ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Minieditorial A Interface entre Osteoporose e Aterosclerose em Mulheres Pós‑Menopausa The Interface between Osteoporosis and Atherosclerosis in Postmenopausal Women Neuza H. M. Lopes Unidade de Coronária Crônica - Instituto do Coração (InCor) - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil Correspondência: Neuza H. M. Lopes • Av. Dr. En as de Carvalho Aguiar, 44 - Unidade de Coronária Crônica. CEP 05403-000, São Paulo, SP - Brasil E-mail: neuzalopes1@gmail.com Palavras-chave Aterosclerose / fisiopatologia; Osteoporose / fisiopatologia; Doen as Ósseas Metabólicas; Mulheres, Pós-Menopausa. DOI: 10.5935/abc.20180050 A associa ão entre osteoporose e doen a cardiovascular aterosclerótica, independente da idade, tem sido descrita nos últimos anos e enfatiza semelhan as epidemiológicas e fisiopatogênicas entre a calcifica ão da parede arterial e osteogênese. 1,2 Estudos transversais e prospectivos têm ressaltado associa ão negativa e significativa entre baixos valores das medidas de massa óssea, fratura por osteoporose, calcifica ão vascular, extensão de lesão coronariana e de aorta abdominal e mortalidade cardiovascular. 3-5 Acredita‑se que a ocorrência concomitante das duas doen as seja decorrente dos fatores de risco e mecanismos fisiopatológicos e moleculares comuns. No entanto, ainda controverso se a baixa massa óssea resulta de maior calcifica ão arterial ou vice-versa, ou ainda, se compartilham apenas o mesmo mecanismo fisiopatológico. Os fatores de risco para osteoporose e doen a aterosclerótica incluem a falta de estrogênio, hormônio da paratireoide, homocisteína e vitamina K, produtos de oxida ão lipídica, processo inflamatório, excesso de vitaminas D, vias moleculares similares envolvidos na mineraliza ão óssea e vascular e mecanismos de calcifica ão que parecem ser semelhantes na estrutura vascular e no osso. 6 A calcifica ão arterial um achado presente emmais de 90% das lesões por aterosclerose. O processo inicia-se com a forma ão de vesículas na matriz endotelial, seguida por prolifera ão da camada m dio-intimal da art ria e posterior mineraliza ão, semelhante à ocorrida no tecido ósseo. Vários reguladores da remodela ão óssea, como a osteocalcina, cristais de hidroxiapatita, osteopontina, proteína morfogen tica óssea 2 (BMP-2), osteoprotegerina, esclerostina, proteína dikkopf (DKK), leptina, lipídios oxidados e o fator relacionado ao sensor de cálcio, já foram descritos em lesões ateroscleróticas calcificadas. 7 A doen a vascular aterosclerótica mais comum em mulheres com osteoporose e osteopenia quando comparadas com mulheres sem osteoporose e osteopenia. 5,6 Foi relatado aumento nas taxas de mortalidade relacionadas com doen a cardiovascular em idades avan adas para mulheres pós‑menopausa com baixo conteúdo mineral ósseo. Apesar de um aumento não significativo do infarto do miocárdio com uma taxa de 22% em mulheres com baixa densidade mineral óssea (DMO), há aumento significativo em homens com DMO baixa, com uma taxa de 39%. 2 O artigo de Cheng et al., 8 nesta edi ão traz mais uma contribui ão a esse cenário. Os autores demonstraram uma associa ão inversa entre DMO e extensão de doen a arterial coronariana em mulheres na pós-menopausa. Eles estudaram 122 mulheres na pós-menopausa com diagnóstico de doen a arterial coronariana (síndrome coronariana aguda ou angina estável) com densitometria óssea pr via de rotina com at 1 ano antes da avalia ão da carga aterosclerótica definida pelo escore de Gensini pela angiografia invasiva. A densidademineral do colo femoral foi medida por absor ão de raios-X de dupla energia (DXA). A presen a de osteopenia/osteoporose no colo do fêmur associou-se comum risco aumentado de apresentar lesões coronarianas graves. O modelo de regressão múltipla mostrou que os escores T foram preditores independentes de maior gravidade de escore de Gensini. Este estudo soma-se a outros trabalhos, indicando uma associa ão entre a DMO e gravidade de doen a aterosclerótica coronariana, sugerindo que a DMO possa ser um marcador independente de gravidade da doen a. Estudos prospectivos com um maior número de pacientes e com exames seriados de DMO se faz necessário para estabelecer o real papel preditor de risco dos escores T para desenvolvimento de CAD grave em mulheres e homens. Na prática clínica, sugere-se que pacientes com osteoporose deveriam tamb m ser avaliados para o risco de doen a arterial coronária mais grave. 217

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