ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo Original Gripp et al Acurácia do strain longitudinal global para cardiotoxicidade Arq Bras Cardiol. 2018; 110(2):140-150 clínica. Todas as pacientes fizeram uso de antracíclicos. Em duas pacientes (40%) que evoluíram com cardiotoxicidade, o trastuzumab foi associado ao esquema antineoplásico. As características basais das pacientes que evoluíram com cardiotoxicidade estão reportadas na Tabela 2. Descrição dos parâmetros ecocardiográficos As médias das variáveis ecocardiográficas das pacientes com e sem cardiotoxicidade estão descritas na Tabela 3. No 3° mês, a média do SLG do VE, assim como a sua diferença em relação ao basal foram significativamente maiores no grupo com cardiotoxicidade. Apesar de a FE do 3 o mês ser diferente entre os grupos, sua diferença em relação ao basal não apresentou esse comportamento. No 6 o mês, ocorre queda significativa da FE e SLG do VE, além de alterações de onda S do VE e E/E’. A Tabela 4 descreve os cinco casos de cardiotoxicidade. Quando avaliada a redução percentual do SLG do VE, do basal em relação ao 3º mês entre pacientes com e sem cardiotoxicidade, percebemos uma nítida diferença entre os dois grupos, conforme demonstrado na Figura 2A. O mesmo comportamento não ocorreu quando avaliamos a redução percentual da FE no mesmo período, confirmando que essa última variável não é tão sensível quanto o SLG no diagnóstico de cardiotoxicidade conforme Figura 2B. Os strains da parede livre do VD e do VD foram adquiridos utilizando-se o mesmo software desenvolvido para análise do VE, e demostraram discretas alterações no 3° e 6° meses, não significativas e com subsequente normalização. No entanto, TAPSE e Doppler tecidual do anel tricuspídeo, medidas relacionadas ao VD, não se alteraram durante o seguimento. Preditores de cardiotoxicidade Com o objetivo de avaliar a associação de cada variável ecocardiográfica com o desfecho de cardiotoxicidade, foi realizada análise de regressão de Cox (Tabela 5). As variáveis que tiveram p ≤ 0,05 na análise de regressão de Cox univariada foram para a análise multivariada de preditores independentes de cardiotoxicidade: FE pelo Simpson, o SLG do VE do 3°mês, volume de átrio esquerdo e análise da função diastólica. Dois modelos foram idealizados, separando as informações de volume atrial esquerdo e função diastólica, pois as duas variáveis expressam informação similar, podendo ser interpretadas no conceito de colinearidade. Somente SLG do VE no 3 o mês permaneceu como preditor independente de cardiotoxicidade, mantendo uma associação estatisticamente significativa nos modelos multivariados, mesmo quando as variáveis selecionadas na regressão univariada foram testadas duas a duas. Curvas ROC para predição de cardiotoxicidade pelo SLG do VE Para definição do ponto de corte do valor absoluto do SLG do VE no 3 o mês com a melhor acurácia para prever cardiotoxicidade no 6 o mês, foi construída uma curva ROC (Figura 3A). O valor do SLG do VE de -16,6 apresentou sensibilidade de 80% e especificidade de 95% para prever a cardiotoxicidade no 6 o mês. De forma similar, uma segunda curva ROC foi construída para definir o ponto de corte de maior acurácia para redução percentual do SLG do VE capaz de prever cardiotoxicidade (Figura 3B). O valor de -14% apresentou sensibilidade de 80% e especificidade de 99% para esse diagnóstico. A acurácia da queda percentual de 14% do SLG ( strain do 3° mês em relação ao basal) foi avaliada através de sua sensibilidade e sua especificidade, com valores de 100% e 93%, respectivamente. Discussão Os resultados do presente estudo demonstram que o SLG do VE é um excelente preditor de cardiotoxicidade em nossa população, com elevada eficácia para seu diagnóstico precoce. Perfil de morbidade da população estudada O perfil de morbidade de nossa população foi considerado baixo. A incidência dos fatores de risco que poderiam estar relacionados com o desfecho cardiotoxicidade foi muito pequena, não sendo possível demonstrar associação estatisticamente significativa. Esse perfil difere de outros estudos, onde há casos de tabagismo, uso prévio de quimioterápicos, relato de radioterapia, alémdemaior frequência de hipertensão artéria sistêmica e diabetes mellitus. 14,15 O perfil de baixa morbidade pode ser associado com menor incidência de cardiotoxicidade avaliada em nossa população. Os maiores Figura 1 – Gráficos de Bland-Altman demonstrando análise interobservador do strain longitudinal global (SLG) do ventrículo esquerdo, strain do ventrículo direito e da parede livre do ventrículo direito (PLVD) em A, B e C, respectivamente. 2,00 1,00 ,00 –1,00 –2,00 A B C –22,50 –20,00 –20,00 –20,00 –25,00 –25,00 –30,00 –30,00 –35,00 –17,50 –15,00 –15,00 –15,00 –12,50 MédiadoSL2DdoVE interobservador Médiado Strain doVD Médiado Strain doPLVD DiferençanasmedidasdoSL2DdoVE 2,00 1,00 ,00 –1,00 –2,00 –3,00 2,00 ,00 –2,00 –4,00 DiferençadasMedidasdo Strain doVD DiferençadaMédiado Strain daPLVD 144

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