ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo Original Rodrigues et al Treinamento aeróbico em camundongos β 1ARKO Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):256-262 Introdução Hiperatividade simpática crônica resultante de altera ão do equilíbrio do sistema nervoso autônomo comum em muitas doen as cardiovasculares, levando a insuficiência cardíaca (IC) e estando relacionada a maior incidência de morbimortalidade. 1,2 Tal hiperatividade acompanha-se de diminui ão da densidade dos receptores β -adren rgicos ( β -AR) e dessensibiliza ão dos β -AR restantes, levando a redu ão da resposta cardíaca contrátil à ativa ão dos β -AR. 3 Nesse contexto, o β 1 -AR, predominante no cora ão, seletivamente reduzido, resultando em uma modifica ão da rela ão entre os subtipos β 1 e β 2 , 4 estando o β 2 -AR acentuadamente acoplado à proteína G inibitória. 5 Como consequência, como o β 1 -AR fosforila várias proteínas reguladoras do Ca 2+ envolvidas na excita ão‑contra ão do cardiomiócito, 5-7 o cronotropismo, o inotropismo e o lusitropismo cardíacos acham-se comprometidos na estimula ão adren rgica. 8 Treinamento físico na reabilita ão cardíaca muito importante em várias doen as cardiovasculares, incluindo IC crônica. 9 Exercício aeróbico contínuo de intensidade moderada (EACM) , atualmente, a melhor forma de exercício para aquela popula ão, devido à sua eficácia e seguran a. 10 Por exemplo, o treinamento aeróbico recupera o equilíbrio autonômico de repouso em pacientes com IC ao reduzir a atividade nervosa simpática de repouso, 11 restaurando o tônus parassimpático ao cora ão. 12,13 No miocárdio, o treinamento aeróbico aumenta o volume de eje ão, e, portanto, o d bito cardíaco em pacientes com IC 14,15 e modelos animais de IC, 8 embora alguns estudos não tenham conseguido confirmar tais benefícios. 11,12 No nível celular, estudos em modelos animais de hiperatividade simpática demonstraram que o treinamento aeróbico melhora o saldo das proteínas envolvidas na mobiliza ão do Ca 2+ cardíaco isoladamente 8,16 ou em combina ão com betabloqueadores. 17 Entretanto, se o treinamento com EACM afeta as propriedades mecânicas de miócitos isolados em um cora ão desprovido de β 1 -AR precisa ser elucidado. Este estudo visou a testar os efeitos de um programa de EACM nas propriedades mecânicas de miócitos do ventrículo esquerdo (VE) isolados em camundongos com nocaute para o receptor β 1 -adren rgico ( β 1 ARKO). Levantamos a hipótese de que o treinamento com EACM afeta positivamente as propriedades mecânicas dos miócitos do VE de camundongos β 1 ARKO. Métodos Animais experimentais Estudou-se uma coorte de camundongos machos com 4 a 5 meses de idade, wild-type (WT) e β 1 ARKO congênicos no marcador gen tico C57Bl6/J. Os camundongos foram mantidos em gaiolas com ciclos de claro/escuro de 12 horas, em ambiente com temperatura controlada (22°C) e livre acesso a água e dieta padrão para roedores. Os camundongos β 1 ARKO e WT foram aleatoriamente designados para um dos seguintes grupos usando-se amostragem aleatória simples: WT controle (WTc), WT treinado (WTt), β 1 ARKO controle ( β 1 ARKOc) e β 1 ARKO treinado ( β 1 ARKOt). O tamanho da amostra foi definido por conveniência. Em todos os grupos, iniciou-se o período experimental com oito animais, mas, durante o procedimento de isolamento do cardiomiócito, alguns animais/cora ões foram perdidos. Assim, o número final de animais em cada grupo acha-se especificado nas figuras e tabela. O peso corporal (PC) foi medido toda semana. Os protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética para Uso de Animais da Universidade Federal de Vi osa (protocolo #59/2012) conforme o Manual de Cuidado e Uso de Animais de Laboratório/2011. Protocolo de treinamento físico e teste de esforço em esteira rolante O EACM foi realizado em esteira rolante motorizada (Insight Equipamentos Científicos, Brasil), 5 dias/semana (segunda a sexta-feira), 60 min/dia, por 8 semanas. Ao longo da primeira semana, a dura ão e a velocidade do exercício foram progressivamente aumentadas de 10 minutos e 10% da velocidade máxima at 60 minutos e 60% da velocidade máxima obtida durante teste de esfor o em esteira rolante. Ao final da quarta semana de treinamento aeróbico, repetiu‑se o teste de esfor o em esteira rolante para reajuste da velocidade da corrida. Essa intensidade foi mantida durante o resto do período de treinamento. Os animais dos grupos não treinados foram manipulados diariamente e submetidos a curto período de exercício leve (5 min, inclina ão de 0%, 5 m/min, 3 dias/semana) durante o período de treinamento. A capacidade de exercício estimada pela distância total corrida foi avaliada usando-se um protocolo de exercício em esteira rolante para camundongos (Panlab/Harvard Apparatus, Espanha), como já descrito. 18 Resumidamente, após adapta ão em esteira rolante por uma semana (10 min/dia, inclina ão de 0%, 0,3 km/h), os camundongos foram colocados na faixa de exercício para aclimata ão por pelo menos 30 minutos. O teste de esfor o em esteira rolante come ou com 6 m/min e nenhuma inclina ão, aumentando 3 m/min a cada 3 minutos at a fadiga, que foi definida como a interrup ão do teste porque os animais não conseguiam mais acompanhar a velocidade da esteira rolante. O teste de esfor o em esteira rolante foi realizado nos grupos WTc, WTt, β 1 ARKOc e β 1 ARKOt antes e depois do período de treinamento físico. Isolamento do cardiomiócito Após 48 horas da última sessão de treinamento físico, os camundongos foram pesados e sacrificados por decapita ão, sendo seus cora ões removidos rapidamente. Os miócitos do VE foram enzimaticamente isolados como descrito. 19 Resumidamente, os cora ões forammontados em um sistema Langendorff e perfundidos com solu ão HEPES-Tyrode sem cálcio por 6 minutos com a seguinte composi ão (em mM): 130 NaCl, 1,43 MgCl 2 , 5,4 KCl, 0,4 NaH 2 PO 4 , 0,75 CaCl 2 , 25 HEPES, 22 glicose, 0,01 μg/ml insulina, 0,1 EGTA, pH 7,4, a 37°C. Em seguida, os cora ões foram perfundidos por 7‑10 minutos com uma solu ão contendo 1 mg/ml de colagenase tipo II (Worthington, EUA) e CaCl 2 (0,8 μM). O cora ão digerido foi então removido do aparelho de perfusão, sendo o cora ão e o VE cuidadosamente pesados. O VE foi cortado em pequenos peda os e colocado em 257

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