ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Minieditorial Doenças Cardiovasculares nas Populações Indígenas: Um Indicador de Iniquidade Cardiovascular Diseases in Indigenous Populations: An Indicator Of Inequality Airton Tetelbom Stein Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências de Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre, RS - Brasil Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre, RS - Brasil Correspondência: Airton Tetelbom Stein • Av. Neusa Goulart Brizola, 600/1001. CEP 90460-230, Porto Alegre, RS - Brasil E-mail: airton.stein@gmail.com Palavras-chave Doen as Cardiovasculares / mortalidade; Popula ão Indígena; Urbaniza ão / tendências; Aten ão à Saúde; Mudan a Social; Fatores de Risco. DOI: 10.5935/abc.20180045 O número de artigos que abordam doen a cardiovascular na popula ão indígena insuficiente para se desenvolver uma política de saúde. As condi ões mais frequentemente identificadas entre os indígenas são doen as infectocontagiosas como malária, tuberculose, infec ões respiratórias, hepatite, doen as sexualmente transmissíveis, entre outras. No entanto, as doen as crônicas não transmissíveis (DCNTs) estão cada vez mais frequentes nessa popula ão, decorrentes do processo de urbaniza ão e estilo de vida. Ainda, existem dificuldades logísticas no manejo dessas doen as, uma vez que requerem atendimento m dico continuado e a ões de promo ão de saúde em regiões de difícil acesso. O estudo original e bem conduzido de Armstrong e colegas auxilia a preencher essa lacuna de conhecimento, pois enfatiza o impacto de um investimento governamental, que por um lado busca o desenvolvimento no país, e por outro mostra a exposi ão e os efeitos adversos da mudan a no estilo de vida do indígena. O artigo apresenta uma associa ão entre mortalidade por doen a cardiovascular com o rápido processo de urbaniza ão, mesmo sendo um artigo com algumas limita ões metodológicas. 1 Este processo não acontece apenas no Brasil, e em estudo conduzido em popula ão indígena no sudoeste da Ásia mostrou a influência da urbaniza ão sobre a transi ão epidemiológica e o aumento de DCNTs. 2 A expectativa de vida e as taxas de doen as diferem muito dependendo das características demográficas e geográficas de onde as pessoas vivem. 3 O sistema de saúde tem um papel importante de reduzir a iniquidade, e essencial a implementa ão de interven ões intersetoriais no nível de comunidade, especialmente em fun ão do contingenciamento de recursos e necessidade de indicar interven ões efetivas. O m dico de família e comunidade em conjunto com a equipe de saúde deve buscar estimular a manuten ão da cultura indígena tradicional e integrar a popula ão indígena na sociedade, quando ocorrer urbaniza ão no seu habitat. A aten ão básica deve procurar identificar e desenvolver estrat gias em rela ão aos determinantes sociais, que são relevantes tanto para doen as transmissíveis quanto para as DCNTs. 4 O contexto que os profissionais de saúde constatam ao se depararem com situa ões como a descrita que a popula ão tem uma alta prevalência de fatores de risco de DCNTs como sobrepeso, tabagismo, alcoolismo e dieta não saudável. Essa situa ão, decorrente da transi ão epidemiológica, ainda tem um agravante em popula ões indígenas, as quais apresentam concomitantemente doen as infectocontagiosas. O estudo clássico de Geoffrey Rose, 5 ainda muito atual, em que aponta a necessidade de examinar a causa das causas, especialmente quando ocorre uma rápida urbaniza ão, semum planejamento abrangente, e que leva a uma piora da qualidade de vida em fun ão do estresse decorrente dos novos desafios, e da exposi ão de fatores de risco de doen as cardiovasculares. Portanto, o presente estudo mostra que a popula ão indígena se caracteriza como vulnerável e apresenta condi ões de saúde que requerem um planejamento pelos gestores. Esses devem considerar a dificuldade dessa popula ão de se integraremna sociedade e de terem acesso ao servi o de saúde, que deve estar preparado para atender suas especificidades. O sistema de saúde no atendimento à popula ão indígena deve estar preparado para as altas taxas de comportamento não saudável e condi ões sociais adversas decorrentes de ambientes não saudáveis – características que levam à iniquidade, como o que ocorre no Vale de São Francisco no nordeste do Brasil. Um número crescente de interven ões sobre DCNTs com o objetivo de alcan ar as Metas de Desenvolvimento Sustentável são descritas e a publica ão de seus resultados na literatura acadêmica deve ser altamente encorajado para promover uma melhor prática. 6 O papel de revistas como o Arquivos Brasileiros de Cardiologia informar a frequência de doen as cardiovasculares, bem como seu enfoque etiológico, diagnóstico, prognóstico e quais interven ões são efetivas e que devem ser incentivadas pelos gestores. Esta informa ão especialmente relevante na popula ão indígena, a qual tem uma tendência de aumento da incidência de doen as cardiovasculares influenciadas pela urbaniza ão. As a ões desenvolvimentistas do governo, particularmente onde moram popula ões indígenas, devem incluir a ões intersetorias para mitigar os problemas de saúde e a iniquidade nessa popula ão. 246

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