ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Minieditorial Qual o Papel da Ecocardiografia Bidimensional com Speckle Tracking no Diagnóstico e Manejo da Cardiotoxicidade Induzida por Antraciclinas? What is the Role of Two-Dimensional Speckle Tracking Echocardiography in the Diagnosis and Management of Anthracycline-Induced Cardiotoxicity? Isabela Bispo Santos da Silva Costa 1 e Ludhmila Abrahão Hajjar 1,2 Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICESP-HC-FMUSP), São Paulo, SP - Brasil 1 Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (INCOR - HC-FMUSP) São Paulo, SP - Brasil 2 Correspondência: Ludhmila Abrahão Hajjar • Endere o: Av. Dr. Arnaldo, 251 10 andar. CEP 01246-000, Cerqueira C sar, São Paulo, SP - Brasil E-mail: ludhmila@usp.br Palavras-chave Neoplasias; Cardiotoxicidade; Antraciclinas / toxicidade; Disfun ão Ventricular; Troponina; Peptídeos Natriur ticos; Ecocardiografia; Speckle-Tracking . DOI: 10.5935/abc.20180047 O crescente número de pacientes com neoplasias e de sobreviventes 1,2 tem despertado na comunidade científica o interesse em diagnosticar e tratar precocemente os efeitos que as neoplasias e/ou seus tratamentos trazem aos pacientes. Nesse cenário, a injúria causada ao sistema cardiovascular espectral, podendo acometer todas as estruturas do sistema cardiovascular, com variabilidade clínica desde formas assintomáticas at morte cardiovascular. A disfun ão ventricular o foco da maioria dos estudos de cardiotoxicidade pela gravidade de sua apresenta ão e por representar a principal causa de mortalidade tardia não oncológica nos sobreviventes de neoplasias. 3 As antraciclinas são as drogas mais comumente relacionadas à disfun ão ventricular em pacientes oncológicos. 4 Estudos recentes relataram que o dano relacionado a essas drogas ocorre de modo contínuo a partir da lesão celular e evolui para a disfun ão ventricular quando não identificado e tratado de modo precoce. Na última d cada, vários estudos foram publicados demonstrando que a detec ão subclínica de cardiotoxicidade, por meio da libera ão de biomarcadores como a troponina e o BNP, pode representar uma oportunidade de preven ão da injúria cardiovascular propriamente dita, propiciando tratamento precoce e seguimento individualizado mais adequado. 5-8 Outro desafio atual na cardiotoxicidade o entendimento da história natural dos sobreviventes das neoplasias. Pouco se conhece sobre a prevalência de doen a cardiovascular nesse grupo, não estando definidas, portanto, as estrat gias de seguimento a longo prazo desses pacientes. Nessa edi ão, Kang et al., 9 apresentam contribui ão relevante ao diagnóstico da cardiotoxicidade induzida por antraciclina. Em uma coorte de sobreviventes de linfoma não Hodgkin difuso de grandes c lulas B tratados com antraciclinas, aqueles autores mostram que, quando comparados a controles saudáveis, esses pacientes têm menores valores de strain circunferencial e longitudinal mensurados pelo ecocardiograma em uma popula ão de pacientes com fra ão de eje ão normal. Esses achados foram evidenciados primordialmente por altera ões nos segmentos subendocárdicos. De modo semelhante a estudos anteriores, 10 eles refor am que a medida do strain radial tem pouca importância nessa popula ão. A análise inter- e intraobservador refor a que os dados obtidos são reprodutíveis de modo seguro. Kang et al., 9 não observaram rela ão direta entre a dose de antraciclina e os valores do strain , suscitando a ideia de que o dano ao miocárdio, refletido pela altera ão da deforma ão miocárdica, pode ocorrer mesmo em doses consideradas não cardiotóxicas (menores que 240 mg/m 2 ), uma vez que a popula ão estudada fez uso de doses que variavam de 150,94 mg/m 2 a 440,00 mg/m 2 . Trata-se de um estudo observacional com pequeno número de pacientes, por m o achado tem relevância clínica a ser explorada à luz do conhecimento da cardiotoxicidade. Persiste a ser definido se tal achado apenas ummarcador de resposta quimioterápica ou se representa o início da fisiopatologia da lesão cardiovascular clinicamente manifesta. Outro fato a ser esclarecido com novos estudos se a própria neoplasia, por suas altera ões endoteliais, poderia estar relacionada a altera ões no strain . Mesmo sem respostas definitivas, o estudo de Kang et al., 9 adiciona à literatura mais dados para refor ar a importância de se aliar à prática clínica um m todo não invasivo com boa sensibilidade para auxiliar no manejo do paciente oncológico, durante e após o tratamento quimioterápico. 10,11 229

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