ABC | Volume 110, Nº1, Janeiro 2018

Artigo Original Liporaci et al Efeitos do tilt test em indivíduos saudáveis Arq Bras Cardiol. 2018; 110(1):74-83 pelos gastrocnêmios, concorda com a teoria “climbing hill” de manutenção do equilíbrio, cuja idéia é que um músculo contrai quando é tensionado e diminui sua atividade quando perde esta tensão. 24 Assim, para o tornozelo, com o deslocamento do centro de pressão aumentando ao longo do tempo, aumenta a atividade das musculaturas anteriores e posteriores ao tornozelo. Em nosso contexto, o gastrocnêmio medial apresentou um aumento da atividade eletromiográfica concomitante a um aumento no deslocamento total e velocidade média de deslocamento total. Isto também ocorreu para o músculo tibial anterior, que, mesmo não sendo analisado o sentido do deslocamento pelo presente estudo, sugere que, tanto GM quanto TA podem seguir esta mesma tendência documentada por Gatev et al. 23 Se levarmos em conta que as alterações cardiovasculares se deram com maior relevância também ao redor deste tempo, durante o período em que as MVs foram realizadas, podemos verificar assim uma relação sugerindo que esta MV pode ter produzido um stress não só hemodinâmico, mas com repercussão na oscilação do corpo, que pode resultar em incremento da atividade muscular com intuito de manter o equilibro ortostático e hemodinâmico, o que, em pessoas com síncope, onde a falha do da bomba de retorno venoso pode estar presente, a esta oscilação poderia ser ainda maior até surgirem ou sintomas pré-sincope ou mesmo a sincope propriamente dita. Claydon e Hainsworth, 25 verificaram que mudanças cardiovasculares causam uma perturbação ortostática que altera o movimento dos membros inferiores para adequada compensação, relatando que, pacientes com síncope postural, a falha muscular ao compensar o pobre controle reflexo da circulação, com o aumento balanço postural, pode contribuir para os episódios de desmaios, concordando com nossas ideias a respeito do papel muscular e sua relação com o deslocamento do centro de pressão do corpo. Conclusões Os resultados do trabalho, nas condições experimentais utilizadas, nos permitem concordar com nossas hipóteses iniciais, pois demonstramos que, durante a manobra postural ativa, a oscilação postural e a atividade elétrica dos músculos associados à manutenção da postura revelaram uma mudança progressiva do padrão de resposta das variáveis biomecânicas assim como das variáveis cardíacas, no decorrer do teste, amplificadas pelas manobras de Valsalva intervaladas, sendo que, para a manobra postural passiva, a participação qualitativa e quantitativa muscular foi diferente. Limitações do estudo Pode-se atribuir à pesquisa algumas limitações. O número de participantes pode ter sido um fator limitante para que as alterações encontradas pudessem ter uma magnitude ainda maior. A raiz do problema quanto ao número de participantes está no desenho do estudo relativamente complexo, que submetia o voluntário a duas sessões de testes com tempo de aproximadamente duas horas por teste, em dias diferentes. Ademais, foi estipulado o uso de voluntárias sem qualquer histórico de síncopes, o que dificulta a inclusão de um número maior de indivíduos dentro do cronograma de execução do estudo, visto que boa parte da população já experimentou alguma síncope, todavia, na tentativa de homogeneizar as respostas frente aos testes e dar mais consistência aos resultados, optou-se por selecionar voluntárias sem histórico de desmaios. Foi acompanhada as oscilações da pressão arterial sistêmica através de esfigmomanômetro manual. A avaliação da pressão arterial aferidas continuamente através do uso do Monitor de Pressão Arterial Finapress, marca Ohmeda, Denver, Colorado, seria interessante, pois este equipamento mede a pressão arterial e a freqüência cardíaca continuamente. Todavia, nosso equipamento Finapress por motivos técnicos ficou impossibilitado seu uso já durante as coletas-piloto, fazendo‑nos trabalhar com dispositivos de análise menos precisos e por este motivo os dados da pressão arterial não foram inseridos no presente artigo. Implicações clínicas e estudos futuros O presente estudo procura sedimentar uma proposta de testes para o diagnóstico da síncope neurocardiogênica que demandem um menor tempo de exposição do paciente ao exame, aumentando o número de pacientes que podem ser examinados por período, ao mesmo tempo em que analisa um teste que não necessite de mesa ortostática, visto que nem todas as clínicas cardiológicas possuem uma destas à sua disposição. Estudos que comparem estes protocolos ativo e passivo em indivíduos com sincope neurocardiogênica é o próximo passo essencial para entendermos se estas alterações encontradas em indivíduos saudáveis serão provocadoras da síncope, antes de oferecermos estes protocolos aqui analisados definitivamente como alternativa para estudo da SNC à comunidade profissional de interesse. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Liporaci RF, Saad MC, Credência JC, Marques F, Bevilaqua-Grossi D, Gallo-Júnior L; Obtenção de dados: Liporaci RF, SaadMC, Credência JC; Análise e interpretação dos dados: Liporaci RF, Saad MC; Redação do manuscrito: Liporaci RF; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Liporaci RF, Marques F, Bevilaqua-Grossi D, Gallo-Júnior L. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo CNPq. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Rogerio Ferreira Liporaci pela Universidade de São Paulo. 82

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