ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Relato de Caso Intoxicação por Propafenona: desde Choque Cardiogénico a Padrão de Brugada Propafenone Overdose: From Cardiogenic Shock to Brugada Pattern Julio Gil, Bruno Marmelo, Luís Abreu, Hugo Antunes, Luís Ferreira dos Santos, José Costa Cabral Serviço de Cardiologia, Centro Hospitalar Tondela, Viseu - Portugal Correspondência: Julio Gil • Av. Rei D. Duarte, lote 12, 3ºDto. CEP: 3500-643, Viseu - Portugal E-mail: juliogilpereira@gmail.com ; juliogilpereira@gmail.com Artigo recebido em 16/09/2016; revisado em 30/09/2016; aceito em 03/11/2016. Palavras-chave Antiarrítmicos; Propafenona; Arritmias Cardíacas; Bloqueadores dos Canais de Cálcio. DOI: 10.5935/abc.20180033 Introdução Propafenona uma droga antiarrítmica classe IC, utilizada no tratamento de arritmias ventriculares e supraventriculares. 1-7 É principalmente umbloqueador de canal de sódio potente, mas tamb m exibe atividades betabloqueadoras e bloqueadoras de canal de cálcio. 4,6,7 A propafenona capaz de induzir importantes mudan as de ECG, como o prolongamento do intervalo de PR, bloqueio atrioventricular do primeiro grau, aumento do QRS e intervalo QT, assim como taquicardia ventricular ou bradicardia. 3,4 Pode estar associada a efeitos pro-arritmogênicos significativos, mesmo em doses terapêuticas. 2 Uma overdose fatal de propafenona costuma estar associada a anormalidades de condu ão, levando a assistolia ou dissocia ão eletromecânica. Os autores descrevem dois casos clínicos de intoxica ão por propafenona commudan as de ECGpotencialmente fatais, mas com um resultado final favorável. Relatório do Caso Caso 1 Paciente do sexo feminino, 44 anos, sem histórico m dico relevante. A paciente foi levada ao pronto-socorro após ingestão voluntária de 4500mg de propafenona. Ao ser trazida ao pronto‑socorro, a paciente teve uma convulsão de curta dura ão, subsequentemente recobrando a consciência. Mediante sua chegada ao pronto-socorro, a doente desenvolveu uma Escala de Coma de Glasgow de 10 (GCS) (Olhos-3, Motor-5, Verbal-2), associado a bradicardia (55 bpm) e hipotensão (pressão sanguínea [PS] 85/30mmHg). Semoutras altera ões relevantes ao exame objetivo. Uma lavagem gástrica foi feita, com a remo ão do que parecia ser resíduos de pílulas. As análises sanguíneas mostraram acidose metabólica. O ECG de entrada mostrou arritmia sinusal, com desvio do eixo para a direita, bloqueio incompleto de ramo direito (RBBB) e altera ões inespecíficas da repolariza ão em DIII, V1 e V2. Após aproximadamente uma hora após o início do tratamento, a paciente sofreu uma convulsão tônico-clônica, devido a bradicardia extrema e alargamento doQRS. Infelizmente, devido à urgência da situa ão e ao estado clínico da paciente, essas mudan as el tricas não puderam ser registradas atrav s de um ECG de 12 deriva ões padrão. Ela foi medicada com atropina e benzodiazepina. Isso resultou em um estado comatoso (escala de Glasgow 3), piora da acidose metabólica e falha respiratória. A paciente foi entubada, colocada em ventila ão mecânica contínua e levada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Mediante sua entrada na UTI, o monitoramento das tiras de ritmo revelou uma fibrila ão atrial com atividade sinusal ocasional, em conjunto com um alargamento do intervalo de QRS (200 milissegundos). Três horas depois, o ritmo sinusal foi restaurado, e o intervalo QRS voltou aos valores normais, com um quase que completo desaparecimento do padrão RBBB. Nas primeiras 6 horas após a interna ão, houve uma estabiliza ão progressiva hemodinâmica e clínica, permitindo um retiro gradual do suporte amin rgico e ventilatório. No segundo dia, a paciente estava consciente e hemodinamicamente estável. Ela recebeu alta após uma consulta psiquiátrica. Caso 2 Paciente do sexo feminino, 56 anos, com histórico de fibrila ão atrial e depressão severa, medicada com propafenona 150mg duas vezes ao dia, e duloxetina 60 mg uma vez ao dia. A paciente foi primeiro observada em um pequeno hospital comunitário, após ingerir voluntariamente 3000 mg de propafenona. Na referida institui ão, mediante sua chegada, a paciente estava completamente acordada, e uma lavagem gástrica foi iniciada. Contudo, logo depois, ela desenvolveu uma convulsão clônica, seguida por dois episódios de parada cardíaca, devido a bradicardia extrema. A ressuscita ão foi conseguida após menos de 2 minutos de suporte avan ado de vida e administra ão de atropina. Após assegurar estabilidade hemodinâmica e el trica, a paciente foi transportada para um hospital centralizado. Por ocasião da interna ão, ela estava bradicárdica (50 bpm), normotensiva (BP 139/89 mmHg), e com uma escala de Glasgow de 14 (Olhos 4, Motor 6, Verbal 4). Um ECG revelou um ritmo juncional, com um padrão de Brugada tipo 1 nas deriva ões V1 a V3 (Figura 2). A paciente foi internada na UTI para monitoramento. Após 24 horas de estabilidade clínica, hemodinâmica e el trica, um novo ECG foi realizado, revelando ritmo sinusal e o desaparecimento do padrão de Brugada. Discussão A propafenona um agente antiarrítmico Vaughan Williams de Classe IC e, deste modo, um bloqueador de canal de sódio 292

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