ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Santos et al Aplicabilidade do SL2D do VE na AI Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):354-361 A avaliação do strain segmentar demonstrou associação entre lesão grave em CX e redução do strain longitudinal do segmento basal da parede lateral (14[5] versus 21 [10] com p = 0,04 e área sob a curva ROC= 0,864), além de associação entre lesão grave em CD e redução do strain longitudinal do segmento basal da parede inferior (12,5 [6] versus 19 [8] com p = 0,026 e área sob a curva ROC = 0,86). Discussão A aquisição de imagens pelo ST, comdeterminação do strain longitudinal, permite uma avaliação mais completa da função miocárdica, podendo detectar alterações sutis na contratilidade segmentar de pacientes com cardiopatia isquêmica, com boa reprodutibilidade inter e intraobservador. 7,12 Dessa forma, o método vem ganhando cada vez mais espaço na avaliação de doença arterial coronariana (DAC), com grande número de estudos produzidos nos últimos anos. 15-17 O presente estudo é um dos pioneiros na avaliação da aplicabilidade do strain longitudinal em pacientes com AI atendidos em Pronto Atendimento de um Hospital Cardiológico de nível Terciário. As características clínicas, eletrocardiográficas e ecocardiográficas da população estudada demonstram a complexidade dos pacientes com DAC. Isso provavelmente justifica a baixa aplicabilidade do método, visto que existem muitas variáveis (existentes na maioria dos pacientes estudados) que poderiam prejudicar a detecção de deformidade reduzida por isquemia. Destacamos que na população estudada 56,1% tinham infarto prévio e 44,6% tinham procedimento cardíaco prévio (ATC, RM ou ambos). Tabela 2 – Achados eletrocardiográficos (n = 78) Alteração Frequência (%) DCRE 10,3% BRD 3,8% BDASE 2,6% BRD + BDASE 2,6% BRE 3,8% Onda Q patológica 3,8% Ritmo de marcapasso 3,8% FA alta resposta 1,3% ARV anterosseptal 5,1% ARV anterior 5,1% ARV inferior 9% ARV lateral 7,7% ARV difusa 11,5% Infra/ST > 0,5 mm 1,3% DCRE: distúrbio de condução pelo ramo esquerdo; BRD: bloqueio de ramo direito; BDASE: bloqueio divisional anterossuperior esquerdo; ARV: alteração de repolarização ventricular. FA: fibrilação atrial; BRE: bloqueio de ramo esquerdo. Tabela 3 – Achados ecocardiográficos (n = 55) Variável Mediana [p25 – p75] FEVE Simpson 0,59 [0,5 – 0,65] AE (mm) 39 [36 – 42] DDFVE (mm) 51 [48 – 56] DSFVE (mm) 32 [30 – 37,75] Septo (mm) 10 [9 – 11] Parede posterior (mm) 9 [9 – 11] Índice de massa (g/m 2 ) 124,5 [110 – 153,5] PSAP (mmHg) 32 [31 – 36] Raiz da aorta (mm) 34 [31 – 36] FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; AE: medida do átrio esquerdo; DDFVE: diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo; DSFVE: diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo; PSAP: pressão sistólica de artéria pulmonar. Shimoni et al., 18 avaliaram o SL2D em 97 pacientes hospitalizados com angina e função ventricular normal; destes, 69 pacientes apresentaram doença coronária importante. A análise do strain global foi de -17,3±2,4 comuma área sob a curva ROC (AUC) de 0,80 para identificar DAC importante em pacientes com angina; no subgrupo dos pacientes com angina instável o strain global também demonstrou boa acurácia em predizer DAC obstrutiva angiográfica (AUC = 0,86). 18 Os achados desse estudo são semelhantes aos que encontramos em relação a acurácia diagnóstica do strain para identificar DAC importante na angina, entretanto, não houve referência quanto a aplicabilidade do método na amostra. Verificamos no presente estudo uma associação estatisticamente significativa entre valores reduzidos do strain global coma presença deDAC anatomicamente grave, e acurácia similar a dados disponíveis na literatura. 19 Quando analisado o strain segmentar, encontramos uma associação significativa apenas na redução da deformidade do segmento basal das paredes lateral e inferior, com estenose ≥ 70% nas coronárias CX e CD, respectivamente. Acreditamos que os achados do strain segmentar seriam mais robustos se a amostra fosse maior. Em metanálise publicada em 2016 com 1385 pacientes incluídos em 10 estudos, o strain global longitudinal demonstrou boa acurácia em detectar DAC moderada a importante em pacientes sintomáticos com AUC de 0,81, sensibilidade de 74,4% e especificidade de 72,1%. 19 Apesar da baixa aplicabilidade do SL2D no PS e UCO, muito provavelmente decorrente do perfil de pacientes que nossa instituição atende, as evidências atuais e nossos achados indicam que esse método pode ser exame complementar no algoritmo diagnóstico de DAC e ferramenta útil na avaliação precoce da isquemia. Conclusão Em 80,8% dos casos, não foi possível aplicar o strain longitudinal, devido principalmente, aos seguintes critérios: 358

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