ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo de Revisão Treinamento Intervalado de Alta Intensidade em Transplantados de Coração: Uma Revisão Sistemática com Meta-Análise High-Intensity Interval Training in Heart Transplant Recipients: A Systematic Review with Meta-Analysis Raphael José Perrier-Melo, 1 Fernando Augusto Marinho dos Santos Figueira, 2 Guilherme Veiga Guimarães, 3 Manoel da Cunha Costa 4 Universidade de Pernambuco (UPE); 1 Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, 2 Recife, PE; Universidade de São Paulo, 3 São Paulo, SP; Universidade de Pernambuco (UPE), 4 Recife, PE – Brasil Palavras-chave Exercício; Insuficiência Cardíaca/fisiopatologia; Estilo de Vida; Reabilitação Cardíaca; Transplante de Coração; Metanalise como Assunto. Correspondência: Raphael José Perrier-Melo • Escola Superior de Educação Física Rua Arnóbio Marques, 310, Recife, PE – Brasil E-mail: perrierprof@gmail.com , rperrier2@gmail.com Artigo recebido em 29/05/2017, revisado em 11/08/2017, aceito em 14/09/2017 DOI: 10.5935/abc.20180017 Resumo O transplante de coração é considerado procedimento eficiente e padrão ouro para pacientes com quadro de insuficiência cardíaca terminal. Verifica-se que após o procedimento cirúrgico os pacientes apresentam menor valor de potência aeróbia (VO 2 máx) e respostas hemodinâmicas descompensadas. O objetivo do presente estudo foi de verificar por meio de uma revisão sistemática com meta-análise se o treinamento intervalado de alta intensidade é capaz de proporcionar benefícios a tais capacidades. Trata-se de uma revisão sistemática com meta-análise, que realizou buscas em pares nas bases e portais de dados PubMed, Web of Science, Scopus, Science Direct e Wiley até dezembro de 2016. Para busca dos artigos utilizaram-se os termos e descritores: “ heart recipient ” OR “ heart transplant recipient ” OR ” heart transplant ” OR “ cardiac transplant ” OR “ heart graft ”. Os descritores pelo DeCS e Mesh foram: “ heart transplantation ’’ OR “ cardiac transplantation ”. As palavras utilizadas em combinação (AND) foram “ exercise training ” OR “ interval training ” OR “ high intensity interval training ” OR “ high intensity training ” OR “ anaerobic training ” OR “ intermittent training ” OR “ sprint training ”. A busca inicial identificou 1064 estudos. Em seguida, apenas os estudos que analisaram a influência do treinamento intervalado de alta intensidade no período pós transplante foram adicionados, sendo, assim, três estudos analisados. O nível adotado nas análises estatísticas para determinar significância foi de 0,05. Verificou-se que, entre 8 e 12 semanas de intervenção, os pacientes transplantados de coração apresentaram melhoras significativas em VO 2 pico, frequência cardíaca e pressão arterial pico. Introdução O transplante de coração (TC) é considerado o tratamento padrão ouro para pacientes com insuficiência cardíaca refratária à terapêutica clínica e/ou procedimento intervencionista. 1,2 Atualmente a técnica em utilização nos centros de cirurgia é a bicaval, que consiste na denervação do coração por meio da dissecação completa da aurícula direita e do septo interauricular, mantendo pequena porção da aurícula esquerda contendo as veias pulmonares. 3 A principal vantagem dessa técnica em comparação às outras é a preservação da geometria atrial, menor gradiente transpulmonar e menor incidência de insuficiência tricúspide no momento pós-cirúrgico. 4 A denervação cardíaca faz com que o controle cardiorrespiratório (consumo máximo de oxigênio - VO 2 máx) e hemodinâmico (frequência cardíaca - FC, débito cardíaco - DC e pressão arterial – PA) seja dependente inicialmente do mecanismo Frank-Starling (lei da pré-carga dependente do retorno venoso) e posteriormente das concentrações de catecolaminas circulantes e da fração de ejeção, devido à ausência da estimulação simpática e parassimpática e pelo barorreflexo. 5–7 Com isso, os pacientes transplantados apresentam menor valor de VO 2 máx (cerca de 70-80% do valor previsto para idade em relação a seus pares saudáveis), 8 elevados níveis de FC, PA e resistência vascular em repouso. Já em situações de exercício físico verifica-se aumento deprimido da FC e PA, acompanhado com aumento da resistência vascular. 9 Tal comportamento mantém-se semelhante em condições de esforços submáximos e próximos ao pico, causando uma FC pico (FCpico) e PA pico (PApico) menor, apresentando baixa reprodutibilidade com o VO 2 pico. Além disso, há uma recuperação lenta pós-exercício quando comparados com indivíduos da mesma idade saudáveis. 10,11 As alterações fisiológicas citadas anteriormente e a terapia imunossupressora geram prejuízos cardiorrespiratórios e hemodinâmicos ao longo do tempo, e frequentemente os receptores desenvolvem doenças como: hipertensão arterial sistêmica (95%), hiperlipidemia (81%), vasculopatia (50%), insuficiência renal (33%) e diabetes mellitus tipo 2 (32%). 12,13 Nesse sentido, os programas de reabilitação cardíaca são recomendados desde as primeiras diretrizes desenvolvidas pelo American Heart Association e American College of Sports Medicine . O principal objetivo desses programas é restaurar as atividades diárias e mudar o estilo de vida dos pacientes, a partir do somatório de atividades capazes de melhorar a condição física, psicológica e social. Tais atividades devem ser realizadas de maneira estruturada e contínua, focando o desenvolvimento das principais variáveis deficitárias no paciente. 14 A atual diretriz recomenda que parte da reabilitação cardíaca deve ser composta pelo treinamento físico, incorporando de três a cinco sessões semanais de exercícios com característica contínua (caminhada, trote, pedalada), atingindo nível de intensidade leve a moderada, 188

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=