ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Santos et al Aplicabilidade do SL2D do VE na AI Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):354-361 Introdução Nos Estados Unidos a angina instável (AI) é a causa cardiovascular mais comum de internação hospitalar, sendo também a responsável pela maioria das internações em unidades coronarianas. 1 O diagnóstico de AI é realizado por critérios clínicos baseados na duração e intensidade da angina. 2 O paciente com AI tem prognóstico variável quanto a eventos desfavoráveis como infarto agudo do miocárdio (IAM), recorrência de angina, biomarcadores de necrose, função ventricular e necessidade de revascularização miocárdica. 3 O speckle tracking (ST) é uma tecnologia introduzida na década de 80, que permite a quantificação da deformidade miocárdica global e regional por meio do rastreamento de “marcas acústicas” naturais do músculo cardíaco pelo ultrassom, apresentando valores reduzidos na presença de isquemia miocárdica. 4,5 O ST permite calcular o strain miocárdico, e vem mostrando grande utilidade na identificação de isquemia subendocárdica, como ocorre na angina instável, commaior sensibilidade e especificidade que o ecocardiograma bidimensional. 6 Entretanto, para que o ST possa rastrear adequadamente os “ speckles ” existem algumas variáveis que podem interferir na análise da deformidade, e por isso, quando estão presentes podem dar resultados errôneos ou até impedir a análise do strain miocárdico. Além disso, para a identificação de isquemia miocárdica em pacientes com AI, a presença de infarto prévio ou qualquer outra injúria miocárdica (como valvopatia importante), pode alterar a deformidade miocárdica e provocar a análise incorreta da verdadeira causa da diminuição de deformidade. Essas são as variáveis que interferem na correta análise da deformidade miocárdica, e por esse motivo, são consideradas critérios de exclusão na grande maioria dos estudos (que objetivam analisar isquemia aguda) publicados: infarto prévio, fibrilação atrial, bloqueio de ramo esquerdo, arritmia ventricular complexa, valvopatias aórtica e/ou mitral importante, cirurgia cardíaca prévia, hipertrofia ventricular, marcapasso cardíaco e janela acústica inadequada. 7 O objetivo principal do presente estudo é determinar a prevalência da aplicabilidade do strain longitudinal bidimensional (SL2D) em todos os pacientes internados com diagnóstico de AI, durante o período de observação de 60 dias. O objetivo secundário é avaliar a capacidade diagnóstica do SL2D na identificação do vaso culpado pelo evento isquêmico nos pacientes com AI. Métodos Trata-se de estudo observacional transversal, descritivo, realizado no Pronto Socorro (PS) e Unidade Coronariana (UCO) do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC). Os critérios de inclusão foram: pacientes internados de ambos os sexos, idade maior que 18 anos e diagnóstico clínico de AI que foram admitidos no serviço do IDPC durante o período do estudo e aceitaram a participação no mesmo, tendo assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Ressaltamos que não houve cálculo do tamanho da amostra. Foi realizado o censo de todos os pacientes que tinham critério de inclusão. A chegada do paciente ao serviço do IDPC foi por conveniência. O critério de exclusão foi a mudança do diagnóstico durante a internação. Esses casos ocorreram em pacientes que deram entrada no serviço com quadro inicial de dor precordial e após propedêutica e exames complementares foi descartado o diagnóstico de AI. Tratando-se de diagnóstico diferencial e fechando como diagnóstico final: infarto agudo do miocárdio (IAM) com supra ou sem supra do segmento ST, dissecção aórtica, embolia pulmonar e estenose aórtica. Foram analisadas as características clínico-epidemiológicas e eletrocardiográficas, além da coleta de amostra sanguínea para dosagem de troponina I e creatinina. A estratificação de risco foi feita utilizando o escore de risco GRACE. 8,9 A análise eletrocardiográfica foi realizada por 2 cardiologistas experientes; em caso de discordância quanto ao diagnóstico, o traçado seria analisado por serviço especializado em laudos eletrocardiográficos da instituição emque se realizou a pesquisa. O ecocardiograma transtorácico foi realizado em até 48 horas do último episódio de dor precordial do paciente no PS ou UCO. O equipamento destinado para a realização do exame foi o Vivid E9 da marca GE® ( General Electric Medical System, Norway ) com transdutor “ phased array ” dotado de frequência de emissão de 3,5 megahertz . As imagens obtidas durante o exame foram adquiridas com harmônica, numa repetição de quadros entre 50 e 70 quadros/segundo, na forma de clipes digitais (utilizando uma média de três ciclos consecutivos) e gravadas em CDs para posterior análise numa estação de trabalho, EchoPAC PC version 6.0.1® ( GE VingmedUltrasound ). De acordo com as diretrizes do comitê da Sociedade Americana de Ecocardiografia e Sociedade Europeia de Ecocardiografia, que padronizaram a aquisição dos planos de cortes tomográficos obtidos durante a realização de exames ecocardiográficos, foram adquiridas por via transtorácica, com o paciente em decúbito lateral esquerdo e monitorizado com eletrocardiograma, imagens de ecocardiografia pelo Bidimensional Doppler espectral (pulsátil e contínuo) e mapeamento com fluxo em cores. 10 Medidas adquiridas: • Bidimensional: Diâmetro diastólico e sistólico do ventrículo esquerdo (VE), diâmetro ântero-posterior do átrio esquerdo (AE), diâmetro da raiz da aorta, espessura do septo interventricular e da parede posterior. Volume diastólico e sistólico do VE. Cálculo da fração de ejeção (FE) pelo método de Simpson biplanar modificado do VE. • Doppler e Mapeamento de Fluxo em Cores: Fluxo mitral com Doppler espectral (pulsátil e contínuo) para análise da função diastólica e quantificação de valvopatia mitral, quando presente. Fluxo aórtico com Doppler espectral (pulsátil e contínuo), para determinação da abertura e fechamento da valva aórtica (marcar o evento sistólico), e quantificação de valvopatia aórtica, quando presente. O diagnóstico e a quantificação das lesões valvares seguiram as recomendações da Sociedade Americana de Ecocardiografia. 11 355

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=