ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Minieditorial Speckle Tracking Ecocardiografia na Síndrome Coronariana Aguda. Pronta para Uso? Speckle-Tracking Echocardiography - Ready for Use in Acute Coronary Syndrome? Brivaldo Markman Filho Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE - Brasil Correspondência: Brivaldo Markman Filho • Av. Visconde de Jequitinhonha, 2544/1902. CEP 51130-020, Recife, PE – Brasil E-mail: brivaldomarkman@uol.com.br Palavras-chave Síndrome Coronariana Aguda; Speckle Tracking; Strain; Ecocardiografia; Doppler; Fatores de Risco/prevalência. DOI: 10.5935/abc.20180061 O envelhecimento populacional e o aumento da prevalência de fatores de risco como hipertensão arterial e diabetes, associados principalmente à obesidade, contribuem sobremaneira para a elevação das internações de pacientes com Síndromes Coronarianas Agudas (SCA). 1,2 A estratificação de risco das SCA, entre as quais se destaca aqui a Angina Instável (AI), é mandatória, visto que compreende pacientes com prognósticos diversos. 3,4 Neste cenário, a definição anatômica da artéria culpada, por meio da cinecoronariografia, seguid a de intervenção percutânea, tem sido a conduta referendada na atualidade para pacientes de moderado a alto risco. 5 A ecodopplercardiografia tem papel importante na sala de emergência para avaliação funcional do ventrículo esquerdo (VE) e para descartar outras etiologias que possam confundir o diagnóstico. 6 Recentemente, a técnica de aferição da deformação do miocárdio ( strain ) baseada no rastreamento de pontos ( speckle tracking ) pela ecocardiografia bidimensional (2D-STE) tem se destacado por sua aplicabilidade na prática clínica. 7 Sua elevada sensibilidade para mensurar a função sistólica e identificar disfunção subclínica de VE, quando comparado à fração de ejeção do VE e aos parâmetros de função diastólica, estende sua aplicabilidade e a torna técnica de valor adicional em diversas situações da cardiologia. 8 Para o diagnóstico da isquemia miocárdica, embora existam dados promissores, a 2D-STE ainda não está suficientemente padronizada para ser recomendada rotineiramente. As características inerentes à própria técnica afetam sua aplicabilidade, tanto na fase aguda do evento isquêmico, quanto na fase crônica, dado que deformidades ventriculares prévias dificultam a interpretação do exame. 9 Nesse contexto, o estudo de dos Santos et al., 10 nos traz uma investigação pioneira sobre a real aplicabilidade do Strain longitudinal de VE na AI. Nessa série, os autores descrevem a frequência de indicação do 2D-STE em emergência cardiológica e avaliam os valores do strain em pacientes com lesões graves de artérias coronárias. Nós destacamos alguns achados de interesse nesse estudo. Os autores avaliaram 78 pacientes com suspeita clínica de AI quanto a indicação do 2D-STE e observaram que sua aplicabilidade foi inferior a 20% da amostra. A presença de infarto e intervenção percutânea prévios se configuraram como as limitações mais frequentes ao uso do 2D-STE, presentes em mais dametade da casuística. Esses achados ressaltama limitação do método na avaliação da doença coronariana na emergência. Em seguida, os pacientes elegíveis e não elegíveis foram comparados para realização do 2D-STE. Os autores não observaram padrão de associação entre a sua aplicabilidade e as variáveis clínicas aqui analisadas, exceto que a presença de diabetes foi significativamente mais frequente no grupo dos não elegíveis. Embora o poder do teste seja limitado neste desenho de estudo, esse achado levantaria a hipótese de que a presença de diabetes, geralmente associada a um pior prognóstico, poderia se configurar em limitação para aplicação do 2D-STE. Tambémde interesse nessa série foramos resultados relativos à acurácia do 2D-STE. A realização da cinecoronariografia confirmou a presença de lesão coronariana grave na maioria dos quinze pacientes elegíveis para o 2D-STE. Além disso, os autores observaram que o strain global esteve significativamente reduzido naqueles que apresentavam lesão grave em alguma artéria coronária epicárdica e que, o strain longitudinal demonstrou redução significativa nos segmentos basais das paredes inferior e lateral do VE nas lesões de coronárias direita e circunflexa. Nos chama a atenção o fato de que não houve associação do strain miocárdico com lesão grave de descendente anterior, provavelmente devido ao tamanho da amostra, conforme descrito pelos autores. Esses achados corroboram o conhecimento atual, pois é sabido que os valores mais reduzidos do strain global e territorial, correlacionam-se com a extensão do miocárdio isquêmico correspondente aos vasos coronarianos afetados. 11 Em suas conclusões, os autores sugerem que o 2D-STE pode auxiliar na definição de condutas ao paciente assistido em situação de emergência para investigação de doença coronariana. À luz do conhecimento atual, no entanto, a recomendação da aplicação do 2D-STE para rotina de atendimento a esses pacientes ainda prescinde de estudos que embasem essa indicação. Sendo assim, seja em emergências cardiológicas de setor público, seja em nível privado, aguardemos por esse momento utilizando o bom senso, e façamos uma reflexão antes de indicarmos um método diagnóstico viável, mas ainda não formalmente recomendado. 362

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