ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo Original Rodrigues et al Práticas em Cintilografia de Perfusão Miocárdica Arq Bras Cardiol. 2018; 110(2):175-180 consequentemente, 3) não utilização de atividades elevadas de Tl-201; que foram praticadas por todos os 63 SMN da amostra. Em contrapartida, a boa prática menos adotada foi a utilização da fase única de estresse, que foi assinalada em cerca de apenas 6% dos SMN. Discussão A AIEA tem se dedicado à promoção de boas práticas em cardiologia nuclear e empreendeu o maior levantamento sobre os exames cardiológicos até o momento, através de um estudo transversal de abrangência global denominado de INCAPS, onde foi observado que a aplicação das boas práticas em SMN é bastante heterogênea entre os continentes. Os SMN na Ásia e na América Latina foramos que apresentaram as piores performances, com menos de um quarto dos SMN atingindo IQ desejado (≥ 6 boas práticas). 7 Pouco se sabe até o momento sobre a situação dos SMN no Brasil, sendo que a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), após este levantamento, preocupada com a prática qualificada, foi uma das primeiras entidades a endossar a adoção das boas práticas em suas diretrizes, tendo em vista a busca contínua pela redução da exposição (otimização) à radiação. 10 A cintilografia com Tl-201 tem características físicas desfavoráveis, como baixa taxa de contagens, meia-vida física elevada e está associada a maior dose de radiação absorvida, sendo considerada como segunda opção em relação ao Tc‑99m-sestamibi. A utilização do Tl‑201 segue uma estreita recomendação para estudos de viabilidade miocárdica, porém com os novos equipamentos com detectores de alta eficiência, Tabela 2 – Comparativos das médias da quantidade de cintilografias de perfusão miocárdica realizadas nos 63 serviços de medicina nuclear N Média Mediana Desvio padrão Valor de p Quantidade de cintilografia por mês ≥ 6 Boas Práticas 13 298 280 230 0,043* < 6 Boas Práticas 50 186 120 304 *Teste U de Mann-Whitney Tabela 3 – Frequência (%) de adoção de cada uma das boas práticas nos serviços de medicina nuclear no Brasil, 2016 Boas Práticas Brasil A 63 (100) B 63 (100) C 27 (42,86) D 63 (100) E 4 (6,35) F 12 (19,05) G 33 (52,38) H 41 (65,08) A: Evitar protocolo tálio-estresse; B: Evitar protocolo duplo-isótopo; C: Evitar atividades elevadas de Tc-99m; D: Evitar atividades elevadas de Tl-201; E: Realizar “Stress-Only”; F: Utilizar estratégias centradas na redução de doses; G: Atividades baseadas no peso do paciente; H: Evitar atividades inapropriadas que possam gerar artefato “shine-through”. há um renovado interesse em protocolos de duplo-isótopo ultrarrápidos, que permitam utilizar doses baixas e tenham a conveniência da realização do exame completo em menos de 30 minutos. 11 Observamos no nosso estudo que 100% dos SMN avaliados não utilizam Tl-201 ou duplo-isótopo como protocolo preferencial, o que traduz uma boa prática que se associa também com a questão financeira, tendo em vista o menor custo do Tc-99m-sestamibi e a facilidade na sua utilização, que envolve a marcação de um kit medicamentoso. Por isso, atualmente os protocolos tradicionais de um ou dois dias ainda são predominantes. Em contrapartida, a boa prática de menor adoção pelos SMN no nosso trabalho foi o uso da fase única de estresse. 12 Chang et al., 13 em 2010, demonstraram que é segura a realização de uma única fase de estresse, sem o repouso, nos exames normais do ponto de vista perfusional e da função contrátil, o que facilita a dinâmica do SMN e reduziu em 61% o uso de radiofármacos e a exposição à radiação. Gowd et al., 14 listaram as limitações à sua ampla adoção, como a não familiaridade com a avaliação de apenas uma fase, a necessidade de processamento de imagens imediatamente após a sua aquisição e as questões referentes ao reembolso, tendo em vista que porção significativa do exame é remunerada com a fase de repouso. Oliveira et al., 15 foram os primeiros a abordar o uso desse protocolo no Brasil, porém a experiência ainda é inicial. Para um exame acurado é importante o emprego de doses de radiação adequadas, evitando o fenômeno de “ shine-through ”. 16 Cerca de um terço dos SMN avaliados ainda administram doses que podem permitir a interferência 178

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