ABC | Volume 110, Nº4, Abril 2018

Artigo Original Silva et al Hipotensão postural: análise espectral Arq Bras Cardiol. 2018; 110(4):303-311 Variabilidade da frequência cardíaca As medianas (com intervalos interquartis de 25% e 75%) dos componentes da VFC de toda a população na posição supina foram LF 233,0 ms 2 (130,5 e 422,5), HF 133,0 ms 2 (62,0 e 347,5), LF/HF 1,6 (0,8 e 3,0), e na posição ortostática foram LF 218,0 ms 2 (110,5 e 359,7); HF 76,0 ms 2 (32,0 e 227,0) e LF/HF de 2,1 (1,1 e 4,8). Após comparação desses valores entre as posições supina e ortostática pelo teste de Wilcoxon, não houve diferença em relação ao componente LF (p = 0,080), existindo, contudo, diferença relacionada ao componente HF (p = 0,001) e à relação LF/HF (p < 0,001). Quanto à comparação dos valores absolutos dos componentes da VFC entre os grupos caso e controle, feita pelo teste de Mann-Whitney, a única variável que apresentou diferença significante foi o LF na posição supina (Tabela 3). Devido ao intervalo dos dados da VFC, foi feita a transformação logarítmica dos valores dos componentes da VFC, mantendo-se os mesmos valores de p. Para análise do comportamento da VFC com a mudança de posição, foi feita a comparação entre as medianas das diferenças dos componentes LF entre os grupos caso e o controle (ou seja, entre a posição supina e ortostática – mediana de -0,27 ms 2 ) pelo teste de Mann‑Whitney (p = 0,43). Em relação às medianas das diferenças do componente HF e da relação LF/HF, os valores foram 33,0 ms 2 e 0,53, respectivamente, e os valores de p das respectivas comparações 0,74 e 0,94. As Figuras 1 e 2 representam a análise dos componentes da VFC nas posições supina e ortostática, respectivamente, de um paciente com HO. As Figuras 3 e 4 representam a análise dos componentes da VFC nas posições supina e ortostática de um paciente sem HO. Análise multivariada por stepwise Para a análise multivariada, foram consideradas as variáveis que apresentaram p ≤ 0,10 na análise univariada, em relação à HO. Assim, as variáveis consideradas foram gênero, uso de IECA, presença de sintomas prévios, FC, componente LF e relação LF/HF nas posições supina e ortostática, e escore de Framingham. A variável independente com significância estatística foi a FC na posição supina, com p = 0,001 e intervalo de confiança de 95% com limite inferior de -0,022 e superior de -0,006. Análise da curva de operação característica Utilizando a análise da curva de operação característica para a variável estável resposta postural sem HO e considerando a variável FC na posição supina, foi obtida a área abaixo da curva de 0,70 (Figura 5), com p = 0,001 (intervalo de confiança de 95%: 0,595-0,796). Omelhor ponto de corte foi de 61 bpm, com sensibilidade de 77,3% e especificidade de 51,3%. O valor preditivo positivo foi de 61,3% e o valor preditivo negativo foi de 69,3%. A razão de chance foi de 3,23 para HO entre os pacientes com FC < 61 bpm. Discussão O principal achado deste estudo foi que a FC na posição supina representou umpreditor independente para a ocorrência de HO na população estudada, não o sendo qualquer dos componentes da VFC. A mediana da FC na posição supina foi significativamente menor no grupo-caso quando comparada à mediana da FC do grupo-controle, namesma posição. Apesar de essa variável ser preditora da ocorrência de HO, com razão de chance de 3,23 para pacientes com FC < 61 bpm, ela não foi considerada bom teste diagnóstico, conforme comprovado por meio da análise da curva de operação característica. O aumento da idade representa um dos principais fatores preditores para a ocorrência de HO. Alterações relacionadas à regulação autonômica da PA e da FC explicam essa correlação. Oaumentodos níveis plasmáticos de noreprinefrina, a diminuição da sensibilidade dos receptores beta-adrenérgicos e as reduções da resposta vasomotora mediada pelos receptores alfa, da resposta do barorreflexo e do tônus parassimpático resultam em mais ocorrência de HO na população idosa. 8,9 Assim, enquanto aproximadamente 5% dos adultos de meia-idade apresentam HO, 16 a frequência aumenta para até 41% naqueles com pelo menos 80 anos de idade. 6 No presente estudo, foi feito pareamento de idade entre os pacientes com e semHO, e todos apresentavam pelo menos 60 anos. Dessa forma, não ocorreu interferência dessa variável nos resultados observados. Tabela 2 – Comparação entre os grupos quanto às frequências cardíacas, às pressões arteriais e aos escores de risco cardiovascular Variáveis Grupo-caso Mediana (Q1 – Q3) Grupo-controle Mediana (Q1 – Q3) Valor de p FC supina (bpm) 62,0 (57,0 – 72,0) 69,0 (63,5 – 76,0) 0,001 FC ortostatismo (bpm) 67,0 (60,0 – 76,0) 75,0 (68,0 – 80,0) 0,006 PAS supina (mmHg) 140,0 (130,0 – 160,0) 135,0 (125,8 – 150,0) 0,189 PAD supina (mmHg) 80,0 (70,0 – 90,00 80,0 (78,0 – 86,0) 0,543 PAS ortostatismo (mmHg) 120,0 (110,0 – 135,0) 136,5 (120,0 – 146,2) 0,001 PAD ortostatismo (mmHg) 72,0 (60,0 – 84,0) 80,0 (77,3 – 90,0) 0,001 Escore de Framingham 15,5 (6,0 – 24,3) 12,0 (6,0 – 17,0) 0,063 Escore PROCAM 10,6 (5,01 – 21,4) 11,0 (5,0 – 16,8) 0,537 DP: desvio-padrão; FC: frequência cardíaca; bpm: batimentos por minuto; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; mmHg: milímetros de mercúrio. Teste de Mann-Whitney ; Q1: 25º percentil; Q3: 75º percentil. 306

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