ABC | Volume 110, Nº1, Janeiro 2018

Ponto de Vista Déficit Cognitivo na Insuficiência Cardíaca e os Benefícios da Atividade Física Aeróbia Cognitive Deficit in Heart Failure and the Benefits of Aerobic Physical Activity Maria Luíza de Medeiros Rêgo, Daniel Aranha Rego Cabral, Eduardo Bodnariuc Fontes Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); NeuroEx, Natal, RN – Brasil Correspondência: Maria Luíza de Medeiros Rêgo • Rua Raimundo Chaves, 1652, F5. CEP 59064-390, Candelária, Natal, RN – Brasil E-mail: marialuizamedeirosr@gmail.com, eduardobfontes@gmail.com Artigo recebido em 17/06/2017, revisado em 30/08/2017, aceito em 25/09/2017 Palavras-chave Insuficiência Cardíaca; Indicadores de Morbimortalidade; Cognição; Exercício. DOI: 10.5935/abc.20180002 Resumo A Insuficiência Cardíaca é uma síndrome clínica prevalente em todo o mundo e de grande contribuição para a morbimortalidade de cardiopatas no Brasil. Além disso, tal patologia é fortemente relacionada à disfunção cerebral, sendo constatada alta prevalência de comprometimento cognitivo. Muitos mecanismos podem ser relacionados à perda cognitiva, como hipoperfusão cerebral, atrofia e perda de massa cinzenta do cérebro e, ainda, disfunção do sistema nervoso autônomo. A literatura é clara quanto aos benefícios da atividade física aeróbia em populações saudáveis na modulação do sistema nervoso autônomo e nas funções cerebrais. Na população de insuficientes cardíacos, estudos demonstram que o exercício é associado à melhora na função cognitiva, assim como na regulação autonômica cardíaca. Entretanto, pouca ênfase foi dada aos mecanismos pelos quais a atividade física aeróbia pode beneficiar o funcionamento cerebral, o sistema nervoso autônomo e repercutir em um melhor desempenho cognitivo, particularmente em pacientes com insuficiência cardíaca. Dessa forma, o presente trabalho apresenta as vias pelas quais áreas cerebrais responsáveis pela cognição atuam também na modulação do sistema nervoso autônomo, e ressalta sua importância para o entendimento do comprometimento cognitivo frente à fisiopatologia da insuficiência cardíaca. É descrito ainda omodo pelo qual a atividade física aeróbia pode promover benefícios quando integrado à terapêutica, associada a um melhor prognóstico do quadro clínico desses pacientes. A insuficiência Cardíaca (IC) é responsável por cerca de 50% de todas as internações hospitalares que ocorrem na América do Sul 1 e é uma das causas mais frequente de hospitalização por doenças cardiovasculares. 2 Além da direta influência no controle autonômico cardíaco, a IC é fortemente relacionada à presença de disfunção cerebral e comprometimento cognitivo, acometendo cerca de 75% dessa população. 3 Esse déficit cognitivo está associado às funções executivas, incluindo dificuldades no planejamento e execução das ações, baixa capacidade de resolução de problemas e de inibição de comportamentos. 4 Na prática, isso é traduzido como menor capacidade de realizar atividades do cotidiano como compras, alimentação e locomoção – incluindo a deambulação - além de relacionar-se commenores níveis de autocuidado, maiores índices de hospitalizações, aumento de gastos com as mais frequentes entradas nos hospitais e, por fim, há um aumento da morbimortalidade nessa patologia. Nesse sentido, diversos tratamentos são realizados com intuito de amenizar os efeitos deletérios causados pela IC. Contudo, esses tratamentos, quase sempre envolvem procedimentos invasivos e/ou medicamentosos como transplante de coração, dispositivo de assistência do ventrículo esquerdo, betabloqueadores, antagonistas de aldosterona e inibidores da enzima conversora de angiotensina. Todos esses fármacos, apesar de terem resultados benéficos comprovados, podem desenvolver diversos tipos de efeitos colaterais como insuficiência renal e hiperpotassemia. 2 Nesse sentido, o exercício físico tem sido apontado como uma importante ferramenta auxiliar no tratamento de pacientes com IC, no entanto, pouco tem sido tratado sobre seus benefícios à função cerebral. No presente trabalho, são apresentadas as vias pelas quais o córtex pré-frontal (CPF) está intimamente ligado à regulação do controle autonômico cardíaco e ressalta sua influência sobre o comprometimento cognitivo em pacientes com IC. Além disso, é descrito como a prática regular de atividade física pode promover benefícios à função cerebral e desempenho cognitivo nessa população, além da contribuição sobre o controle autonômico cardíaco já amplamente descrito. Buscando a gênese desse problema, muitos mecanismos podem ser relacionados à perda cognitiva, como hipoperfusão cerebral, atrofia e perda de massa cinzenta do cérebro, bem como disfunção do sistema nervoso autônomo (SNA). 5 Um estudo com neuroimagem em pacientes CF II constatou que os indivíduos portadores dessa síndrome tinham prejuízo em diversas áreas cerebrais como o hipocampo(conversão de memória de curto prazo emmemória de longo prazo), núcleo caudado (modulação de movimentos corporais), CPF (funções executivas: tomada de decisão, planejamento, controle inibitório) e hipotálamo, áreas fundamentais em processos cognitivos e controle autonômico. 5 Nessa perspectiva, vale ressaltar a existência de um recente modelo fisiopatológico do declínio cognitivo nessa população, o qual afirma que um conjunto de fatores como hipoperfusão, hipóxia, aumento de citocinas inflamatórias, doenças tromboembólicas e anormalidades hemodinâmicas podem levar à atrofia de massa cerebral, gerando déficits cognitivos. 6 Outro ponto importante a ser ressaltado sobre a fisiopatologia imposta pela IC é a severa disfunção no SNA, caracterizada pelo aumento do tônus simpático e diminuição do parassimpático 7 podendo 91

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