ABC | Volume 110, Nº2, Fevereiro 2018

Artigo Original Soeiro et al TSH versus SCA Arq Bras Cardiol. 2018; 110(2):113-118 (≥ 68,3 ng/dL) exibiu um envolvimento transmural significativamente maior (realce tardio transmural > 75% após administração de gadolinio) do que aquele com nível baixo de triiodotironina (60% vs. 15%, p = 0,003). Entretanto, não houve significativa diferença entre os grupos com níveis altos e baixos de TSH e tiroxina livre. Ao se estabelecer o ponto de corte para triiodotironina em 68,3 ng/dL usando a curva receiver operating characteristic, a sensibilidade foi de 80% e a especificidade de 68% para diferenciar entre presença e ausência de envolvimento transmural. 19 Friberg et al., 20 descreveram a possibilidade de rápida diminuição da atividade dos hormônios tireoidianos em pacientes com IAM. Estudaram prospectivamente 47 pacientes eutireoideos consecutivos com IAMdurante os 5 primeiros dias, e novamente 6 e 12 semanas após o IAM. Observaram que o sistema tireoidiano rapidamente apresentava diminuição de atividade com mudanças máximas aparecendo 24 a 36 horas após início dos sintomas. Os níveis de TSH diminuíram 51% (p < 0,001) nas primeiras 6 horas e no período de 24 a 36 horas. Além disso, descreveram uma forte relação entre inflamação (níveis altos de proteína C reativa e de citocina interleucina 6) e uma maior redução da atividade do sistema tireoidiano. Por outro lado, os ECAM foram altos nos pacientes com a mais pronunciada diminuição de TSH, indicando que a redução da atividade observada após o IAM possa ser inadaptação. Níveis mais baixos de TSHmedidos no quinto dia apresentaram significativa correlação com a mortalidade emum ano (1,0 mUI/L vs. 1,6 mUI/L, p = 0,04, para pacientes mortos e sobreviventes respectivamente). 20 Tal diferença dos nossos resultados pode dever-se ao fato de que não avaliamos os níveis de TSH no primeiro e no quinto dias após SCA. Além disso, a nossa análise apenas da amostra inicial à admissão hospitalar não foi realizada naquele estudo. Outro estudo investigou-se mudanças nos níveis plasmáticos de hormônio tireoidiano estavamassociadas coma recuperação da função cardíaca em pacientes com IAM. Tal estudo incluiu 47 pacientes com IAM e terapia de reperfusão precoce. A função cardíaca foi avaliada com ecocardiografia; fração de ejeção ventricular esquerda e recuperação da função foram avaliadas 48 horas e 6 meses após IAM. Observou‑se forte correlação entre recuperação da função e níveis totais de triiodotironina (r = 0,64, p = 10-6) 6 meses após IAM. Ademais, a análise multivariada com regressão revelou ser a triiodotironina aos 6 meses um determinante independente da recuperação da função ventricular. Os níveis de TSH não diferiram significativamente entre os dois grupos (com e sem recuperação da função ventricular) durante a fase aguda do infarto do miocárdio, mas, aos 6 meses, os níveis de TSH eram significativamente mais altos no grupo sem recuperação da função em comparação àquele com melhor recuperação da função ventricular (2.9 vs. 1.46, p < 0,05). 21 Um estudo publicado em 2016 avaliou uma coorte prospectiva de 3 anos com 2430 pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea 'com' versus 'sem' hipotireoidismo. Os autores relataram um maior número de ECAM (infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, revascularização) nos pacientes com hipotireoidismo ou TSH > 5,0 mUI/L (HR = 1,28, p = 0,0001). 22 Tais achados foram similares aos nossos, mas avaliaram prognóstico de longo prazo. Entretanto, a associação com pior prognóstico foi a mesma, incluindo nível similar de TSH descrito. Em resumo, diferentes estudos mostraram uma relação entre prognóstico e o nível dos hormônios tireoidianos na SCA. Entretanto, o melhor ponto de corte, o momento ideal para avaliar os níveis de TSH, e as mudanças esperadas após SCA não são conhecidos. Ao combinar nossos resultados com outros da literatura, postulamos que o nível de TSH na admissão hospitalar poderia ser útil e que o prognóstico é pior se os níveis de TSH são altos nessa ocasião. Além disso, incluir a avaliação de outros hormônios tireoidianos poderia auxiliar. Limitações Este estudo apresentou limitações, como o pequeno tamanho da amostra avaliada. Além disso, não medimos outros hormônios tireoidianos. Trata-se ainda de estudo retrospectivo e o grupo com os níveis mais altos de TSH apresentaram as piores características basais, como os mais altos níveis de troponina e a mais baixa fração de ejeção. Entretanto, trata-se de observação original e nova, requerendo estudos prospectivos adicionais. Conclusão Em pacientes com SCA e TSH > 4 mUI/L à admissão hospitalar, observou-se pior prognóstico, associado à maior frequência de ECAM intra-hospitalares, choque cardiogênico e sangramentos. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Soeiro AM, Araújo VA, Vella JP, Oliveira Junior MT; Obtenção de dados: Soeiro AM, Araújo VA, Vella JP, Bossa AS, Biselli B, Leal TCAT, SoeiroMCFA; Análise e interpretação dos dados: Soeiro AM; Análise estatística: Soeiro AM, Bossa AS; Redação do manuscrito: Soeiro AM, Araújo VA, Vella JP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Soeiro AM, Soeiro MCFA, Serrano Jr. CV, Mueller C, Oliveira Junior MT. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Não há vinculação deste estudo a programas de pós‑graduação. Aprovação Ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da CAPPesq sob o número de protocolo 38511114700000068. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 117

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=