ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo de Revisão Ker et al Implicações práticas da pesquisa de viabilidade miocárdica Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):278-288 O “miocárdio atordoado” recebe esta denomina ão, pois resulta de rápido episódio de oclusão coronária grave, com posterior restaura ão do fluxo sanguíneo coronário. A abrupta diminui ão do fluxo causa disfun ão contrátil, que persiste, mesmo após este ser restaurado. Há, geralmente, mínima necrose, mas a fun ão ventricular pode permanecer prejudicada por tempo prolongado, o que pode variar de horas a semanas. Um grupo de pesquisadores, 9 avaliando a fun ão ventricular em pacientes com coronariopatia, demonstraram que episódios repetitivos de isquemia podem levar a um atordoamento cumulativo, que contribui para o desenvolvimento da disfun ão ventricular esquerda crônica pós-isquêmica. Um fator relevante que graus semelhantes de disfun ão ventricular esquerda em pacientes distintos podem estar associados a diferen as significativas da propor ão de viabilidade miocárdica. Al m disso, a viabilidade não está relacionada com a espessura de parede miocárdica, haja vista que afinamento de parede ventricular não significa ausência de viabilidade miocárdica. 10 “Miocárdio hibernante” tem sido definido como regiões com grave disfun ão sistólica com evidência de hipoperfusão em repouso; 3 representa um miocárdio com celularidade preservada, por m com fluxo sanguíneo reduzido, o que leva à fun ão ventricular deprimida, mesmo em repouso. 11 O postulado inicial sobre miocárdio hibernante caracterizava-o como adapta ão à hipoperfusão crônica, por m não tão significativo a ponto de provocar infarto do miocárdio 12 e foi apoiado por estudos de áreas miocárdicas disfuncionais e com reduzido fluxo sanguíneo, que foram analisadas por RMC e t cnicas de imagem PET. 13,14 A patogênese do miocárdio hibernante, contudo, ainda não foi elucidada e motivo de estudos; acredita-se, entretanto, estar condicionada a uma possível redu ão da regula ão funcional por comprometimento mitocondrial, a fim de proteger a c lula muscular cardíaca do fenômeno isquêmico. 11,15 Sabe-se, por m, que a hiberna ão carrega consigo altera ões celulares e extracelulares, que podem estar ligadas ao tempo de reversibilidade do processo, 12 que pode variar de dias at 14 meses. 16,17 Implicações clínicas A avalia ão de viabilidade pode contribuir de modo significativo na identifica ão dos pacientes nos quais o procedimento de revasculariza ão pode levar à benefício, em especial melhora da fun ão ventricular e da sobrevida. Para demonstrar a utilidade clínica da demonstra ão de viabilidade, uma metanálise foi feita com 24 estudos que avaliavam diferentes t cnicas de detec ão de viabilidade nos Figura 1 – Características principais da fisiopatologia do miocárdio atordoado e hibernante [baseado em Chareonthaitawee et al. 8 ] Miocárdio atordoado e hibernante na fisiopatologia da disfunção reversível do ventrículo esquerdo Mecanismo diferentes e semelhanças Miocárdio Atordoado • Efeito adverso de lesão isquêmica • Sem alterações histopatológicas Miocárdio Hibernante • Segundo pesquisas, proteção à adaptação de redução de fluxo sanguíneo ou isquemia Manutenção da viabilidade Progressivas e dinâmicas alterações histopatológicas Atordoamento Repetitivo • Pode levar ao processo de transição entre miocárdio atordoado e Miocárdio Hibernante na redução servera da reserva de fluxo coronariano • Alterações histopatológicas progressivas e dinãmicas. 279

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