ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo Original Rodrigues et al Práticas em Cintilografia de Perfusão Miocárdica Arq Bras Cardiol. 2018; 110(2):175-180 da radiação residual nas imagens posteriores no protocolo de um dia. 17 Nesse, respeitando-se o intervalo mínimo de três horas entre as fases, há a necessidade de se utilizar uma dose três vezes maior em relação à dose da primeira etapa, e para evitar esse artefato, que pode levar à redução da carga isquêmica ou até a falsos-negativos. 16 Estudos recentes têm apontado que protocolos com doses ultrabaixas de sestamibi (5 mCi) no estresse podem ser ainda mais adequados para evitar esse artefato. 17 A AIEA sugeriu um limite de 36 mCi de Tc-99m como o máximo de atividade a ser administrada em uma única injeção; 7 entretanto, metade dos SMN analisados utiliza atividades acima desse limiar. Esses limites normalmente são ultrapassados quando o paciente possui um peso corporal elevado, sendo a melhor estratégia para esses pacientes a realização da CPM no protocolo de dois dias, eliminando assim, a necessidade de triplicar a dose, resultando em menor exposição à radiação e maior qualidade de imagem. 10 O ajuste de dose por peso do paciente consta nas normas da CNEN e deve ser adotado como regra. 18 Mesmo assim, quase metade dos SMN avaliados ainda não aderiu de modo rotineiro a essa prática, perdendo uma oportunidade de melhoria. O objetivo desse ajuste é utilizar doses de radiação condizentes com o peso e a taxa de atenuação corporal envolvida em cada paciente, evitando a superexposição ou uma exposição insuficiente, levando a um exame de baixa qualidade. 19 Estratégias de redução de doses também foram levadas em consideração. Existem hardwares de alta tecnologia, como as câmaras de CZT, 20,21 que fornecem alta resolução de imagem e aparelhos híbridos, como o SPECT-CT, que podem eliminar atenuação de partes moles, 22 porém ainda não estão amplamente disponíveis. Uma estratégia que pode ser utilizada sem custos adicionais para os que não dispõem de correção de atenuação é a posição prona durante a aquisição da fase de estresse da CPM. Com o paciente deitado em decúbito ventral reduz-se a atenuação diafragmática e a sua interferência nas imagens. 23,24 Muitos SMN afirmam que a utilizam, porém, só pode ser considerada estratégia de redução de dose, se a fase única de estresse for uma prática adotada em conjunto, pelo SMN. Quando o paciente realiza a CPM na posição prona, verifica-se que a fase de estresse possui perfusão de aspecto normal e contratilidade preservada, devendo-se, mesmo assim, encaminhar o paciente para a segunda etapa. Não houve nenhuma redução de dose durante esse processo. O IQ, de uma forma geral, mostrou-se significativamente maior nas instituições de cunho acadêmico. Já foi demonstrado, em 2010, que as CPM dentro de hospitais universitários possuíam indicações muito mais apropriadas e precisas. 25 Os SMN que promovem pesquisas, passam por uma constante busca por conhecimento, fazendo com que esse tipo de instituição esteja sempre a par de estudos recentes e de qualquer nova recomendação internacional de maneira muito rápida, contribuindo para estar sempre um passo à frente. Outro achado considerável e até então não mencionado na literatura foi o IQ significativamente mais elevado em instituições que possuem equipe multiprofissional completa, desde a equipe médica até a equipe assistencial composta por físicos, enfermeiros, farmacêuticos e biomédicos (pelo menos um de cada especialidade). Dessa forma, o SMN que conta com profissionais de diversas áreas tem uma melhoria do cuidado do paciente através da soma em múltiplos domínios do conhecimento. O presente estudo possui algumas limitações, onde a mais evidente é que o questionário foi autoadministrado, o que atribui ao respondente o grau de confiabilidade do levantamento. Apesar de ser uma amostragem aleatória, a maior parte dos respondentes estava situada nas regiões sul e sudeste do país. Conclusão Nosso estudo avaliou a adoção de boas práticas nos exames de medicina nuclear cardiológica em SMN no Brasil. Apesar de a taxa de resposta ao questionário ter sido de apenas 16% do total de SMN em atividade e não representar uma amostragem probabilística, é a maior coleta de dados sobre as práticas da medicina nuclear em cardiologia no Brasil até o momento. Encontramos que a taxa de adoção de boas práticas, mensurada através do IQ, é heterogênea e revela oportunidades de melhoria. Cerca de um quinto dos participantes já atingiu a excelência, sendo essa mais frequente em SNM acadêmicos e naqueles com equipe multidisciplinar completa. Demonstramos que a adoção das boas práticas dos exames de medicina nuclear em cardiologia pelos SMN avaliados no Brasil é equivalente à dos demais países da América Latina, Ásia e também da América do Norte, sendo, porém, inferior às taxas observadas no restante dos continentes. Há uma oportunidade de melhorias sem aumento de custos. Para tanto, intervenções educacionais incentivadoras devem ser adotadas para fortalecimento da especialidade em nosso país. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa, Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Rodrigues CVB, Oliveira A, Wiefels CC, Leão MS, Mesquita CT; Obtenção de dados: Rodrigues CVB; Rodrigues CVB, Oliveira A, Wiefels CC, Leão MS, Mesquita CT; Análise estatística: Rodrigues CVB, Oliveira A, Mesquita CT; Obtenção de financiamento: Rodrigues CVB; Redação do manuscrito: Rodrigues CVB, Mesquita CT. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo CAPES. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Carlos Vitor Braga Rodrigues pela Universidade Federal Fluminense. 179

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