidade sobre as adaptações celulares em ratos pós IAM. Os miócitos isolados de corações com infarto crônico sofreram um aumento de 10% no seu comprimento celular semqualquer alteração no seu diâmetro caracterizando a hipertrofia, o que podeminimizar o remodelamento ventricular, prevenindo o surgimento da cardiomiopatia dilatada. Já Benito et al., 6 utilizarammodelo animal com ratos Wistar machos para avaliar se o treinamento intensivo sustentado induzia a alteração estruturais no coração. Neste trabalho, os autores observaram fibrose cardíaca após o treinamento intensivo a longo prazo em conjunto com alterações na função ventricular e aumento da capacidade de indução de arritmia. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi comparar os efeitos do treinamento de alta intensidade sobre a função ventricular de ratos pós-IAM com aqueles provocados pelo treinamento de moderada intensidade. Métodos Foi realizado um trabalho experimental seguindo as normas e princípios éticos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), com aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Inicialmente, foram selecionados 40 ratos, por conveniência, da linhagem Wistar, adultos, machos, com peso entre 250 e 300 gramas. Os mesmos não sofreram restrição hídrica e de ração. Os animais foram inicialmente anestesiados sob via intramuscular, com administração de Quetamina (Ketamin  / Cristalia-70mg/kg)eXilazina(Calmiun  /AgenerUnião-20mg/kg). Em seguida foram entubados e mantidos em assistência ventilatória mecânica a volume para animais de pequeno porte (2,5 mL - O 2 /min). Com os animais posicionados em decúbito dorsal (com uma leve inclinação para a direita, facilitando desta maneira a exposição da área a ser abordada), foram fixados os membros anteriores e posteriores com fita adesiva. Após tricotomia e antissepsia do tórax com iodopovedina tópico, foi realizada a toracotomia lateral esquerda no terceiro espaço intercostal dos animais, sendo que com a abertura da pleura esquerda, o pericárdio foi aberto para a luxação e melhor visualização da área a ser abordada. Com a exposição do coração, a aurícula esquerda foi afastada; a artéria coronária esquerda localizada entre a artéria pulmonar e o átrio esquerdo, e ligada com fio de sutura polipropileno azul monofilamentar não absorvível 7.0. A região infartada foi visualizada pela diferença de coloração da área afetada. Em seguida, o coração foi reposicionado ao tórax, os pulmões hiperinflados e a parede torácica suturada por planos com fio de sutura nylon monofilamentar não absorvível 4.0. 7 Duas avaliações ecocardiográficas no Modo– M, com aparelho marca Esaote, mylab 40, com transdutor setorial (7,5 a 10 MHz), foram realizadas. A primeira, 21 dias após o IAM e a segunda após seis semanas de treinamento. Os parâmetros analisados foram fração de ejeção do ventrículo esquerdo [FEVE (%)], diâmetro diastólico final [DDF (ml)] e diâmetro sistólico final [DSF (ml)]. A partir da avaliação ecocardiográfica inicial, foram incluídos na pesquisa os ratos que apresentaram FEVE maior ou igual a 50%. A amostra foi composta por 29 animais, que foram randomizados a partir de papéis dobrados em envelope branco não transparente, sorteados pelo pesquisador principal em três grupos: grupo controle (GC, n = 10), grupo de treinamento contínuo (GTC, n = 9) e grupo de treinamento intervalado (GTI, n = 10). Para determinar a intensidade ideal de treinamento de cada grupo foi realizado um teste de carga incremental de natação com controle de produção de lactato. Os animais foram colocados em um tanque com 40 cm de água, o suficiente para não se apoiarem com a calda no fundo do aquário. 7 A partir disto, realizaram exercícios de natação com carga adicional (proporcional ao peso corporal) de forma progressiva (4,0; 4,5; 5,0; 5,5 e 6,0% do peso corporal) e cada fase do protocolo teve duração de cinco minutos. 8 O principal objetivo deste teste foi identificar o limiar de lactato (LL), ponto de referência para diferenciar as cargas do treinamento contínuo e do intervalado. Sendo assim, foram coletadas amostras de sangue (25μl) da cauda do animal no repouso e a cada progressão de carga. 9,10 Para análise da produção de ácido lático, foi utilizado um analisador portátil da marca Accutrend ® . Os valores de lactato mensurados foram lançados em planilha no Excel. Em seguida foi construído um gráfico de linha para cada animal testado. O LL foi determinado de maneira visual, sendo definido como o ponto em que a linha perde linearidade. Este processo foi realizado em ambos os grupos de treinamento nos testes de lactato, um dia após cada avaliação ecocardiográfica. De acordo com os resultados do teste de lactato, o GTC recebeu uma prescrição de treinamento contínua, na intensidade do LL enquanto que no GTI treinou de forma intervalada acima do LL. O GC não foi submetido a treinamento físico. 374

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