ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Nascimento et al Vimentina e Anticorpos Anti-Vimentina na Doença de Chagas Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):348-353 Tabela 1 – Porcentagem de positividade de soro com diferentes formas clínicas de doença de Chagas para o antígeno Vimentin na reação ELISA Forma clínica Amostras (n) Positivos (n) Negativos (n) Positividade (%) 95% I.C. (p vs w/o Chagas) V p Indeterminado Aguda 26 20 6 76.9 53-87 (p < 0,001) p < 0,001 Cardíaca 33 29 4 87.8 67-93 (p < 0,001) p < 0,001 Digestiva 17 12 5 25 42-84 (p < 0,001) p < 0,01 Simtomática 76 61 15 80,2 70-88 (p < 0,001) p < 0,001 Indeterminada 20 5 15 70,5 5-44 (p < 0,05) Chagas Total 96 66 30 68,5 52-75 (p < 0,001) Sem Chagas 40 1 39 2,5 1-4% *Test exato de Fisher 87,9% com 29 soros positivos dos 23 analisados e no grupo de pacientes indeterminados, o índice foi de 25% com 5 pontos positivos dos 20 analisados. A positividade dos soros não chagásicos foi de 2,5% ou apenas um soro positivo em 40 analisados. Discussão Esta infecção intracitoplasmática resultou em expressão alterada de proteínas fibrilares celulares, como a vimentina, como mostramos claramente na imunofluorescência de células infectadas. Esta produção alterada de vimentina é desprovida de associação com o parasita, a qual não possui reatividade com anticorpos anti-vimentina de qualquer forma. A vimentina é importante para a entrada de vírus específicos, outro possível patógeno citoplasmático e é utilizado pelo vírus da febre aftosa (VFA) para o crescimento de vírus dentro das células. 9 A infecção viral altera a arquitetura da célula hospedeira de forma semelhante, como o parvovírus em ratos, 10 mas outros agentes patogênicos também afetam a distribuição de vimentina em células infectadas, com uma distribuição perivacuolar semelhante, como nas infecções por Salmonella. 11 Estudos proteômicos em modelos experimentais da infecção por T.cruzi mostrou níveis plasmáticos de vimentina relacionados à gravidade da doença, 12 que podem oferecer filamentos intracelulares de resposta imune para a produção de anticorpos. Estes dados eram esperados, uma vez que os autoanticorpos da vimentina poderiam estar relacionados à exposição ao antígeno durante a infecção ativa, conforme proposto em modelos experimentais de infecção por T.cruzi . 12 Várias outras doenças imunes que interagem com células musculares cardíacas também apresentaram anticorpos anti-vimentina. Os modelos murinos de miocardite viral apresentaram esses anticorpos 13 assim como também pacientes com febre reumática pós-estreptocócica. 14 A miocardite não infecciosa, como em pacientes com doença arterial coronária 15 e receptores de transplantes renais ou cardíacos 16 também mostrou os anticorpos resultantes de qualquer exposição ao antígeno, sem levar em conta a origem do dano às células do músculo cardíaco. Nossos dados foram semelhantes a esses achados e os anticorpos anti- vimentina induzidos durante a infecção por T.cruzi podem ser um marcador de doença ativa no hospedeiro e seus níveis também podem justificar o tratamento farmacológico em infecção crônica com tripanossomíase americana, já que um grande grupo de pacientes assintomáticos ou indeterminados seriam submetidos a tratamento com frequentes reações adversas aos medicamentos disponíveis. Os anticorpos anti-vimentina podem ser um marcador de danos às células do músculo cardíaco, aparecendo em pacientes com tripanossomíase americana durante o dano das células musculares ativas. Conclusões Nossos dados revelaram que os anticorpos anti-vimentina induzidos durante a atividade da infecção por T. Cruzi poderiam ser um marcador de doença ativa no hospedeiro, apesar da ausência de comprometimento clínico óbvio. Este ensaio também pode ser um teste de seguimento não‑invasivo durante o tratamento farmacológico na doença de Chagas ou na tripanossomíase americana. Este teste poderia permitir a seleção de potenciais pacientes ativos para terapia e também fornecer um marcador de atividade da doença após a terapia, impedindo que um grande grupo de pacientes assintomáticos sem doença ativa seja submetido ao tratamento com reações adversas frequentes. Os anticorpos anti-vimentina podem ser um marcador da afecção inflamatória das células do músculo cardíaco apresentadas por pacientes com tripanossomíase americana com dano celular ativo e devem ser analisados em outras condições inflamatórias do músculo cardíaco, como a miocardite viral. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Nascimento MS, Stolf AMS, Umezawa ES; Obtenção de dados: Nascimento MS, Stolf MAS; Análise e interpretação dos dados: Nascimento MS, Stolf AMS, Andrade Junior HF, Pandey RP, Umezawa ES; Análise estatística: Nascimento MS, Andrade Junior HF; Obtenção de 352

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