ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Cardoso et al Infecção em pacientes com insuficiência cardíaca Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):364-370 Tabela 2 – Comparação das características dos pacientes em relação a infecção Infecção Característica Sim (n = 119) Não (n = 141) p* Idade (anos) 67,33 ± 12,18 65,03 ± 13,04 0,147 Sexo masculino - n (%) 58 (48,7) 83(58,9) 0,102 Hemoglobina (g/dl) 12,93 ± 1,93 13,25 ± 2,47 0,251 PAS (mmHg) 100,0 (83,5 – 123,5) 96 (81,5 – 120,0) 0,109 PAD (mmHg) 61,0 (53,0 – 80,0) 60,0 (56,0 – 76,0) 0,701 FC (bpm) 84,0 (70,0 – 100,0) 80,0 (67,8 – 94,5) 0,493 FEVE (%) 30,0 (25,0 – 46,0) 30 (25,0 – 45,0) 0,019 DDVE (mm) 60,60 ± 10,07 63,24 ± 10,46 0,044 DSVE (mm) 48,72 ± 12,52 52,45 ± 12,74 0,022 Ureia (mg/dL) 78,0 (56,0 – 107,0) 79,0 (49,3 – 108,0) 0,391 Creatinina (mg/dL) 1,62 (1,23 – 2,17) 1,54 (1,22 – 2,00) 0,680 Insuficiência renal - n (%) 73 (61,3) 69 (48,9) 0,045 Dia internados 29,43 ± 19,43 21,3 ± 27,89 0,546 Mortalidade – n (%) Total 42 (35,3) 50 (35,5) 0,977 Hospitalar 32 (26,9) 24 (17) 0,050 Pós-Alta 10 (11,5%) 26 (22,2%) 0,046 Os dados são apresentados como média ± desvio padrão para as variáveis contínuas com distribuição normal ou mediana (intervalo interquartil 25% - 75%) para as variáveis contínuas com distribuição não normal. As variáveis categóricas são apresentadas como número (porcentagem). P*: para o cálculo do valor de P foi utilizado o teste t-Student para as variáveis com distribuição normal, o teste U de Mann-Whitney para as variáveis com distribuição não normal. O valor de P foi estimado pelo teste do Qui-quadrado ou pelo teste Exato de Fisher para as variáveis categóricas. PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; DDVE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; FEVE: fração de ejeção ventricular esquerda. 54,6% dos pacientes, com maior frequência no grupo que morreu tanto durante hospitalização (Tabela 3) quanto na avaliação de todo o período (Tabela 4). Discussão Infecção associou-se ao quadro de IC descompensada em 45,8% dos pacientes e, nesse grupo de pacientes infectados, houve um aumento da mortalidade durante a hospitalização. Entretanto, após a alta hospitalar, o grupo com infecção apresentou evolução melhor comparado àquele sem infecção. A comorbidade mais frequente, nesta casuística, foi a insuficiência renal, que comprometeu 54,6% de nossos pacientes e teve relação commortalidade hospitalar e durante o seguimento após a alta. As causas de descompensação cardíaca variam conforme a população estudada. Síndrome coronária aguda, arritmias e doença respiratória aguda são identificadas como os mais frequentes fatores precipitantes de descompensação cardíaca. 2 Na Unidade de Emergência de nosso hospital, a causa mais frequente de hospitalização foi a não aderência ao tratamento, sendo as infecções consideradas causa em 8% dos casos. 5 No Registro BREATHE, a má aderência também foi a causa mais frequente e a infecção foi a segunda, contribuindo para a descompensação em 22,9% dos casos. 6 A associação entre infecção e descompensação e piora do prognóstico é bastante conhecida. Em levantamento feito no InCor, através do serviço de estatística, pudemos verificar que, nos últimos 10 anos, 27.528 pacientes foram internados e tiveram o diagnóstico de IC (I50), sendo a maioria homens (55%). O tempo médio de hospitalização foi de 14,8 dias, e a mortalidade hospitalar dessa população com IC foi de 24,8%. 6 No presente estudo, dos pacientes internados em 2014 em nossa enfermaria, constatamos que a mortalidade durante a internação daqueles com IC e infecção foi de 26,9% contra 17,0% nos sem infecção (p = 0,05). O aumento de mortalidade em decorrência das infecções foi também descrito no Registro OPTIMIZE-HF. 4 Na comparação das características dos pacientes com e sem infecção combase nas variáveis que analisamos, pudemos observar que aqueles com infecção descompensaram com comprometimento ventricular menor do que o daqueles sem infecção, sugerindo que a descompensação decorreu da sobrecarga e alterações sistêmicas que o quadro infecioso promove e não somente do grau de comprometimento cardíaco. Os pacientes com infecção apresentavam menor dilatação cardíaca do que os sem infecção, 60,6 mm (10,07) vs 63,4 mm (10,46), P = 0,04. Após a alta, observamos melhor evolução para esses pacientes com infecção que tiveram alta. A mortalidade no seguimento dos que internaram com infecção foi de 11,5% contra 22,2% dos sem infecção (P = 0,046). Essa menor mortalidade pode ser imputada ao menor comprometimento cardíaco daqueles que tiveram infecção, fato que pode explicar a melhor evolução após a alta com o quadro infeccioso controlado. 367

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