ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo Original Amaral et al Controle autonômico e vascular em pré-hipertensos Arq Bras Cardiol. 2018; 110(2):166-174 Introdução A prevenção primária tem sido recomendada para os indivíduos com risco aumentado para desenvolver hipertensão arterial sistêmica (HAS). Dentre eles se destacam aqueles indivíduos que tem histórico familiar de HAS (HFHAS) 1,2 e/ou pré-hipertensão. 3 A razão para a maior suscetibilidade dos descendentes de hipertensos para desenvolver HAS não está completamente elucidada. Entretanto, estudos apontam que anormalidades autonômicas, tais como o aumento da modulação simpática, 4 a redução da variabilidade da frequência cardíaca 4 e a diminuição da sensibilidade barorreflexa 5 estão entre as alterações que podem contribuir para o desencadeamento da HAS em normotensos filhos de hipertensos. Adicionalmente, anormalidades vasculares também têm sido consideradas candidatas potenciais para o surgimento da HAS nessa população. 6,7 Em pré-hipertensos, de modo semelhante aos indivíduos comHFHAS, as disfunções autonômica 8,9 e vascular 10 também têm sido apontadas como os principais fatores etiológicos da elevação pressórica. Embora a pré-hipertensão tenha uma forte predisposição genética, 11,12 os mecanismos fisiopatológicos responsáveis pela elevação pressórica em indivíduos com ambos os fatores de risco, ou seja, pré-hipertensão e HFHAS, ainda não são conhecidos. Sendo assim, este estudo teve como objetivo avaliar as funções autonômica e vascular de indivíduos pré‑hipertensos comHFHAS. Métodos Amostra A partir do cálculo amostral realizado com base na diferença da modulação simpática cardíaca de 0,31 ms² entre as médias dos grupos normotenso e pré-hipertenso, 13 desvio-padrão de 0,21 ms², erros alfa de 5% e beta de 20%, seriam necessários 7 indivíduos em cada grupo. A amostra foi constituída por 25 voluntários, subdivididos de acordo aos níveis pressóricos nos grupos normotenso (PAS < 121 mmHg e/ou PAD < 80 mmHg; n = 14) e pré-hipertenso (PAS entre 121 e 139 mmHg e/ou PAD entre 80 e 89 mmHg; n = 11). 14 Todos os voluntários tinham HFHAS definido como pai, mãe ou ambos com diagnóstico de HAS, o qual foi avaliado por meio de questionário. Como critérios de inclusão foram adotados idade entre 18 e 40 anos, PASmenor que 140mmHg, PADmenor que 90mmHg e não estar envolvido em exercícios físicos sistematizados há, no mínimo, seis meses prévios à pesquisa. Além disso, foram incluídos apenas os voluntários que possuíam resultados de exames laboratoriais de sangue em seu prontuário médico realizados, no máximo, 30 dias antes do início da pesquisa. Indivíduos com doenças cardiometabólicas, tabagistas ou em tratamento com drogas que pudessem interferir no sistema cardiovascular não foram incluídos. Este estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa Humana do HU/UFJF sob o parecer nº 720/370. Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Medidas e procedimentos Antropometria Para as medidas de massa corporal e estatura foram utilizados, respectivamente, balança com precisão de 0,1 kg e estadiômetro escalonado com precisão de 0,5 cm acoplado à mesma (Líder ® ). O índice de massa corporal foi calculado dividindo-se a massa corporal pela estatura ao quadrado (kg/m²). 15 A circunferência da cintura foi mensurada utilizando-se uma fita métrica inextensível (Cescorf ® ), com precisão de 0,1 cm. Todas essas variáveis acima foram aferidas segundo os critérios estabelecidos pelo American College of Sports Medicine. 16 Pressãoarterial, frequênciacardíacae frequência respiratória Com o voluntário em posição supina e em repouso, foram monitorados simultaneamente a pressão arterial (PA), a frequência cardíaca e a frequência respiratória durante 15 minutos. A PA batimento a batimento foi monitorada por fotopletismografia infravermelha digital (FinometerPRO ® ) no braço dominante do voluntário. As frequências cardíaca e respiratória foram registradas continuamente (Biopac ® ) utilizando eletrocardiograma na derivação II e cinta piezoelétrica torácica, respectivamente. Todos os sinais aquisitados foram reconstruídos, digitalizados e gravados emmicrocomputador com frequência de amostragem de 1 kHz e resolução de 16 bits para posterior realização da análise. Fluxo sanguíneo muscular do antebraço e condutância vascular durante repouso e hiperemia reativa O fluxo sanguíneo muscular do antebraço foi avaliado utilizando pletismografia de oclusão venosa (Pletismógrafo Hokanson ® ). O voluntário foi posicionado em decúbito dorsal e o antebraço não dominante foi elevado acima do nível do coração para garantir adequada drenagem venosa. Um tubo silástico preenchido commercúrio, conectado ao transdutor de baixa pressão e ao pletismógrafo, foi colocado ao redor do antebraço do voluntário, a cinco centímetros de distância da articulação úmero-radial. Um manguito foi posicionado ao redor do punho e outro na parte superior do braço do voluntário. O manguito posicionado no punho foi insuflado a nível pressórico supra sistólico (200 mmHg) um minuto antes do início das medidas e foi mantido insuflado durante todo o procedimento. Em intervalos de 15 segundos, o manguito posicionado no braço foi insuflado a nível pressórico supra venoso (60 mmHg) pelo período de sete a oito segundos, em seguida foi desinsuflado rapidamente e mantido pelo mesmo período. Esse procedimento totalizou quatro ciclos por minuto. O aumento da tensão no tubo silástico refletiu o aumento de volume do antebraço e, consequentemente, de forma indireta, o aumento do fluxo sanguíneo muscular do antebraço, reportado em ml/min/100 ml. O sinal da onda de fluxo sanguíneo muscular do antebraço foi adquirido em tempo real, em um computador, por meio do programa Non Invasive Vascular Program 3 . 167

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