ABC | Volume 110, Nº3, Março 2018

Editorial Oliveira e Ferreira Febre amarela e doença cardiovascular Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):207-210 Pacientes com insuficiência cardíaca constituem outro grupo cuja abordagem poderá necessitar de condutas diferenciadas no contexto da FA. A terapia de suporte em pacientes com quadros moderados a graves depende em grande parte da manuten ão de um estado hemodinâmico adequado atrav s de hidrata ão oral ou venosa, eventuais transfusões de hemoderivados e at mesmo o uso de aminas vasoativas. Nesse cenário, o equilíbrio hemodinâmico deverá ser constantemente reavaliado e ajustado de forma criteriosa, com eventual monitoriza ão invasiva em quadros mais extremos, pois são pacientes com grande sensibilidade a pequenas varia ões de volemia. Al m disso, a manuten ão de medicamentos frequentemente utilizados no tratamento crônico da insuficiência cardíaca, como diur ticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e betabloqueadores, tamb m poderá dificultar o manejo clínico. Assim, em quadros de moderada gravidade, sem hemorragias, comprometimento hemodinâmico, renal ou respiratório, sugerimos a manuten ão apenas dos betabloqueadores, preferencialmente na mesma dose habitual. Esses deverão ser evitados inteiramente nos quadros definidos como graves, onde a possibilidade de deteriora ão clínica maior. Essa recomenda ão baseia-se na demonstra ão pr via de que a suspensão ou redu ão desses medicamentos na insuficiência cardíaca mostrou-se delet ria Figura 1 – Algoritmo sugerido para o manejo de antiplaquetários em pacientes com implante de stents coronarianos há menos de 12 meses e febre amarela sem sinais de sangramento ativo ou discrasia. AAS: ácido acetilsalicílico. Febre amarela em pacientes com stents coronarionos há ≤ 12 meses Implante há < 3 meses Implante há ≥ 3 meses Plaquetas > 50 mil/mm 3 Plaquetas > 50 mil/mm 3 Plaquetas 30-50 mil/mm 3 Plaquetas 30-50 mil/mm 3 Plaquetas < 30 mil/mm 3 Plaquetas < 30 mil/mm 3 Manter AAS e inibidor P2Y12, com contagem diária de plaquetas PRECISE-DAPT PRECISE-DAPT Suspender AAS e inibidor P2Y12, com contagem diária de plaquetas em ambiente hospitalar Manter somente AAS, com contagem diária de plaquetas em ambiente hospitalar Suspender AAS e inibidor P2Y12, com contagem diária de plaquetas em ambiente hospitalar < 25 pontos < 25 pontos ≥ 25 pontos ≥ 25 pontos Manter AAS e inibidor P2Y12, com contagem diária de plaquetas em ambiente hospitalar Manter somente AAS, com contagem diária de plaquetas em ambiente hospitalar Manter AAS e inibidor P2Y12, com contagem diária de plaquetas Manter somente AAS, com contagem diária de plaquetas em outras situa ões de agudiza ão clínica. 18 Assim como os diur ticos e inibidores da ECA, as estatinas tamb m deverão ser evitadas mesmo em quadros moderados, principalmente devido ao seu potencial efeito hepatotóxico. Por último, a vacina ão para FA não deve ser contraindicada isoladamente pela presen a de uma cardiopatia de base, mesmo em pacientes com infarto pr vio e/ou insuficiência cardíaca. Os crit rios nesse grupo de pacientes seguem os mesmos padrões já recomendados pelo Minist rio da Saúde, indicando-se a vacina ão preferencialmente quando há uma alta probabilidade de exposi ão ao vírus e um baixo risco de efeitos adversos. 14 No contexto de doen as cardíacas, apenas pacientes já submetidos a transplante não devem ser vacinados, por utilizarem cronicamente medica ões imunossupressoras. Existe uma necessidade crescente de estudos mais detalhados que avaliem como as arboviroses e doen as cardiovasculares interagem tanto do ponto de vista individual quanto epidemiológico. Ainda assim, o controle ineficaz dessas epidemias está claramente relacionado a deficiências socioeconômicas e carências no processo de planejamento ambiental e urbano, sobretudo em países em desenvolvimento. Talvez a combina ão desses fatores constitua o ponto de interse ão para onde os investimentos e as pesquisas devam ser priorizados. 209

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