ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Artigo Original Xu et al Associação entre gravidade das lesões coronarianas e DMO Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):211-216 Introdução A aterosclerose (AS) uma das doen as mais frequentes em idosos, principalmente em mulheres no período pós‑menopausa. Complica ões da AS, incluindo doen a arterial coronariana (DAC) e doen as cerebrovasculares, levam à redu ão na qualidade de vida e aumento da morbidade. 1 Estudos epidemiológicos demonstraram que as taxas de morbidade e de mortalidade da DAC são significativamente maiores em mulheres no período pós-menopausa em compara ão a mulheres no período pr -menopausa. 2 Diferentemente de mulheres mais jovens, o risco de DAC em mulheres mais velhas maior quando ocorre uma redu ão na produ ão de estrógeno, marcando o final do efeito protetor de estrógenos endógenos contra a DAC. 3-5 Portanto, identificar os fatores de riso associados com DAC em mulheres no período pós-menopausa fundamental para melhorar a taxa de sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes. Recentemente, evidências crescentes refor am a existência de uma correla ão entre uma baixa densidade mineral óssea (DMO) e AS. 6-8 A AS e a osteopenia / osteoporose apresentam alguns fatores de risco similares, tais como hormônio da paratireoide, falta de estrógeno, homocisteína, processo inflamatório, vitaminas D e K, produtos da oxida ão lipídica, vias moleculares envolvidas na mineraliza ão óssea e vascular, e mecanismos de calcifica ão aparentemente similares nas estruturas vascular e óssea. 9,10 Em um estudo pr vio, demonstramos que os escores de cálcio coronário (ECCs), um sinal precoce de AS da art ria coronária, eram significativamente maiores nos grupos com osteopenia/osteoporose em compara ão aos grupos comDMO normal, e que esses valores estavam negativamente associados com escore T. Esses dados indicam que DMO reduzida pode aumenta o risco de DAC. 11 Contudo, pouco se sabe sobre a associa ão ente DMO diminuída e a gravidade das lesões coronarianas em mulheres no período pós-menopausa. Portanto, o objetivo deste estudo transversal foi avaliar associa ões ente DMO e lesões coronarianas avaliadas pelo escore de Gensini em mulheres pós-menopausa atendidas em nosso laboratório, cuja DMO foi medida e agrupada por gravidade de DAC. Métodos População do estudo Foram incluídas no estudo 122 pacientes do sexo feminino, admitidas na clínica de cardiologia apresentando dor no peito, entre janeiro de 2014 e agosto de 2016. Os crit rios de inclusão foram mulheres pós-menopausa com idade igual ou maior que 50 anos, diagnosticada com síndrome coronária aguda ou DAC crônica. O diagnóstico foi realizado por história de angina pectoris ou infarto do miocárdio, achados eletrocardiográficos, enzimas cardíacas, e resultados de angiografia coronariana. Essas pacientes submeteram-se a uma densitometria óssea de rotina nos 12 meses antecedentes ao estudo, e não estavam tomando nenhuma medica ão com efeito conhecido no turnover ósseo. Os crit rios de exclusão foram: pacientes com angiografia coronariana normal, pacientes com doen a valvar moderada ou grave, pacientes com insuficiência cardíaca descompensada, doen a renal ou hepática grave, doen a maligna, doen as hematológicas ou doen a autoimune. Características clínicas e exame laboratorial Foram aferidos peso e altura de cada paciente elegível. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado pela fórmula peso/altura 2 (kg/m 2 ). Informa ões sobre história de doen as (diabetes, hipertensão e hiperlipidemia) foram coletadas utilizando-se um questionário padrão. Hipertensão foi definida como história de hipertensão e/ou pressão arterial sistólica (PAS) média ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) média ≥ 90 mmHg em pelo menos duas ocasiões diferentes. Diabetes foi definido como história ou presen a de diabetes e/ou glicemia de jejum >126 mg/dL em duas ocasiões diferentes, ou uma ou mais medidas de glicemia aleatória >200 mg/dL. Hipercolesterolemia foi definida como nível de colesterol total > 240 mg/dL. Níveis s ricos elevados de triglicerídeos (TG) e colesterol LDL (c-LDL) foram definidos como TG > 200 mg/dL e c-LDL > 160 mg/dL, respectivamente. Medida da DMO As participantes haviam se submetido à medida da DMO do colo do fêmur por absor ão de raios-X de dupla energia (DXA) utilizando-se o aparelho QDR 4500A com tecnologia fan beam (feixe em leque) (Bedford, MA, EUA) no período de 12 meses anterior ao estudo. Os resultados da DMO foram expressos em escore T, o qual foi categorizado em três grupos segundo crit rios da Organiza ão Mundial da Saúde para o diagnóstico de osteoporose: DMO normal (escore T ≥ -1 DP); osteopenia (T < -1 DP e > -2,5 DP); e osteoporose (T-score ≤ -2,5 SD). 11 Escore de Gensini A angiografia coronariana foi realizada em todas as participantes. Escore de Gensini: 1 ponto para estenose de 0 a 25% da art ria na angiografia; 2 pontos para estenose de 25% a 50%; 4 pontos para estenose de 50% a 75%; 8 pontos para estenose de 75% a 90%; 16 pontos para estenose de 90% a 99%; 32 pontos para oclusão total. Um fator multiplicador foi atribuído a cada segmento vascular com base na importância funcional da área do miocárdio suprida por esse segmento: 5 para a art ria coronária esquerda; 2,5 para o segmento proximal da art ria coronária descendente anterior esquerda (DAE) e segmento proximal da art ria circunflexa; 1,5 para o segmento medial da DAE; 1,0 para a art ria coronária direita, segmento distal da DAE, região medial-distal da art ria circunflexa, art ria posterior lateral, e art ria marginal obtusa; e 0,5 para outros segmentos. 12 As avalia ões angiográficas foram revisadas por consenso de dois observadores commais de dois anos de experiência. Com base no escore Gensini, as pacientes foram divididas em dois grupos – 37 pacientes no grupo com lesões coronárias leves (escore de Gensini < 25) e 85 pacientes no grupo com lesões coronárias graves (escore de Gensini ≥ 25); essa classificação estava compatível com a literatura. 13 212

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