ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo Original Armstrong et al Urbanização e mortalidade CV em populações indígenas Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):240-245 Tabela 1 – Descrição das populações indígenas da Bacia do Rio São Francisco de acordo com os grupos do estudo Grupos Etnia População ¥ Povoados Total de mortes* Grupo 1 Funi-ô 4.564 7 58 Pankararu 7.650 27 161 Kiriri 2.185 15 36 Pankararé 1.535 11 26 TOTAL 15.934 281 Grupo 2 Tuxá 1.665 11 26 Truká 6.741 36 39 Tumbalalá 1.220 8 8 TOTAL 9.626 73 ¥ Como registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para 2012; *Mortes de indígenas ≥ 30 anos, entre 2007 e 2011. Figura 1 – Distribuição da mortalidade nas comunidades indígenas do Vale do São Francisco de acordo com a faixa etária. 2007–2009 2010–2011 Anos 30-49 50-64 50-64 65-74 65-74 75+ 75+ 30-49 Faixa etária Discussão Pela primeira vez na literatura, mostramos que a mortalidade indígena no Vale do São Francisco tendeu a ocorrer em uma idade mais precoce no período estudado, com aumento crescente de mortes CV. A eleva ão nas taxas de mortalidade CV no povo indígena que vive em uma área de rápido desenvolvimento infraestrutural pode indicar que tal popula ão acha-se amea ada devido a mudan as relacionadas ao processo de urbaniza ão. Conhecer o risco e a mortalidade CV pode auxiliar no planejamento de políticas de saúde para popula ões indígenas tradicionais amea adas. Analisamos as taxas de mortalidade disponíveis, que, em geral, são uma fonte confiável de informa ão, para explorar a carga CV indígena no Vale do São Francisco no Nordeste do Brasil. Tal área tem experimentado um acelerado desenvolvimento infraestrutural, como a constru ão de grandes canais e represas. Recentemente, usinas hidroel tricas foram erguidas ao longo do rio São Francisco, que agora tem a maior concentra ão dessas usinas no Brasil. 9 Nossos achados indicam que as popula ões indígenas tradicionais afetadas pelo rápido processo de urbaniza ão apresentam maior risco de mortalidade CV. A rela ão entre urbaniza ão e risco CV pode ir al m da etnia. Nesse aspecto, afro-americanos apresentaram maiores taxas de mortalidade por doen a coronariana do que os brancos, mas parece haver disparidades adicionais conforme o grau de urbaniza ão da popula ão. As taxas de mortalidade por doen a coronariana ao longo dos anos mostraram maior declínio nas grandes metrópoles do que nas áreas rurais. 13 Achados semelhantes foram relatados em vários países. 14-16 Há escassez de relatos sobre a saúde indígena no Brasil, mas pesquisas sugerem que o perfil de risco CV do povo indígena seja menos favorável do que o 242

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