ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo Original Lemos et al Exercício melhora as arteríolas esplênicas em SHR Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):263-269 Introdução A hipertensão essencial está intimamente relacionada aos vasos sanguíneos, sendo caracterizada por eleva ão crônica da resistência vascular perif rica, resultando principalmente de altera ões funcionais e estruturais da microcircula ão. Tais lesões podem ser tanto a causa quanto a consequência da eleva ão da pressão arterial (PA). 1 As principais vias que interagem para desenvolver mudan as morfológicas nas arteríolas na hipertensão podem comprometer os vasos esplênicos (hialinose arteriolar, necrose fibrinoide), al m do espa o intersticial, causando fibrose. 2-5 A hialinose arteriolar ocorre pela filtra ão das proteínas plasmáticas atrav s do endot lio. Isso não exclusividade de nenhuma doen a, sendo observada em arteríolas no envelhecimento normal, especialmente nas do ba o. Entretanto, ocorre de maneira mais precoce e intensa na hipertensão arterial. 6 O sistema nervoso autônomo desempenha papel‑chave na estabiliza ão do controle da PA para manter a homeostase. Quanto a isso, a literatura mostra que o sistema nervoso simpático (SNS) pode contribuir de maneira incisiva no desenvolvimento de algumas formas de hipertensão. Há larga evidência da participa ão desse sistema no controle das fun ões cardiovascular e metabólica normais, e ainda do seu papel na gênese e manuten ão de várias doen as. A importância da compreensão de como funciona o SNS e os sistemas a ele relacionados essencial não apenas para elucidar a fisiologia de algumas doen as, mas para entender como os fármacos que atuam no sistema adren rgico interferem com a evolu ão das patologias, alterando de maneira significativa o prognóstico dos pacientes. 7 Há evidência experimental de que o exercício crônico produza benefícios para o sistema cardiovascular atrav s de altera ões no controle neural da circula ão. Tais efeitos incluem redu ões na PA, atividade simpática 8 e resistência vascular 9 concomitantemente com a atenua ão da lesão em órgãos-alvo. 10 Se existe rela ão entre treinamento físico e diminui ão da resistência vascular, os mecanismos pelos quais o exercício crônico melhora a morfometria arteriolar esplênica não estão bem estabelecidos. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do treinamento físico na atividade simpática e nas lesões arteriolares no ba o de ratos espontaneamente hipertensos (SHR). Métodos Modelo animal e protocolo de treinamento físico Este estudo avaliou 40 ratos machos [SHR e Wistar Kyoto (WKY)], com idade de 45-50 semanas, que foram aleatoriamente designados para quatro grupos experimentais de 10 ratos cada: SHR T eWKY T (ratos submetidos ao protocolo de treinamento com nata ão); e SHR S e WKY S (ratos mantidos sedentários pelo mesmo período de tempo). O tamanho da amostra (n) foi determinado com base em estudos que avaliaram os efeitos do treinamento físico na hipertensão. Tais estudos serviram de base para a presente pesquisa para investigar os efeitos cardiovasculares do exercício acumulado. 11,12 Todos os animais foram mantidos em gaiolas (n = 3) em temperatura ambiente, em torno de 23°C, umidade de 40-70% e ciclo claro/escuro de 12 horas. Procurou-se evitar desconforto desnecessário aos animais, em conformidade com o Conselho Nacional de Controle de Experimenta ão Animal. Todos os protocolos foram aprovados pelo Comitê de Uso de Animais de Experimenta ão (#271/2013) local, sendo realizados de acordo com as Diretrizes para Cuidado e Utiliza ão de Animais de Experimenta ão dos National Institutes of Health . Oprotocolo de nata ão foi realizado emum tanque de vidro com água à temperatura ambiente mantida em 30° ± 1°C. Os animais treinados foram submetidos a um período de adapta ão de 20 minutos no primeiro dia, com acr scimo de 10 minutos a cada dia at se alcan ar 1 hora no quinto dia. 13 Após esse período, os ratos treinaram 5 dias/semana com uma gradual progressão at sessões de 2 horas de dura ão por 9 semanas. Esse protocolo definido como treinamento de resistência aeróbica de baixa intensidade, pois os animais nadaram sem carga adicional, correspondendo a intensidade abaixo do limiar anaeróbico de ratos. 14 Os animais sedentários foram colocados no tanque de nata ão por 10 minutos, duas vezes por semana para imitar o estresse associado com a água no protocolo experimental. Procedimentos cirúrgicos e registro dos parâmetros hemodinâmicos Após 24 horas da última sessão de treinamento físico, todos os animais foram anestesiados com pentobarbital sódico (40 mg/kg ip) e cânulas de polietileno (PE-10) foram implantadas na art ria femoral, para registro cardiovascular, e na veia femoral, para infusão de fármaco. Em seguida, as cânulas de polietileno foram exteriorizadas na região posterior do pesco o do animal. Os ratos receberam alimento e água ad libitum , sendo estudados um dia após a inser ão das cânulas. Realizou-se tratamento profilático com antibióticos e anti-inflamatórios para prevenir infec ões e inflama ão após a cirurgia, respectivamente. 15 Após 48 horas da recupera ão da anestesia e cirurgia, a cânula arterial foi conectada ao transdutor de PA e ao amplificador de sinal (Modelo 8805A, Hewlett-Packard, EUA), com conversão para a placa de sinal analógico-digital (frequência de amostragem - 1000 Hz) por um sistema computadorizado de aquisi ão de dados (Aqdados, Tec Lynx. Eletron. SA, São Paulo, Brasil) e armazenamento no computador. Os animais forammantidos em ambiente calmo por 15 minutos, com posterior registro contínuo de PA pulsátil adaptativa basal por 30 minutos. Durante o procedimento experimental, os seguintes parâmetros foram derivados da PA pulsátil: PA sistólica (PAS), PA diastólica (PAD), PA m dia (PAM) e frequência cardíaca (FC). Tônus cardíaco autônomo Para avaliar a influência do treinamento físico no controle autônomo do cora ão, realizamos bloqueio autônomo simpático e vagal após inje ões endovenosas de propranolol (5mg/kg) e atropina (4mg/kg), respectivamente, para calcular os efeitos simpático e vagal, assim como a FC intrínseca (FCi) e o índice simpatovagal. 14 Os bloqueadores autônomos foram administrados em sequência aleatória a intervalos de 15minutos. Após o duplo bloqueio, os registros cardiovasculares 264

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