ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo Original De-Paula et al Impacto da asma na função ventricular Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):231-239 Tabela 3 – Parâmetros de ecocardiografia Doppler das funções sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo nos grupos controle e asmático Variável (valor normal) Função sistólica p Controle (n = 18) Asma (n = 20) Fração de ejeção % (> 35) 69,0 ± 0,47 69,0 ± 0,80 0,4677 T S’ mitral lateral (cm/s) (> 6,7) 8,01 ± 0,20 7,30 ± 0,21 0,0170 M IPM (< 0,55) 0,34 ± 0,01 0,37 ± 0,01 0,0059 T Função Diastólica Razão E'/A' mitral lateral (> 0,82) 2,89 ± 0,09 2,52 ± 0,20 0,1161 T Lateral mitral E' cm/s (> 10,0) 14,32 ± 0,25 13,27 ± 0,43 0,0466 T Razão E/A mitral (> 0,8) 3,42 ± 0,17 2,25 ± 0,14 < 0,0001 T Dados expressos em média ± erro padrão da média. S’: velocidade sistólica do miocárdio; IPM: índice de performance miocárdica; E’: velocidade diastólica inicial do miocárdio; A’: velocidade diastólica tardia do miocárdio; E: pico da velocidade diastólica inicial do anel tricúspide; A: pico da velocidade diastólica tardia do anel tricúspide (contração atrial). Comparação entre os dois grupos foi feita pelo teste t de Student ou o teste não paramétrico de Mann-Whitney. T t de Student e M Mann‑Whitney. O valor de S’ na válvula mitral foi de 7,93 (1,07) e 7,12 (1,08) para grupo controle e grupo de indivíduos asmáticos. foi significativamente menor (p = 0,005) no grupo com asma (74,06 ± 2,54) em compara ão ao grupo controle (92,86 ± 3,71). Em rela ão ao PAQLQ, não foram observadas diferen as entre os sexos em nenhum desses domínios. O domínio “sintomas” teve o maior impacto negativo (5,22 ± 0,23). Discussão Os presentes achados demonstram, pela primeira vez, que o TAP foi significativamente menor e a PSAP foi significativamente maior no grupo com asma em compara ão ao grupo controle. A EDT usada para avaliar medidas quantitativas das velocidades regionais do miocárdio e dos intervalos sistólico e diastólico. 8 A EDT possibilita a detec ão de disfun ão ventricular direita em estágios iniciais da doen a respiratória. 9 No presente estudo, foram encontradas diferen as significativas em E’ e A’ avaliadas nos an is mitral e tricúspide. Al m disso, o IPM dos ventrículos direito e esquerdo foi significativamente maior no grupo com asma. Interessante notar que a endurance muscular inspiratória, o nível de atividade física basal e a capacidade funcional foram similares entre os grupos. De modo geral, esses resultados sugerem que os parâmetros ecocardiográficos, especialmente os de IPM, podem ser úteis como avalia ão complementar de pacientes com asma, permitindo a detec ão precoce das repercussões cardíacas. A intera ão entre doen as respiratórias e a fun ão cardiovascular complexa. Mudan as na estrutura e na fun ão do ventrículo direito estão associadas com hipertensão pulmonar. 5 No presente estudo, apesar de o ecocardiograma convencional não haver demonstrado nenhuma evidência de mudan as na estrutura do ventrículo direito, o grupo com asma mostrou uma redu ão no TAP e um aumento na PASP em compara ão ao grupo controle. Um estudo recente demonstrou que o TAP correlaciona-se inversamente com hemodinâmica pulmonar medida por cateterismo de cora ão direito, e diretamente com complacência arterial pulmonar em crian as. 24 Diferentemente dos resultados descritos por Shedeed, 11 Ozdemir et al., 10 e Zedan et al., 12 não observamos hipertrofia do ventrículo direito no grupo com asma. Ainda, no presente estudo, a ecocardiografia Doppler convencional mostrou diferen a estatisticamente significativa entre os grupos quanto a velocidade de enchimento inicial da tricúspide e velocidade de fluxo tricúspide decorrente da contra ão atrial (E, A e E/A) avaliadas nos an is das valvas mitral e tricúspide. Por outro lado, Shedeed 11 não encontrou diferen as significativas nessas variáveis entre os grupos controle e com asma ou entre os diferentes graus de gravidade da asma. Muitos estudos demonstraram que pacientes com asma apresentam disfun ão diastólica. 9,11,12 De fato, no presente estudo, foram detectadas diferen as significativas entre controles e asmáticos quanto às velocidades diastólicas E’ e A’ do miocárdio bem como à razão E’/A’ avaliada no anel tricúspide. Resultados similares foram encontradas no anel mitral, com redu ão na velocidade miocárdica durante diástole inicial e um aumento na velocidade miocárdica durante a contra ão atrial. Al mdisso, um aumento significativo no TRIV foi encontrado no grupo com asma, contribuindo para um aumento significativo no IPM. O aumento no IPM no ventrículo esquerdo, contudo, ocorreu à custa de uma redu ão na velocidade sistólica no ventrículo. O fenótipo clínico da asma pode afetar diferentemente a performance miocárdica. Zedan et al. 12 compararam o IPM de crian as com asma de acordo com o fenótipo (predominância de respira ão superficial ou sibilo como manifesta ão clínica) e encontraramque aqueles com respira ão superficial apresentam maior IPM. Neste estudo, as crian as e adolescentes asmáticos foram avaliados em um único grupo, com base somente do diagnóstico clínico e espirom trico da asma. No presente estudo, a PImax foi similar entre os grupos, apesar de redu ões significativas no VEF 1 e no índice de Tiffeneau no grupo asmático. Os resultados do estudo envolvendo a for a muscular inspiratória em crian as e adolescentes asmáticos são conflitantes. Alguns estudos mostram que não existe diferen a, 25,26 e outros estudos mostram que a for a dos músculos inspiratórios de crian as e adolescentes asmáticas reduzida em rela ão a outros de mesma idade. 27 Resultados similares foram observados na endurance muscular 237

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